Neste mês de agosto de 2024, Santa Cruz do Rio Pardo relembra os 61 anos de uma das maiores tragédias de sua história. No dia 15 de agosto de 1963, um acidente envolvendo uma Kombi e um caminhão FNM tirou a vida de dez torcedores da Associação Esportiva Santacruzense. Esse episódio, eternizado nas páginas do jornal "Debate" pelo jornalista Sérgio Fleury Moraes, deixou marcas profundas que resistem ao tempo.
A tragédia ocorreu em um momento que deveria ser de alegria e celebração. A Santacruzense estava prestes a conquistar o campeonato Paulista da Segunda Divisão, e o jogo contra o Cerâmica em São Caetano do Sul era crucial. Muitos torcedores se mobilizaram para acompanhar o time, incluindo os dez que embarcaram na Kombi organizada por João Simão Ávila.
A viagem terminou em tragédia no quilômetro 191 da rodovia Raposo Tavares. Um caminhão FNM, em alta velocidade e realizando ultrapassagens imprudentes, colidiu frontalmente com a Kombi. O impacto foi devastador, matando todos os ocupantes instantaneamente. As vítimas foram José Biondo, João Simão Ávila, Adelmo Antonio Morandim, Sergio Sartorato, José Cardoso, Otorimo Sartorato, Luiz Andrade, Adalberto Manzo, Antonio Benedito de Andrade e José Carlos de Andrade.
A notícia da tragédia demorou a chegar a Santa Cruz do Rio Pardo devido à falta de tecnologia da época. Enquanto isso, em São Caetano, os dirigentes da Esportiva Santacruzense decidiram não informar os jogadores até o final do jogo, que foi vencido pela equipe por 1x0. A decisão, embora difícil, visava manter a concentração do time, que uma semana depois conquistaria o título da Segunda Divisão com uma vitória sobre o Ituverava.
A repercussão do acidente foi enorme. O então prefeito Onofre Rosa de Oliveira decretou luto oficial, e a cidade viveu um dos maiores funerais de sua história. Milhares de pessoas acompanharam os dez caixões até o Cemitério da Saudade, onde um monumento foi erguido em homenagem aos torcedores.
A tragédia também gerou inúmeras histórias e lendas. Ao longo dos anos, Sérgio Fleury Moraes revisitou o episódio em diversas reportagens, mantendo viva a memória das vítimas e sua repercussão ao longo das décadas seguintes. Em uma dessas matérias, moradores de Santa Cruz revelaram pressentimentos que os fizeram desistir da viagem na última hora, como Alziro Cândido de Oliveira, que, por um mal pressentimento, decidiu não viajar e sobreviveu. Depois do acidente, o nome de Alziro chegou a figurar na primeira lista de mortos, inclusive num “santinho” impresso no mesmo dia, que ele guardou como sinal de renascimento, segundo reportagem do Debate. Quando soube da tragédia, Alziro teve uma crise nervosa e precisou ser medicado.
Outros, como José Lorenzetti, cederam seus lugares na Kombi a amigos, escapando da morte por coincidência.
Hoje, 61 anos depois, a dor ainda ressoa entre os familiares e amigos das vítimas. A lembrança dos torcedores que partiram prematuramente é carregada de saudade.
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