Nos últimos anos, reforma comercial tornou-se sinônimo de cobrir fachadas com ACM. A moda, deprimente, anti-histórica e de mau gosto, já tomou conta das cidades brasileiras e não mostra sinais de retração. Seja em edifícios consagrados, construções da primeira metade do século XX ou caixotes baratos que as construtoras e investidores entregam hoje em dia, o ACM (Aluminum Composite Material) está lá, recobrindo qualquer resquício de arquitetura.
Seja por comodismo dos comerciantes apressados em inaugurar ou revitalizar seu ponto, seja pela insistência da indústria e de seu lobby predador, a solução acaba sendo a primeira escolha dos mal-informados de plantão. Fazem-na sem considerar suas consequências a longo prazo. Um edifício não é efêmero, as construções em alvenaria duram ao menos 100 anos. Colocar um “tapume” publicitário sobre elas será mesmo a melhor maneira de honrá-las?
Entristeceu-me muito quando o belíssimo edifício do antigo Banco Mercantil, em estilo eclético, deu lugar à pele plastificada que encobre quase a totalidade da famigerada Casas Bahia. Sem mencionar os tenebrosos azulejos que revestem as paredes que sobreviveram ao ataque mercadológico. Mas este não é um caso isolado na cidade, região, estado ou país.
Essa banalização e simplificação das escolhas desconsidera o contexto sociocultural e acaba por pasteurizar nossas cidades. O interior paulista, desbravado desde o século XVII e consolidado com mais intensidade na segunda metade do XIX, era marcado por características únicas em suas construções, sobretudo aquelas adjacentes aos centros das vilas (posteriormente emancipadas). Hoje, com a vitória capitalista, na qual tempo é dinheiro e apenas dinheiro importa, quanto mais rápida a obra, melhor para o interessado. Mesmo que isso signifique sacrificar nossa paisagem urbana.
A consequência é o apagamento acelerado do legado histórico construído por gerações. Sem manutenção e ignorando a importância de construir Cidade e não apenas visar o lucro, nossos edifícios complexos dão lugar a fachadas brilhantes, com mega logotipos iluminados por LEDs. E idênticas. Encerrando em tom ainda mais pessimista, sinto salientar que, infelizmente, as construções infestadas por ACM ainda têm sorte: o destino de outras menos afortunadas foi a demolição.
*A opnião dos nossos colunistas não refletem, necessariamente, a opnião do jornal página d.
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