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Cidades Mascaradas

Coluna do Franco

15/08/2024 às 17h56 Atualizada em 15/08/2024 às 17h59
Por: Colunas Fonte: Franco Catalano
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Foto de fundo: designboom/ pinterest
Foto de fundo: designboom/ pinterest

Nos últimos anos, reforma comercial tornou-se sinônimo de cobrir fachadas com ACM. A moda, deprimente, anti-histórica e de mau gosto, já tomou conta das cidades brasileiras e não mostra sinais de retração. Seja em edifícios consagrados, construções da primeira metade do século XX ou caixotes baratos que as construtoras e investidores entregam hoje em dia, o ACM (Aluminum Composite Material) está lá, recobrindo qualquer resquício de arquitetura.

Seja por comodismo dos comerciantes apressados em inaugurar ou revitalizar seu ponto, seja pela insistência da indústria e de seu lobby predador, a solução acaba sendo a primeira escolha dos mal-informados de plantão. Fazem-na sem considerar suas consequências a longo prazo. Um edifício não é efêmero, as construções em alvenaria duram ao menos 100 anos. Colocar um “tapume” publicitário sobre elas será mesmo a melhor maneira de honrá-las?

Entristeceu-me muito quando o belíssimo edifício do antigo Banco Mercantil, em estilo eclético, deu lugar à pele plastificada que encobre quase a totalidade da famigerada Casas Bahia. Sem mencionar os tenebrosos azulejos que revestem as paredes que sobreviveram ao ataque mercadológico. Mas este não é um caso isolado na cidade, região, estado ou país.

Essa banalização e simplificação das escolhas desconsidera o contexto sociocultural e acaba por pasteurizar nossas cidades. O interior paulista, desbravado desde o século XVII e consolidado com mais intensidade na segunda metade do XIX, era marcado por características únicas em suas construções, sobretudo aquelas adjacentes aos centros das vilas (posteriormente emancipadas). Hoje, com a vitória capitalista, na qual tempo é dinheiro e apenas dinheiro importa, quanto mais rápida a obra, melhor para o interessado. Mesmo que isso signifique sacrificar nossa paisagem urbana.

A consequência é o apagamento acelerado do legado histórico construído por gerações. Sem manutenção e ignorando a importância de construir Cidade e não apenas visar o lucro, nossos edifícios complexos dão lugar a fachadas brilhantes, com mega logotipos iluminados por LEDs. E idênticas. Encerrando em tom ainda mais pessimista, sinto salientar que, infelizmente, as construções infestadas por ACM ainda têm sorte: o destino de outras menos afortunadas foi a demolição.

 

*A opnião dos nossos colunistas não refletem, necessariamente, a opnião do jornal página d.

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Franco Catalano
Sobre o blog/coluna
Franco Catalano é santacruzense, Arquiteto Urbanista pela UEL, com graduação sanduíche em Madri (CEU-USP, 2015) pelo Ciência sem Fronteiras, com ênfase em História da Arquitetura, Patrimônio Histórico e Artes Visuais. É Conselheiro Estadual do CAU/PR, Diretor Institucional da ACIL Jovem e membro do grupo Novo Centro (Londrina-PR). Atuou durante três gestões no Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo da UEL, foi professor em cursinhos solidários em Londrina. Assinou uma coluna de arte, cultura e cotidiano no Jornal Debate de 2020 a 2023. Em 2020, foi premiado com o 3° lugar no Prêmio CURA - Museu da Democracia. Atua em escritório próprio (Estúdio Bolha Arquitetura e Interiores) desde 2017, especializado em retrofit de edifícios verticais e projetos residenciais e comerciais.
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