A vinicultura na Espanha passou por altos e baixos nos últimos 200 anos. Somente entre meados das décadas de 70 e 80 é que foi substituída a ideia de produzir grandes volumes pela produção de vinhos de qualidade. No início da década de 90, o todo-poderoso crítico de vinhos, Robert Parker, ao comentar sobre os dez melhores vinhos espanhóis que havia analisado, indicou que a maioria era de uma região praticamente desconhecida do mundo: Priorat, ou Priorato em português, cujos vinhos passaram a ficar debaixo dos holofotes.
Não pense que o Priorato começou a produzir vinhos há somente trinta ou quarenta anos. Nada disso! Há registros de que por volta do ano 1100, monges procuravam um local afastado para fundar um mosteiro e foram para o nordeste da Espanha, na Catalunha, onde ficaram sabendo da lenda de um pastor de ovelhas da região que dizia que em determinado lugar havia uma escada em que os anjos subiam da terra para o céu para levar as orações dos homens.
Os monges não tiveram dúvida: adquiriram as terras e começaram o mosteiro “Scala Dei”, isto é, Escada de Deus. Esta, inclusive, é a logomarca dos Vinhos do Priorato. Os monges plantaram videiras para atender à necessidade de vinho para a Liturgia da Santa Missa e várias vilas foram surgindo nas imediações. O monge-chefe do mosteiro é chamado de Prior e toda a região sobre a qual se estende sua autoridade é seu Priorado, daí o nome da região: Priorato.
Sua posição geográfica é bastante singular, situa-se nas encostas íngremes das montanhas da Serra de Montsant, que oferecem condições únicas para o cultivo de videiras, impedindo chuvas em excesso, entre 400 a 600 mm por ano. Esta região está localizada a sudoeste de Barcelona e a noroeste de Tarragona. A maioria dos vinhedos está nos sopés da serra, em verdadeiras ribanceiras, com inclinação de até 60°.
O clima no Priorato é continental com influências mediterrâneas; isto é, os verões são quentes e secos, enquanto os invernos são frios. As vinhas são plantadas principalmente em solos muito pedregosos de ardósia vermelha e quartzo, que é chamado de solo llicorella, uma formação geológica característica da região. Esses solos oferecem boa drenagem e incentivam as raízes das vinhas a buscar profundidade para alcançarem água e nutrientes, o que é crucial dado o clima seco. A inclinação e o solo pedregoso impedem a mecanização e aumentam os custos de produção, o que justifica os preços acima da média.
Outro grande diferencial do Priorato são as vinhas velhas de Garnacha e Cariñena. Quando, no final da década de 80, chegaram os pioneiros responsáveis pela revitalização do Priorato, encontraram vinhas velhas centenárias abandonadas. Mas, conseguiram recuperá-las. A vinha velha precisa de muito cuidado e apresenta rendimentos muito baixos; às vezes, produz somente 1 kg de uva por videira, o que é muito pouco, e essa situação também encarece os vinhos. Mas vale a pena, pois vinhos de vinha velha do Priorato apresentam grande concentração, são carnudos e complexos.
Eu provei o vinho Camins del Priorato, safra 2021, elaborado por um dos pioneiros, Alvaro Palacios, com as duas principais uvas da região, que são Garnacha e Cariñena. Também entram no blend Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah. Tem 14,5% de álcool e maturou em torno de 6 meses em barricas e tonéis. Para saber mais sobre este vinho intenso e encorpado, assista o vídeo abaixo onde faço a degustação e explico tudo sobre o Priorato.
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