Na região do bairro da Estação, em Santa Cruz do Rio Pardo, não há quem não conheça José Inácio Godoy Neto, também chamado de “Zé Baixinho” ou simplesmente Seu Godoy. Aos 91 anos, ele mantém viva a tradição de tintureiro, profissão que exerce há mais de seis décadas. Seu Godoy resiste bravamente em um ofício que está praticamente extinto, seja pelo consumismo da modernidade que tornou as roupas objetos descartáveis ou mesmo pela tecnologia das máquinas de lavar domésticas.
Nascido no Ribeirão dos Cuba, bairro rural de Santa Cruz do Rio Pardo, Seu Godoy começou a trabalhar como tintureiro ainda jovem e solteiro, quando decidiu deixar a vida no campo em busca de novas oportunidades. “Eu trabalhava no sítio, mas aí mudei para a cidade e comecei a trabalhar com lavanderia”, relembra Godoy.
Ele ingressou em uma lavanderia, onde rapidamente se destacou. “O dono da lavanderia disse que eu já estava sabendo, nem precisava de ensinar”, conta Godoy, com um sorriso modesto no rosto. E foi assim, na prática, que aprendeu o ofício ao qual se dedicaria por toda a vida.
Com o tempo, o tintureiro se estabeleceu e abriu sua própria lavanderia, que, por muitos anos, funcionou em diferentes locais da cidade. Ao longo dos anos, Seu Godoy se tornou uma figura conhecida e respeitada em Santa Cruz, não apenas pelo trabalho impecável, mas também pelo cuidado e carinho com que tratava as roupas de seus clientes.
Sua esposa, Ivanilda Andrade Godoy, de 75 anos, sempre esteve ao seu lado, primeiro como costureira e, posteriormente, ajudando no trabalho da lavanderia. “Eu costurei vários anos, mas depois larguei para ajudar ele na tinturaria”, explica dona Ivanilda, que hoje, além de ajudar nas tarefas diárias, é responsável pelas entregas. Excelente motorista, ela pilota o carro da família para levar as roupas para os clientes e também em viagens a passeio. “Já faz mais de 40 anos que eu dirijo. Já fui várias vezes até o Paraná, mas agora estamos mais quietos por aqui”, comenta ela, orgulhosa.
A tinturaria do Seu Godoy resistiu ao tempo e à modernização dos serviços de lavanderia, que se tornaram cada vez mais automatizados. Ele e sua esposa ainda preferem o método tradicional, onde as roupas são lavadas e passadas manualmente. “Antigamente, era tudo na mão. Hoje tem máquina para tudo, mas a gente ainda faz do jeito antigo, com mais cuidado”, comenta.
Uma curiosidade que reflete o cuidado com o serviço, é o uso da água da chuva para preservar os ferros de passar. “A água da chuva não deixa o ferro estragar por dentro porque não tem cloro. A gente coa a água antes de usar, para garantir que está limpa, sem sujeiras”, revela dona Ivanilda.
Com uma clientela fiel, que inclui figuras conhecidas da cidade, como o promotor aposentado Dr. Paulo Cecatto, os médicos Dr. Mário e Dr. Isaías, Seu Godoy continua sua jornada junto com a esposa.
“Hoje em dia, a maioria das pessoas lava a roupa em casa, mas ainda tem quem prefira o nosso serviço, que é feito com muito cuidado”, afirma Ivanilda.
Apesar de já estarem aposentados, o casal continua trabalhando, tanto por necessidade quanto por amor ao que fazem. “Hoje é muito difícil as coisas, e o medicamento é caro. A gente faz o que dá, mas também porque gostamos”, conclui Zé Baixinho, enquanto se prepara para mais um dia de trabalho, na mesma rotina que ele segue há mais de 60 anos.
Na era das máquinas e da pressa, Seu Godói e dona Ivanilda representam um reduto de uma época em que o toque humano fazia toda a diferença. E enquanto houver roupas para lavar e passar, o tintureiro Zé Baixinho continuará sendo uma presença marcante no bairro da Estação, em Santa Cruz do Rio Pardo.
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