A esperança, diz aquele ditado, é a última que morre. É mentira. A minha se esvaiu assim que a médica responsável pela UTI me contou que naquele dia seus órgãos já paravam de funcionar. Era questão de tempo. A notícia viria menos de 24 horas depois.
A morte de meu pai Sérgio Fleury Moraes completa seis meses nesta sexta-feira (23) e ainda assim parece que foi ontem. O homem enérgico, cuja indignação fazia questão de mostrar sempre que necessário - e sempre foi necessário -, nos deixou já faz meio ano.
Impossível esquecer um de seus últimos pedidos, um jornal, que não pôde ser atendido porque na tarde daquele domingo já não havia bancas abertas em Santa Cruz e os demais pontos de venda do município abandonaram a comercialização dos jornalões.
Hoje, consigo imaginar, a inauguração deste página d veio para evitar que problemas assim aconteçam.
São coisas dos novos tempos, esses tempos dos quais meu pai sempre se queixava. Não pela rapidez das informações, todas compulsivamente por ele devoradas, mas pelo adoecimento visível de uma sociedade.
“As pessoas deixaram de ler” ou “não acredito que essa pessoa está divulgando notícia falsa”, por exemplo, eram declarações rotineiras que espectadores de sua rotina presenciavam. Há seis meses já não escuto isso, mas daria tudo para ouvir de novo pelo menos mais uma vez.
A minha esperança morreu antes da última hora. A de meu pai se manteve até o instante final. Seu legado também assim o será.
Mín. 15° Máx. 28°