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A vaidade e o jumento

Coluna do João Ferreira

29/08/2024 às 01h51 Atualizada em 29/08/2024 às 17h13
Por: Colunas Fonte: João Gabriel Ferreira Lemos
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Foto de fundo: A.J.Souza/ Wikimedia CC
Foto de fundo: A.J.Souza/ Wikimedia CC

“A atividade dos demônios se intromete, para encher as almas humanas de vaidade ou de falsidade, na adivinhação fundada numa opinião falsa ou vã”.

“A soberba precede a ruína e o orgulho, à queda” (Provérbios 16:18).

As assertivas acima, extraídas, respectivamente, da Suma Teleológica, de Santo Tomás de Aquino, e da Bíblia, são alertas para os políticos nesses tempos de eleições.

A propaganda eleitoral está reforçando a inexistência de um espelho mágico na casa de quase todo político. “Espelho, espelho meu, existe alguém que fez mais coisas do que eu?”

Quase todos os políticos parecem ter esquecido a fábula pueril (mas nem tanto) da Branca de Neve, que não serve apenas para crianças, mas para todos.

Para relembrar, a vaidade aprisiona a Rainha Má e a falta dela liberta a Branca de Neve. Aquela primeira atenta contra a vida ao contratar um assassino para eliminar sua “adversária” em beleza; a fugitiva exercita, humilde, diversas tarefas básicas e cotidianas no ambiente que a acolheu quando em fuga.

Ora, a vaidade é filha do orgulho, pecado mortal precedente na alma do ser humano (Santo Tomás de Aquino). E o orgulho obscurece a verdade e coloca o orgulhoso em uma névoa de mentiras, pois os verdadeiros defeitos da pessoa ficam acobertados pelo vil sentimento.

Na prática, a vaidade e o orgulho levam os políticos às mais espinhosas situações, tal como concorrer, em igualdade, com um jumento, para a obtenção de uma premiação.

Se para Narciso, tudo o que não é espelho, é feio (como diz o ditado), por que um (mau) político se furtaria da simplicidade do (auto) julgamento com tantos tapinhas fáceis nas costas em tempos de eleição? Orgulho. Vaidade. Soberba.

Jumentos reais e jumentos políticos não conseguem decifrar o código turvo da vaidade e tampouco se conformam com a mensagem crua do espelho mágico.

Importa, isto sim, matar a verdade, pois ela machuca mais que o reflexo deformado na própria percepção do vaidoso. 

Cabe ao (mau) político desarmar a armadilha da vaidade e trilhar pelo caminho da humildade antes que o vitupério lhe seja ardente. Ou faltará mata-burros para deter tanta gente.

 

Nelson Rodrigues 1

“A verdadeira apoteose é a vaia” (Nelson Rodrigues).

 

Nelson Rodrigues 2

Parafraseando Nelson Rodrigues, a vaidade ensurdece.

 

*Coluna publicada da edição impressa do dia 24 de agosto de 2024

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João Gabriel Ferreira Lemos
Sobre o blog/coluna
João Gabriel Ferreira Lemos é advogado. Mestre e Doutorando em Direito. Procurador jurídico municipal. Professor de Direito.
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