Cacareco foi um rinoceronte simpático, certamente um monstro sorridente como aquele que conquistou o coração da bela, de onde veio a fábula posta em interessante ópera sobre ‘’A Bela e o Monstro’’. Este rinoceronte era um habitante do Jardim Zoológico de São Paulo, alegria das crianças e admiração dos adultos. Morava no coração de todos e foi escolhido para protestar contrariamente ao esvaziamento político brasileiro durante as eleições, ainda nos anos de 1950 ou 1960, não se sabe.
Naquela época, o Governador de São Paulo não era um paraquedista inculto, que não sabe sequer onde fica Caporanga. Era a política de grandes líderes, como Jânio Quadros e Adhemar de Barros, dos quais alguns diziam que roubavam mas faziam, diferentemente de um outro Governador, que sem senso de humor, apropriou-se deste dístico para a hipnose do populismo predador de nossas receitas, que pulula neste imenso Brasil.
Jânio ou Adhemar, um não existiria sem o outro e em seus comícios, a que compareciam elegantemente trajados, um zombava do outro e as eleições eram um festival de risos, que atraia para alegria de toda a população, desde os milionários, os coronéis, até os carregadores de sacas de café que eram os operários da época, sempre usando ‘’come quieto’’ que fora uma sapatilha feita de brim grosso, com solas de trançados de corda pois que aqueles chamados homens pobres nem mesmo podiam comprar sapatos e em sua maioria, andavam descalços.
A industrialização já despontava e nós brasileiros sabíamos sorrir, no gingado de sambas que faziam as críticas políticas. Claro que existiam os mais malucos que por uma questão de senão político, mandavam bala nos adversários ou rompiam relações pessoais, mas eram poucos e não tantos quanto os brasileiros desta época de polarização. Havia o que se pode chamar de uma educação difusa entre os mais humildes e os mais requintados de todo povo.
Hoje você assiste candidatos a Prefeito da maior e mais civilizada cidade do Brasil, que não correspondem as nossas melhores tradições populares. Como um que destemperada e descontroladamente em sua proverbial má educação e agressividade, não se contém em enfrentar um maluco, que lhe exibe uma carteira de trabalho, a mentir fosse um trabalhador e de insuportável discurso.
Certamente são estes os novos cacarecos, que vicejam em um jardim de horrores, em que se transformou a política brasileira, a partir de um cara de pouco equilíbrio, que fez o Brasil retroceder a uma época de confronto desnecessário e radical, como fora 1964, fazendo-nos andar para trás e empalmando uma bandeira fascista, que é o pesadelo de nossos dias e um perigo para nossos descentes em um país de liberdade.
Cacareco, o rinoceronte, foi então eleito Vereador em São Paulo, não sei se o mais votado ou o com votação mais expressiva. Mas antes os cacarecos nos faziam sorrir; hoje nos fazem chorar e tremer. Uma piada muito triste.
*Coluna publicada da edição impressa do dia 24 de agosto de 2024
*A opnião dos nossos colunistas não refletem, necessariamente, a opnião do jornal página d.
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