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Corrupção e assassinato: a Apae no centro de um caso que chocou Bauru

Entidade assistencial vive a maior crise de imagem desde a sua fundação, com um ex-presidente preso e uma ex-secretária morta

04/09/2024 às 17h47
Por: Redação Fonte: Guilherme Matos e André Fleury Moraes - Colaboração para o página d
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Claudia Lobo foi vítima de homicídio e ocultação de cadáver | Foto: JC Bauru/ Reprodução
Claudia Lobo foi vítima de homicídio e ocultação de cadáver | Foto: JC Bauru/ Reprodução

Um carro abandonado, um envelope pardo e um vídeo de câmera de segurança. Esses foram os elementos responsáveis por iniciar um mistério em torno do desaparecimento de Claudia Regina Rocha Lobo, 55 anos, secretária executiva da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Bauru. 

O sumiço naquele dia 6 de agosto levantou especulações, mas o que as investigações da Polícia Civil mostraram foi ainda mais surpreendente do que quaisquer possibilidades levantadas nas mesas de bares bauruenses: um esquema, ao que tudo indica, de desvio de verbas de doações que culminou no assassinato de Claudia pelas mãos de Roberto Franceschetti Filho — o presidente da mesma entidade. É esta a versão da Polícia.

As últimas imagens de Claudia (até aquele momento) foram registradas às 14h57 do dia 6, quando ela deixou a sede administrativa da Apae carregando o envelope pardo e entrando em um carro modelo Spin branca. 

O vídeo mostra ela caminhando tranquilamente e entrando na porta do motorista do veículo. Ela não carregava celular, chaves ou bolsa e sua família procurou a polícia para registrar o desaparecimento naquele mesmo dia.

No dia seguinte, por volta das 11h da manhã, a Spin branca em que a mulher desapareceu foi encontrada na Vila Dutra, na Zona Oeste de Bauru. 

Investigadores revelaram quase nada naquele dia - apenas que foram encontrados "indícios relevantes" à investigação. Mais tarde, descobriria-se que se tratava de sangue, além de um estojo de calibre .380 deflagrado no interior do veículo.

Em 8 de agosto, o Jornal da Cidade publicou a matéria “Clima na Apae Bauru é de tristeza e preocupação, diz presidente”. A principal fonte, o próprio Franceschetti, adicionou requintes de frieza ao declarar para o repórter que: “estamos aqui aguardando que ela volte com bastante saúde”.

No dia seguinte a Civil decretou sigilo nas investigações do caso. A decisão provocou furor na imprensa, que não sabia da tentativa do próprio Franceschetti de manipular os rumos da investigação.

Quando os agentes divulgaram os detalhes da operação na última segunda-feira (26), descobriu-se que ele tentava forjar uma narrativa de que ela havia sido assassinada devido a uma confusa dívida com traficantes que envolvia seus familiares. 

Mas foi antes disso, em 15 de agosto, que o caso ganhou aspectos ainda mais instigantes. Franceschetti perguntou à polícia se poderia buscar equipamentos da Apae apreendidos. Ele foi até a delegacia e recebeu voz de prisão - já havia um mandado em seu desfavor àquela altura.

Franceschetti é o principal suspeito de ser autor do crime, agora tratado como homicídio e ocultação de cadáver. O corpo de Cláudia não foi localizado, mas fragmentos de ossos humanos em uma área de descarte da Apae e os óculos da mulher sim. Eles estavam na Zona rural de Iacanga em um buraco que queimou, segundo a polícia, por 4 dias. Um funcionário da entidade de confiança do ex-presidente confessou ter tentado queimar as evidências.

A motivação está relacionada com desvios de verbas na Apae. A polícia acredita que há anos o presidente e sua secretaria executiva têm embolsado parte do dinheiro da entidade, que atende cerca de quatro mil pessoas de Bauru e região e recebe verbas do governo federal, estadual e municipal. 

Os valores oriundos dos cofres públicos são auditáveis, daí a suspeita é de que os desvios ocorriam a partir dos cofres das doações. A polícia abriu novo inquérito para investigar os desvios de verbas e a Apae, por sua vez, instaurou sindicância interna, apesar de não ser muito colaborativa com a imprensa e se recusar a oferecer informações básicas (como o salário do presidente, por exemplo). Mais detalhes serão revelados conforme andarem as investigações.

 

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