Há poucas semanas, recebi uma indicação de leitura e decidi me arriscar. Tratava-se do livro “O Chamado Selvagem”, escrito pelo romancista Jack London no início do século passado e responsável por uma interessante lição de vida.
A obra tem como protagonista o cachorro Buck, vivendo ao Sol e à sombra junto a uma família de humanos em um rancho na Califórnia. Tudo muda quando ele acaba sequestrado e vendido para trabalhar na famigerada “corrida pelo ouro”, passando a puxar trenós com huskies em meio à congelante região norte da América.
Para sobreviver, Buck aos poucos precisa abrir mão de seus confortos e até mesmo de sua moralidade, já que não está mais imerso na tranquilidade de uma sociedade controlada. Com outros cães e sob as ordens de donos cruéis (a chamada “lei do porrete e da dentada”), precisa cuidar de si mesmo e se virar como pode; basicamente, precisa se desprender de toda a domesticação que o ser humano impôs aos cães através dos séculos.
Não vou me alongar no tema para não correr qualquer risco de passar algum “spoiler”, só achei interessante a mensagem da obra — não a da domesticação ou a do famoso “vale tudo”, mas a aplicação de algumas dessas ideias em nossas vidas em um sentido um pouco distinto.
Obviamente que também não pretendo criticar preceitos morais e menos ainda abrir mão deles. Sabemos o estrago que isso pode causar. Aliás, essa ideia do livro talvez seja melhor aplicada ao contexto dos presídios, onde a moralidade pode ser uma armadilha e os meios de coexistir são outros, vigorando a lei do mais forte e resistindo melhor aquele que se adapta.
Mas para quem está lúcido e na luta diária para evoluir, a mensagem do livro pode também indicar o grande valor do que viveram apenas nossos antepassados de longa data (nada a ver com constelações familiares. Deus me livre!), em meio à natureza e sem tantas complicações.
Para ser uma pessoa melhor, sempre falamos sobre estudar mais, ler mais, aprender mais, ser mais. Só que nessa correnteza sem fim, em outros aspectos, a felicidade pode se encontrar no menos. Temos muito realmente a aprender, mas nos ajudaríamos se desaprendêssemos um bocado de coisas.
*A opnião dos nossos colunistas não refletem, necessariamente, a opnião do jornal página d.
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