Muita gente ouve e repete: vinho velho é melhor! Mas será isso verdade? Como surgiu essa ideia de que vinho velho é melhor?
Dias atrás, degustei o “Vigneti di Campomaggio Chianti Classico Riserva”, DOCG, safra 1993, com 31 anos de idade, e vou contar como foi a experiência.
A noção de que vinho velho é melhor surgiu no passado. Por exemplo, os vinhos italianos, no século XIX e até meados do século XX, eram super extraídos e submetidos a uma longa fermentação, o que resultava em vinhos com taninos de alta intensidade. Vale lembrar que tanino é a substância que causa adstringência, aquela sensação de secura na boca. Assim eram produzidos os clássicos Barolo, no Piemonte, e o Brunello di Montalcino, na Toscana. Esses vinhos eram praticamente intragáveis logo após a produção e precisavam de uma longa maturação em grandes tonéis, chamados “botti”, por 15 a 20 anos para se tornarem degustáveis. Agora, imagine um vinho super estruturado que, após 30 anos de maturação, ficava excelente para os padrões da época. Foi daí que surgiu a noção de que vinho velho é melhor.
Por isso, Brunello e Barolo ganharam a fama de vinhos de guarda. Contudo, atualmente, com modernas técnicas de vinificação, esses vinhos podem ser apreciados mais cedo. Ainda assim, o Brunello só pode ser lançado no mercado após cinco anos de maturação, e o Barolo, após três anos. Continuam a existir vinhos que podem ser guardados e que realmente melhoram com o passar dos anos, mas esses chamados vinhos de guarda correspondem a apenas 5% dos vinhos produzidos atualmente. A maioria dos vinhos, ou seja, 95%, são pensados pelos enólogos para serem consumidos jovens, dentro de três a cinco anos. Os chamados vinhos jovens perdem suas características se guardados por mais tempo. Então, seja feliz e abra aquela garrafa que você tem guardada!
O que caracteriza um vinho de guarda não é apenas o fato de ele não perder suas características com o tempo. Mais do que suportar a passagem dos anos, o vinho de guarda melhora com a idade – é o que chamamos de evolução. Ele muda de cor, de aromas e de sabores. Por isso, quem já tem uma certa experiência no mundo do vinho ama os vinhos de guarda, com 15, 20, 30 anos. Mas o iniciante talvez ache estranho e possa não gostar, pois os aromas que em vinhos novos são de frutas frescas ou maduras, em vinhos envelhecidos são de frutas secas e até de castanhas, além de notas terrosas, de couro, tabaco, entre outras.
O vinho “Vigneti di Campomaggio Chianti Classico Riserva DOCG, 1993”, foi produzido pela centenária vinícola Castellani, com 100% de uvas Sangiovese, a rainha da Toscana, e passou 24 meses em barricas de carvalho. A cor, que outrora fora rubi, hoje está mais para granada devido à idade, e é quase translúcida. No nariz, entrega notas de frutas vermelhas secas, como cereja, groselha e ameixa, além de couro, tabaco, flores secas e ervas desidratadas. Na boca, é seco, com acidez próxima à alta, muito fresco, com taninos finos e agradáveis. Tem álcool médio (13%), bem integrado, e corpo médio. No final da boca, aparecem toques de eucalipto, cedro, louro e tabaco, com uma boa intensidade de fruta e um final tendendo ao longo. O "final" do vinho é o tempo que o sabor agradável permanece após ser engolido, e vinhos com final longo são considerados muito bons, exatamente como este.
Um Chianti Classico com essa idade é um ótimo acompanhamento para carnes vermelhas em geral, especialmente carnes de caça, cordeiro, pizzas e massas com molho de tomate. Quanto aos queijos, a indicação são os de massa dura, como Parmesão e Grana Padano.
Quer saber mais sobre este vinho e como foi a degustação? Assista:
*Coluna publicada da edição impressa do dia 07 de setembro
*A opnião dos nossos colunistas não refletem, necessariamente, a opnião do jornal página d.
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