Gleison Cerqueira Dias da Silva (39) tornou-se cabeleireiro quase que por acaso. Natural de Santa Cruz do Rio Pardo, ele se apaixonou pela profissão e hoje faz dela também sua ferramenta de trabalho social, como voluntário na APAE.
Desde cedo, Gleison foi inserido no mundo dos cabeleireiros por uma decisão estratégica de seu pai, Cláudio Dias da Silva, conhecido como "Bixiga". "Eu tinha 12 anos e fazia muita bagunça na rua", relembra Gleison. Para tirá-lo das ruas, Cláudio, com a melhor das intenções, inventou uma mentira ao filho: disse que ele ganharia dinheiro se fizesse um curso de cabeleireiro. Assim, Gleison ingressou no Instituto Magno Alves, sem saber que seu pai pagava pelas aulas. "Foi por acaso que entrei nessa profissão, mas hoje não me vejo fazendo outra coisa", confessa.
A família Dias da Silva sempre foi marcada pela união e pela presença forte de cada um de seus membros. A mãe de Gleison, Célia Cerqueira Dias, carinhosamente conhecida como "Baiana", é uma professora aposentada que, apesar dos anos, ainda se lembra dos nomes de seus alunos e seus pais. Juntos, Célia e Cláudio formaram uma família de quatro filhos: Glauber, Glaucia, Gledson e Gleison.
Entre esses filhos, Gledson, apelidado de "Cowboy", ocupou um lugar especial no coração de todos. Portador de síndrome de Down, Gledson era o xodó da casa. "Ele sempre foi uma eterna criança", diz Gleison. A relação de Gledson com a família era de amor incondicional. Gleison se recorda das vezes que levava o irmão a rodeios, mesmo não gostando, só para ver o sorriso estampado no rosto do "Cowboy". Gledson era um apaixonado por rodeios, mas, durante sua vida, gostava de mudar de estilo: cowboy, roqueiro, sempre se vestindo a caráter.
A morte de Gledson, há um ano e três meses, deixou uma marca profunda na família. "Meu pai sofreu muito com a perda dele", conta Gleison. O laço entre Cláudio e Gledson era indescritível. Quando Gledson faleceu, Cláudio mergulhou em uma tristeza profunda, da qual nunca se recuperou totalmente. "Meu pai meio que se entregou após a morte do meu irmão. Ele ficou tão triste que isso acabou afetando sua saúde", reflete Gleison. Cláudio faleceu há cerca de 20 dias, deixando uma lacuna ainda mais difícil de ser preenchida no coração da família.
Mesmo diante dessas perdas, Gleison encontra forças em sua profissão e no trabalho social que realiza na APAE, instituição que cuidou de Gledson durante sua vida. "Sempre vou lá, e é impressionante o carinho e o respeito com que tratam os alunos", destaca. Inspirado pelo irmão, Gleison dedica parte do seu tempo a cortes de cabelo gratuitos para os alunos da APAE, mantendo viva a memória de Gledson e honrando o legado de afeto e generosidade que aprendeu com ele.
Hoje, Gleison continua a trabalhar como cabeleireiro em seu próprio salão, no bairro Nagib Queiroz, onde atende homens e mulheres com a mesma paixão que descobriu ainda na adolescência. Ele é casado com Eliane e pai do Matheus.
Com o coração repleto de memórias e saudades, Gleison segue sua vida, mantendo aceso o amor pela família e a vontade de fazer o bem. "Aprendi muito com meu irmão. Ele me ensinou sobre a simplicidade, sobre não mentir e sobre sempre compartilhar o que temos", afirmou.
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