Em 26 de fevereiro de 1973, o Grupo Televisa transmitiu o primeiro episódio de um programa televisivo que viria a se tornar o queridinho dos mexicanos. “El Chavo del Ocho”, dirigido e estrelado por Roberto Gómez Bolaños — o grande Chespirito —, superou todas as expectativas e, em pouco tempo, rompeu as fronteiras do seu país e conquistou o mundo.
No Brasil, a primeira exibição ocorreu há 40 anos, em 24 de agosto de 1984, dia em que o telespectador pode assistir, no SBT, nosso amado Chaves pela primeira vez aprontando na Vila ao lado dos eternos Quico, Seu Madruga, Chiquinha, etc. De lá para cá, todas as gerações aprenderam e riram com o Chavinho, um personagem que tinha tudo para ser triste, mas sempre encontrou, mesmo na extrema pobreza, motivos para sorrir.
Órfão, sempre com fome e aparentemente sem um teto para dormir — o mistério de sua possível casa nunca será totalmente desvendado —, tudo o que ele tem é a roupa do corpo, o bom coração e o seu barril, que pode até não ser o seu lar, mas sempre figura como seu refúgio, um lugar de paz e tranquilidade onde não é afetado pelas mazelas do mundo. Não por acaso, sempre que está triste o pobre Chavinho se refugia em seu barril.
Esse simples objeto de madeira é, a meu ver, uma grande alegoria, das mais marcantes entre todos os programas televisivos já gravados. Sua simbologia transcende a ideia de “casa” que muitos aceitam de forma rasa, e provavelmente seja essa a razão de os roteiristas nunca terem explicado totalmente a questão, deixando-a permanecer no universo mais lúdico e aberto a fim de homenagear todos aqueles que aceitam a troca do “saber” pelo “sentir”.
Em resumo, numa realidade alternativa, Chaves poderia até mudar de vida, mas o barril sempre simbolizaria o seu passado e manteria sua história viva. Fosse um ser animado, o objeto seria seu melhor e mais leal companheiro; seu refúgio para enfrentar as tormentas e aquecer seu coração; seu conselheiro nos momentos de incertezas; seu confidente na alegria e na tristeza; seu porto seguro; um lembrete diário sobre o amor.
Eu não sou o Chaves e não enfrento as mesmas mazelas, mas compartilhamos algo em comum: tenho também um “barril” e o valorizo com o máximo de minha existência. Inclusive, o meu tem nome e completa 37 anos de vida ontem (13/09). Parabéns, Vinny!
*Coluna publicada da edição impressa do dia 14 de setembro.
*A opnião dos nossos colunistas não refletem, necessariamente, a opnião do jornal página d.
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