Na sala de uma casa na Vila Saul, em Santa Cruz do Rio Pardo, uma coleção incomum atrai olhares curiosos. Pequenas urnas funerárias e miniaturas de carros fúnebres, meticulosamente construídas a partir de caixas de leite, dividem espaço com brinquedos antigos, eletroeletrônicos e outros objetos colecionáveis. Para Adilson Marcos de Oliveira, de (43), esses itens são mais do que simples curiosidades; são símbolos da sua relação peculiar com a morte.
Adilson, baterista autodidata, divide a residência com os dois irmãos, Arnaldo e Alessandro. A família sempre teve o hábito de colecionar objetos. Enquanto muitos se apegam a itens como moedas ou carros em miniatura, o que torna a coleção de Adilson incomum é o tema que a inspira: o mundo funerário. "Cemitério é um lugar onde todos vamos ficar um dia", diz ele, com a serenidade de quem já fez as pazes com a inevitabilidade da morte.
Essa aceitação, no entanto, veio só depois de uma experiência traumática que transformou seu medo em fascínio. "Antigamente, eu tinha muito medo, passava mal em velórios", confessa. Tudo mudou quando, durante o período em que seu pai estava internado na Santa Casa de Misericórdia, em 2015, Adilson viveu um episódio marcante. Ele ajudou a socorrer um homem que, após uma súbita crise, desabou no chão do hospital. No dia seguinte, Adilson foi chamado pela funerária para ajudar a transportar um corpo até Ibitinga. Para sua surpresa, o falecido era justamente o homem que ele havia socorrido. "A partir desse dia, perdi o medo da morte. Encarei a realidade de forma diferente”.
Com uma visão diferente sobre a morte, Adilson passou a ver os cemitérios como lugares de paz. Frequentemente, ele visita os túmulos dos pais, Arzeu e Sonia. "Foi difícil ver meus pais morrerem, mas colocar flores nos caixões deles me trouxe um pouco de conforto." Entre essas visitas, ele encontra tranquilidade, como se estivesse em casa, longe dos problemas e das preocupações do mundo exterior.
O sonho de Adilson, entretanto, vai além das visitas aos cemitérios ou das coleções que adornam sua casa. Ele deseja, um dia, ter sua própria funerária. "Se um dia eu ganhar na loteria, meu maior sonho é montar uma funerária. Não para lucrar com a desgraça dos outros, mas para ajudar as pessoas, oferecendo um serviço mais acessível."
Adilson sabe que seu gosto por caixões e funerárias o torna alvo de críticas e julgamentos. "Muita gente me chama de louco, dizem que não bato bem da cabeça. Mas cada um tem sua escolha na vida, e essa é a minha”, afirma.
"A vida e a morte são como duas cidades", reflete Adilson. "Do pó viemos e para o pó voltaremos. Temos que nos acostumar com essa ideia, porque não somos nada neste mundo; no final, a riqueza fica toda aqui." E, com a serenidade de quem já fez as pazes com a mortalidade, Adilson conclui: "Não podemos ter medo da morte. Todos nós estaremos um dia no cemitério. Temos que pedir a Deus saúde e sabedoria para viver."
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