Em 2021, quando meu pai e eu publicávamos a série de reportagens sobre o caso de corrupção no Podemos de Santa Cruz do Rio Pardo – episódio que envolveu gente de fora, é bom ressaltar –, um todo-poderoso marqueteiro da legenda agendou conosco uma reunião e ofertou quase uma centena de milhares de reais para “ajudar” na época a campanha do então presidenciável Sérgio Moro.
O tal marqueteiro se disse “impressionado” com nossa capacidade de investigação (éramos bons mesmo, modéstia à parte) e sugeriu que seríamos úteis naquele período de pré-campanha eleitoral. Ao fundo, porém, faríamos pouco. A intenção mesmo era comprar o silêncio do DEBATE sobre o caso.
Jornal é produto caro, dispendioso, e não dá mais tanto dinheiro como já deu. Tínhamos dívidas, como todos temos, e o valor que potencialmente ganharíamos daria para bancar muita coisa – inclusive o próprio jornal.
Mas dinheiro, ainda que muito bem vindo, acaba. A bem da verdade, nosso maior patrimônio chamava-se credibilidade – algo do qual não se pode abrir mão por mais tentadores que sejam as ofertas. Terminada a reunião, meu pai se virou para mim e eu para ele. “Não, né?”, dissemos um ao outro ao mesmo tempo. Recusamos a proposta sem pestanejar.
Essa era a diferença do DEBATE com relação aos demais veículos, que sempre se engajaram em campanhas políticas. E a diferença também deste página d, que vê em meu pai uma inspiração – não fosse assim nem escreveria por aqui. Credibilidade se constrói e pode ir embora muito facilmente. Mantê-la em pé é difícil, mas necessário.
*Coluna publicada da edição impressa do dia 21 de setembro de 2024
*A opnião dos nossos colunistas não refletem, necessariamente, a opnião do jornal página d.
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