Não sei onde fica Pasárgada. Ah! É na Pérsia, onde fica o Irão.
Lá as mulheres são formosas, mas não sei se são tão boas para a gente namorar; não sei, acho que não, mas não tem burro bravo para a gente montar, não se sobe em pau de sebo, para a gente escorregar, nem mais se deita cansado na beira do rio, para poder sonhar.
Não há quem me conte histórias de meu tempo de menino, em parte bem anarquista, mas quase socialista, sou aqui um fabiano, que sonho com um mundo de todos, tentando ser liberal poeta, por querer liberdade, que lá em Pasárgada nem mais tem. Mas ainda não nego ao Diabo, direitos que possa ter porque se dele eu os tiro, o que será dos meus?
Não, não vou embora para Pasárgada, ela não existe mais; os sonhos se foram todos e neste mundo aloprado, como deve ser enfastiante ser amigo do rei, que não sabe governar e que é como os daqui exímios em enganar; para que serve, então, o povo, se não, para nos poderem furtar?
Fico mesmo por aqui, pois que até na terra de Cristo somente se sabem matar. Mas vantagens as tenho poucas, em ainda poder desejar; vou ficando bem velhinho e podendo me conformar, sem precisar marchar com os doidos no Teerão, de meus sonhos, a gritar pelo Profeta e prestes a odiar; tenho cá mulher que quero, na cama que escolhi e vivo pensando em amar porque em Pasárgada hoje mais não se pode, aqui, pelo menos, tenho inimigos a gostar.
Vou me dizendo pequenino em ser um homem pequeno, como ouso pensar; pois, ser um homem bem simples, vindo lá de Santa Cruz, vou andando pelo mundo, a carregar minha cruz, querendo a Liberdade a proteger cidadão e construindo a sociedade com amor e compreensão.
Palmilho, assim, meu caminho, sou um pouco muçulmano, bastante um imberbe seferadita, algo de Amador Bueno, bastante de Isabel Velho, que não se sabe quem seja, mas que tanto eu sei, mas que tanto não importa a quem me querer ler.
Em Pasárgada não há cadeiradas nem louco a se eleger, nem muito pior, que é ser amigo do rei a vencer. Espero que me compreendam, pois não quero me fazer a não ser como esquecido, mas não para quem me queira ver.
Aos poucos vão me partindo os amigos que pude ter e vou ficando sozinho, para deles nunca esquecer. Não, não vou me embora para a Pasárgada, como deve ser intolerante, ser apenas amigo do rei. Boto então meu quipá e me ajoelho no altar de Maria, para meu Deus venerar, folheando o Alcorão, para poder poetar.
Contradigo-me em coluna do sam tudo; mas, agora, vou aos poucos pensando em poder parar. Conter os ponteiros da vida; para poder somente amar.
*Coluna publicada da edição impressa do dia 21 de setembro de 2024
*A opnião dos nossos colunistas não reflete, necessariamente, a opnião do jornal página d.
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