Após alguns dias na terrinha, voltei assustado. O sempre disputado centro da cidade, conhecido pelos terrenos generosos, casas espaçosas e ruas arborizadas está dando indícios de abandono. Em uma única quadra vi quatro imóveis com placas de “vende-se”, alguns há mais de ano. Refletindo, pude concluir, embora este não seja o único motivo, que isso se deve ao fato dos inúmeros lançamentos de loteamentos e empreendimentos residenciais nos anos recentes. A tentação de um imóvel novo ou terrenos baratos acabou desfalcando o centro da sua procura usual.
E qual o problema disso? Para o centro, a potencial deterioração, seguindo um caminho difícil de superar que metrópoles, cidades grandes e médias experimentaram décadas atrás e até hoje frustram-se em reverter. Para os novos moradores dos novos bairros, a distância cada vez maior de serviços e infraestrutura. Uma cidade esparramada demanda mais deslocamentos em veículo, sobretudo em Santa Cruz que carece de transporte público eficiente e ciclovias interligadas. Uma cidade esparramada afasta as pessoas dos já estabelecidos hospitais, repartições públicas, ruas de comércio especializado, escolas privativas e públicas, sem contar equipamentos de lazer, como clubes e praças.
Em Londrina, cidade que me adotou e foi adotada por mim há 12 anos, a situação é semelhante. Apesar da idade jovem – 90 anos em dezembro deste ano, versus os 154 anos de Santa Cruz –, a cidade paranaense tem memória curta e se deixa levar pelo brilho do brinquedo novo. Imóveis enormes no centro vendidos por menos da metade do preço que seriam vendidos em bairros novos. Sorte a minha que soube aproveitar a oportunidade e sorte a dos empresários visionários que, percebendo este movimento, decidiram investir na região cheia de oportunidades e infraestrutura.
O proprietário do imóvel em que fica nosso escritório foi um destes destemidos: comprou o antigo Cine Villa Rica e adjacências, realizando uma longa e bem-feita reforma. Hoje, as salas têm fila de espera para serem locadas, o espaço de eventos tem a agenda cheia e o reinaugurado cinema tem desde as estreias mais populares até filmes cult. Nos próximos dias, deve ser inaugurado um restaurante descoladíssimo onde antes da pandemia funcionava um dos mais tradicionais da cidade. É preciso se reinventar e tirar o melhor proveito dos nossos centros!
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