Há documentos franceses de 1783 que mencionam a Tannat, cujo nome vem da língua occîtana, que era falada no sul da França. Tudo indica que Tannat é uma redução de tanino, em razão da Tannat ser uma das uvas com maior intensidade de tanino. Ela tem muito mais tanino que a Cabernet Sauvignon. Lembrando que tanino é substância existente no vinho que dá sensação de adstringência, que seca a boca.
Na França a Tannat tem a sua origem na região Sudoeste e é de Madiran de onde vêm os melhores Tannat franceses. Mas, dada a potência e adstringência dos taninos do Tannat de Madiran, os vinhos são blends de Tannat com Cabernet Franc ou Cabernet Sauvignon, para deixá-lo mais palatável, mais amigável na boca. Fora da França a Tannat pode ser encontrada na Itália, nos EUA, na África do Sul, na Austrália e no Brasil.
Todavia, foi no Uruguai que a Tannat ganhou notoriedade mundial. Esta casta foi levada para o país vizinho em 1860 pelo francês basco Don Pascual Arriague, por isso o nome de Don Pascual é celebrado em vários rótulos e no Uruguai a Tannat também é conhecida pelo seu sobrenome e ocupa 60% dos vinhedos.
A razão do sucesso do Tannat do Uruguai está no fato de que os seus taninos são muito mais macios e aveludados do que os de Madiran, mas sem perder a potência. Isto ocorre em razão do clima temperado, umidade, influência do Oceano Atlântico, solo calcário argiloso e da tradição desenvolvida pelos viticultores uruguaios.
Degustei dias atrás o Tannat Reserva, safra 2021, produzido pela Bodega Garzón, que foi eleita a melhor vinícola do Novo Mundo em 2018 pela revista Wine Enthusiast. Foi fundada pelo bilionário argentino Alejandro Bulgheroni e está localizada na região de Garzón, a pouco mais de 70 km de Punta del Este, destino turístico de alto luxo.
O Tannat Reserva Garzón tem 14% de álcool. Ele não é fermentado em tanques de inox, mas em tanques de concreto de 1.500 litros. Depois ele passa pelo amadurecimento de 6 a 12 meses sobre suas borras finas em barricas e também toneis de 5.000 litros. Quando o vinho é transferido para as barricas são deixados para trás as borras grossas, sementes de uva, cascas e tartaratos e somente são transferidas as borras finas, que são compostas por bactérias láticas, polifenois, ácidos graxos e, principalmente, leveduras já mortas que, com o passar do tempo, se decompõem e liberam nanoproteínas que deixam o vinho com uma textura mais agradável.
Este Tannat tem cor rubi extremamente intensa, com reflexos violáceos. Apresenta intensidade aromática superior à média, com notas de frutas vermelhas maduras, como cereja e framboesa, e fruta preta, amora, além de toques de especiarias e café. Na boca ele é quase seco, pois possui açúcar residual um pouco superior a 4g/l. Apresenta acidez próxima à alta, taninos intensos, mas muito maduros, elegantes e sedosos. O álcool, embora alto, está muito bem integrado. Tem corpo superior a médio, com grande intensidade de fruta e com toques de barrica, com final quase longo. Um vinho muito equilibrado, pois os taninos intensos são contrabalanceados pela acidez elevada e grande intensidade de fruta e o açúcar residual o deixa mais amigável.
Quem traz os vinhos Bodega Garzón para o Brasil é World Wine e o preço do Tannat Reserva gira em torno de R$ 160,00. Faça como os uruguaios e prefira Tannat para acompanhar churrasco ou cordeiro. Quer saber mais sobre a Tannat e este vinho, veja este vídeo do meu canal no Youtube:
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