As eleições são um momento de encontro entre gerações que, mesmo vivendo em contextos distintos, compartilham o desejo de participar ativamente da vida política da cidade. De um lado, João Otávio, um jovem de 16 anos que está prestes a exercer seu direito de voto pela primeira vez. Do outro, Argentino Montagnoli, um barbeiro de 93 anos, que, apesar de não ser mais obrigado a votar, continua a comparecer religiosamente às urnas. Dois exemplos de como o espírito cívico e democrático transcende as diferenças de idade.
João Otávio é um adolescente com uma rotina agitada. Além de ser estudante do segundo ano do ensino médio, ele é apaixonado por narração esportiva, atividade que começou durante a pandemia. A paixão pelo rádio surgiu ao ouvir a Rádio Senado no YouTube, e logo ele passou a narrar jogos de futebol, como partidas da UEFA Champions League. “Hoje, por exemplo, vou narrar Real Madrid e Stuttgart”, comenta João sobre sua rotina.
O gosto pela narração esportiva levou João a buscar espaço em veículos locais. Ele já trabalhou na Rádio Difusora e é conhecido na cidade pela sua habilidade com o microfone. Além disso, João compartilha seu trabalho nas redes sociais, onde mantém o perfil no Instagram, no qual atualiza seus seguidores sobre as transmissões e novidades do futebol, especialmente o futebol alemão, que ele admira.
Mas não é só o futebol que desperta o interesse de João. Aos 16 anos, ele decidiu tirar o título de eleitor e participar pela primeira vez de uma eleição. Influenciado principalmente por seu “bisavô”, como ele chama carinhosamente Toko Degaspari, amigo da família, ele se sente parte de um momento importante, mesmo admitindo que não tinha o plano de votar tão jovem. “Eu só queria votar mesmo aos 18 anos, mas depois comecei a ouvir sobre política e falei: ‘não, eu vou votar’”, relembra João.
Apesar de jovem, ele reconhece a importância de votar de maneira consciente. "Sempre estudar sobre o seu político", aconselha João.
Argentino Montagnoli, por outro lado, já testemunhou muitas mudanças na política brasileira. Aos 93 anos, com uma vitalidade invejável, ele lembra com precisão da primeira vez que votou, em 1950, na eleição que trouxe Getúlio Vargas de volta ao poder. Desde então, não perdeu uma única eleição, acompanhando de perto a história do país e seu processo democrático.
Nascido em Cachoeiro do Itapemirim (ES) e morador de Santa Cruz do Rio Pardo há 70 anos, Argentino fez da barbearia sua profissão desde os 16 anos. Durante décadas, seu salão foi um espaço de debates políticos, onde membros das principais facções políticas locais, como a União Democrática Nacional (UDN) e o grupo do deputado Lulu Camarinha, se reuniam para discutir as eleições. "Eu não intervinha", relembra Argentino, referindo-se às discussões calorosas que testemunhou enquanto trabalhava.
Hoje, mesmo sem a obrigação legal de votar — já que o voto no Brasil é facultativo a partir dos 70 anos —, Argentino mantém o compromisso de ir às urnas. "Voto toda eleição", diz com convicção. Para ele, votar é um dever cívico, e continuar participando é uma forma de se manter conectado ao futuro da cidade e do País. Apesar de sua crítica à situação atual da política brasileira, que considera “uma porcaria”, ele acredita que o voto é fundamental para tentar mudar o cenário.
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