Há 250 anos, Samuel Johnson, disse em alto e bom inglês: “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Johnson não tinha nada contra o amor verdadeiro que, naturalmente, alguém possa ter pela sua terra natal. Ele mirava, sim, nos oportunistas que em todos os cantos do mundo se enrolam em bandeiras para parecer patriotas, mas deixam a ponta do próprio rabo à vista revelando seus interesses demoníacos. Os cretinos que apenas mudam a máscara de lugar: da cara para entre o ombro e a pélvis seca.
E, se tem nos quatro cantos da Terra, como disse Samuel Johnson, deve ter aí na sua cidade. Aqui onde moro tem. Conheço, pessoalmente, um número suficiente para lotar um ônibus para ir quebrar Brasília num certo 8 de janeiro, às custas de empresários “patriotas”. Tem de espetaculoso a quase discreto. De milionário a remediado. Todos de meia ou da minha idade, torrando ou vivendo do que seus pais ou avós lhes deixaram por herança a custa de um trabalho quase sempre honesto. Falam alto, na churrascaria, na zona ou no púlpito.
Curiosa vocação: há 250 anos, a maioria das cidades do mundo atual ainda não existia. Mas aqui, nessa curva de rio, ou aí na sua cidade encardida, eles já estavam esperando. Como o caramujo, que você não vê durante a seca, mas está ali, plantado, esperando pela chuva. E quando chove, é lesma pra todo lado, subindo até pelas paredes a nos desafiar com a sua muda insignificância.
A diferença da lesma para o patriota de ocasião é que a lesma é silenciosa. Ela não fala na rádio do bicheiro, no jornal do contrabandista, no púlpito do paxxxtor da pro$peridade, nem canta de galo em casa, direito natural até do garnisé. Lesma não canta nem no chuveiro!
A lesma é muda. Eis a questão, ou a diferença.
*Coluna publicada da edição impressa do dia 28 de setembro de 2024
*A opnião dos nossos colunistas não reflete, necessariamente, a opnião do jornal página d.
Mín. 16° Máx. 33°