Sempre que nos deparamos com a expressão Reserva ou Gran Reserva no rótulo de uma garrafa de vinho, pensamos que se trata de um vinho de melhor qualidade e que tenha obrigatoriamente estagiado em barrica de carvalho. Mas, será isso verdade?
Em cada país é a lei que regulamenta o significado das referidas expressões, de maneira que o produtor somente pode fazer constá-las no rótulo se elaborar o vinho exatamente como a lei determina. Assim, o conceito de Reserva e Gran Reserva muda de país para país. Ressalto que os prazos apresentados abaixo referem-se a vinho tinto.
Creio que a Espanha, em razão de sua rigorosa classificação, foi a responsável pela crença generalizada de que o vinho Reserva é aquele que tenha estagiado em madeira. Vou destacar três classificações. A primeira é o vinho Crianza. Crianza não significa criança, mas sim envelhecimento, maturação. O Crianza permanece 24 meses no produtor sendo que, obrigatoriamente, 6 deles em barrica de carvalho. Para receber a qualificação de Reserva, na Espanha, o vinho deve, depois de pronto, e antes de ser lançado no mercado, permanecer no produtor por 36 meses, sendo que 12 deles em barrica de carvalho. O Gran Reserva tem que permanecer 60 meses no produtor, cinco anos, sendo que, necessariamente, 18 deles em barrica de carvalho. Ainda há algumas regiões espanholas, como Rioja, que são mais rigorosas e exigem um maior tempo no produtor e em madeira para estas qualificações.
No Brasil os vinhos Reserva e Gran Reserva foram regulados pela Instrução Normativa nº 14/2018 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que determina que o vinho tinto Reserva deve passar por um período mínimo de envelhecimento de doze meses, sem a obrigatoriedade de que tenha estagiado em madeira. Já, o Gran Reserva, no Brasil, deve ser submetido a 18 meses de amadurecimento, dos quais 6 meses em madeira, sem a necessidade de ser carvalho.
Na Argentina, além do tempo em barrica, é utilizado o critério da quantidade de uvas necessárias para produzir 100 litros de vinho. Em tese, quanto maior a quantidade, melhor o vinho. Assim, o vinho será Reserva se empregar 135kg de uvas para produzir 100 litros de vinho e que tenha passado 12 meses em madeira. Enquanto o Gran Reserva exige 140kg de uvas para produzir 100 litros de vinho e que tenha estagiado 24 meses em madeira.
No Chile o critério para estabelecer a qualidade é o teor alcoólico, porque, em tese, um maior o teor alcoólico significa que a uva teve uma melhor maturação. Todavia, com o aquecimento global, facilmente os vinhos atingem o álcool mínimo exigido, que é 11,5%. Nesta esteira, o vinho para ser considerado Reserva deve ter 0,5% acima do álcool mínimo, isto é 12%, sem a obrigatoriedade de passar por madeira. Já, o Reserva Especial também deve ter álcool mínimo de 12% e deve ter passagem por carvalho, mas sem especificar o número de meses. Por seu turno, o Reserva Privada é aquele que tem 1% acima do álcool mínimo, isto é, 12,5%, sem a exigência de passagem por barrica. Por fim, o Gran Reserva também deve ter 12,5% de álcool mínimo e ter passado por carvalho, mas também sem especificar o tempo.
Em razão da liberdade conferida pela legislação chilena, não é possível comprar preço e qualidade de vinhos Reserva e Gran Reserva de produtores diferentes. Pois um pode ter passado o seu vinho por 18 meses em carvalho e outro, somente 6.
Quer saber mais sobre vinho Reserva e Gran Reserva? Veja este meu vídeo:
*Coluna publicada na edição impressa do dia 04 de outubro de 2024
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