As proporções continentais do nosso país nos presenteiam com inúmeras paisagens, biomas, espécies animais e vegetais. Também nos oferecem desafios igualmente grandiosos como vencer a desigualdade, a distância física e social de algumas regiões e as heranças negativas da nossa longa colonização. De uns tempos para cá, com as sementes plantadas no século passado por movimentos como o modernismo e o tropicalismo, viemos nos valorizando mais, deixando de lado a síndrome de vira-lata e dando espaço para um orgulho nacionalista pré-colombiano.
Estamos inundados pelas influências europeias, que desembarcaram aqui em ciclos diversos ao longo dos séculos XVI ao XIX e, desde meados do século XX, os Estados Unidos impõem sorrateiramente seu estilo de vida através de bem-sucedidas campanhas propagandistas. Porém essa hegemonia das grandes potências se vê ameaçada. A facilidade de comunicação e expressão individual hoje em dia, através das mídias e diversos canais digitais, vem formando um movimento de valorização de tudo que é genuinamente nosso.
Hoje, grande parcela da população consegue reconhecer que, apesar de terem sido forçados a isso, a cultura trazida pelos escravizados ao longo de mais de 300 anos contribuiu expressivamente para formar o caráter cultural do nosso país. Muitos também conseguem reconhecer que seus antepassados usurparam as terras indígenas, dizimando populações inteiras ou subjugando-as a uma suposta civilização.
Essa tomada de consciência tornou o Brasil “cool”. A princípio, pequenas grifes locais iniciaram um movimento de uso de materiais regionais, de técnicas ancestrais e de referências estéticas não eurocêntricas. Foram seguidas pelas grandes corporações que viram que a “moda brasilis” era lucrativa e que o discurso havia colado. Vejam, por exemplo, como a Granado se expandiu justamente utilizando o imagético de nossa fauna e flora em suas embalagens e fragrâncias. O mesmo com a Farm ou a Osklen, dentre tantas outras que se reinventaram ou surgiram nesta onda de brasilidade.
Em um intervalo de seis meses, duas festas para as quais fui convidado centraram seus temas em torno do Brasil, estimulando uma interpretação contemporânea do tropical chique e permitindo, através da criatividade, uma reflexão acerca de nossa formação e do nosso destino.
* A opnião dos nossos colunistas não reflete, necessariamente, a opnião do jornal página d.
* Coluna publicada da edição impressa do dia 04 de outubro de 2024.
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