Sim! O Brasil também produz vinhos de qualidade e de guarda, aqueles que tendem a melhorar com o passar dos anos. Um exemplo notável é o Storia, elaborado pela Casa Valduga. Trata-se de um Merlot 100%, com longa passagem por barricas de carvalho francês, e que é lançado apenas em grandes safras. Das oito lançadas até hoje, tenho a grande satisfação de possuir seis delas em minha adega.
A Casa Valduga está situada no município de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, no coração do Vale dos Vinhedos, a primeira Denominação de Origem do Brasil. Assim como a maioria das vinícolas da região, a Casa Valduga também tem suas raízes na imigração italiana.
A Denominação de Origem Vale dos Vinhedos foi reconhecida apenas em 2012. Dentre as diversas castas autorizadas, focaremos na principal tinta: a Merlot. Essa uva se destacou por apresentar características únicas nessa região, o que chamamos de tipicidade, ou seja, a capacidade de identificar a origem de um vinho por suas características distintivas.
A Merlot, originária de Bordeaux, tornou-se amplamente cultivada após a grande nevasca de 1956, substituindo a Malbec, que foi dizimada. Embora a maioria dos vinhos tintos de Bordeaux sejam blends, na margem direita, um dos vinhos mais cobiçados do mundo, o Château Petrus, é elaborado quase exclusivamente com Merlot. Uma garrafa desse vinho pode facilmente ultrapassar os quarenta mil reais. Sem dúvida, a Casa Valduga se inspirou nessa joia ao criar seu Storia.
A safra de 2005, considerada histórica no Vale dos Vinhedos, marcou o lançamento do primeiro Storia. Posteriormente, o vinho foi elaborado nas safras 2006, 2008, 2010, 2011, 2012, 2015 e 2018. Em minha adega, tenho a felicidade de contar com as seis últimas safras, a partir de 2008. Por ser considerado o vinho ícone da Casa Valduga, o Storia só é lançado em anos excepcionais, quando a qualidade da uva atende aos mais altos padrões estabelecidos pela vinícola.
A última safra lançada foi a de 2018. Os vinhos dessa safra passaram por um período de 20 meses em barricas de carvalho e, posteriormente, foram divididos em dois lotes: o primeiro permaneceu por 29 meses em cave e o segundo por 40 meses. Minha garrafa pertence ao primeiro lote. A safra de 2020 foi considerada excepcional e, com certeza, em breve teremos o lançamento do novo Storia.
O produtor estima que o Storia possa ser guardado por 10 a 15 anos. Minha garrafa mais antiga é de 2008, com 16 anos, ultrapassando, portanto, a estimativa do produtor. Apesar do receio de que o vinho já estivesse além do seu ponto ideal, resolvi degustá-lo em um vídeo recente para meu canal Apaixonado por Vinhos, juntamente com a safra de 2018. Assim, caso a garrafa mais antiga não estivesse em condições, a mais nova garantiria um resultado satisfatório para o vídeo.
Tive a grata surpresa de encontrar a safra de 2008 em perfeitas condições! A acidez vibrante e as notas terciárias, resultado do envelhecimento em garrafa, conferiram ao vinho uma complexidade incrível. Durante esse processo, os aromas primários de frutas evoluem, dando lugar a notas mais complexas de frutas cozidas ou secas, tabaco, ameixas secas, passas e toques terrosos.
A safra 2018, por sua vez, apresentou um perfil mais estruturado, com taninos robustos, acidez vibrante e concentração de fruta marcante. Acredito que, se armazenado em condições adequadas, este vinho tenha potencial para evoluir por mais de duas décadas, entre 2038 e 2040. Trata-se de um excelente exemplar para guarda e o preço no site do produtor é condizente com sua qualidade e potencial de envelhecimento: R$ 500,00.
Ficou curioso para ver o vídeo? Acesse:
Mín. 15° Máx. 30°