Diego não foi traído; traidor, sim, embora possa ter seu ato justificável. Otacílio apenas "cobrou" o cumprimento de um acordo de 2020: Diego teria apoio nas eleições daquele ano e, caso eleito, não concorreria em 2024, abrindo vaga para Otacílio e apoiando-o na disputa. Em uma primeira análise, ainda no calor da disputa que conduziu Otacílio ao seu terceiro mandato, na opinião dos autores, a traição pode não ter sido uma boa opção para a sobrevivência política de Diego, embora ele possa ter suas razões.
A traição política é o rompimento de um acordo. Diego rompeu o acordo com Otacílio, pois sabia do plano deste retornar ao poder; não que o rompimento fosse incorreto para Diego ou o melhor para o município. Talvez, para Otacílio, sim, em uma ideação inicial. O rompimento, provocado ou não, "colaria" em Diego a pecha de traidor, no ditado de que "a política ama uma traição, todavia, odeia o traidor". Mas isto seria um erro estratégico de Otacílio, afinal, o ódio ao traidor nunca "pegou" em Santa Cruz e não pegaria agora, mesmo com o apelo à moral de um acordo selado, ainda que tácito, entre eles.
O rompimento aconteceu, e o grupo político situacionista "rachou" com a cisão entre Diego e Otacílio. Para o prefeito, o ex se mostrou desesperado pela volta ao poder, interferindo em secretarias e setores do governo; para o ex, o atual estava mal assessorado, e, nesses considerandos, a ruptura para ambos seria uma boa opção. Otacílio sairia candidato e Diego, por qualquer motivo, também estaria na disputa; afinal, já estavam rompidos e o compromisso desfeito.
Diego tornou-se uma "força política", formando um grupo e unindo-se aos adversários e descontentes com Otacílio. No entanto, a força política de Diego pode ter sido ilusória, e os votos recebidos nas urnas em 2024, caso apenas de seus companheiros, seriam menores sem o "descarrego" dos contrários a Otacílio, em todas e quaisquer circunstâncias. Outra possível ilusão de Diego: o uso da máquina pública em busca de apoios, empregando "companheiros" nem sempre competentes em cargos desnecessários.
Bom de voto, sem dúvidas, e com o apoio do terceiro setor, Diego não conseguiu a reeleição. Embora sua derrota, numa acirrada disputa, não o impeça de se tornar um grande líder político em Santa Cruz, sem a "máquina" nas mãos, ele ainda lidera os adversários de Otacílio. No entanto, será que verá o seu "grupo formado" se dispersar em apoio a outros possíveis candidatos em 2028?
Quando um leigo ocupa o cargo de Secretário da Saúde, o bom senso recomenda que ele se cerque de um profissional de cada área. Por exemplo, um coordenador médico para gerenciar os serviços médicos, um assessor cirurgião-dentista na odontologia, um profissional de enfermagem para as equipes técnicas e auxiliares do setor, um gerente para a equipe multiprofissional etc. Diego, não sendo profissional de saúde, fez isso durante os sete anos como Secretário da Saúde e manteve a prática como prefeito. O erro, no entanto, foi que, como prefeito, ele se isolou em seu gabinete, cercado por assessores nem sempre competentes, barrando o acesso de pessoas a ele, o que gerou uma antipolítica imperdoável em Santa Cruz do Rio Pardo, principalmente para os idosos e os mais politizados.
É óbvio que daqui a quatro anos uma nova onda de eleitores jovens será acrescida aos votantes de hoje, o que poderá beneficiar Diego ou outros candidatos, possíveis e aptos, contra Otacílio, caso este busque reeleição.
Diego propaga que tem ofertas de trabalho em gabinetes legislativos ou em altos escalões do executivo estadual. Isso pode ser danoso para suas aspirações políticas, caso as tenha.
* A opnião dos nossos colunistas não reflete, necessariamente, a opnião do página d.
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