O tropeço de Lula

Ser esquerda (e embora esta rotulação, como ser direita, seja um estereótipo totalitário e conseguintemente fascista, para levar a sociedade à polarização e ao domínio de ditaduras), não significa ser contrário à iniciativa privada e nem mesmo à economia de mercado, sequer à propriedade privada dos meios de produção, antes, quer dizer uma postura política e nem necessariamente ideológica, que pretenda a valorização do ser humano e seu acesso à cidadania e ao bem-estar social. Sobretudo para colocar o humanismo como valor fundamental e vertical das sociedades, antes de parâmetros econômicos e marcadamente na defesa do meio ambiente e da preservação do clima como sustentação da vida.

Neste sentido, sou esquerda, mas não me sujeito a votar em fulano por ser de esquerda, aliás, uma impropriedade semântica porque a preposição de indica pertencimento e ninguém pertence à esquerda ou à direita, podendo, contudo, estar à direita e à esquerda.

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Recentemente encontrei-me com o embaixador Celso Amorim, a quem chamo Grilo Falante do Lula e em matéria de equivocada política externa. Para quem possa lembrar-se, o Grilo Falante era a consciência do Pinóquio, o boneco de Gepeto, que sendo de madeira, falava muito, mas, refletia nada.

Observei-lhe devesse o Brasil compor-se com a Índia e a África do Sul, outro acrônimo bobo como o BRICS, que se denomina IBAS, sem ser um bloco como o primeiro, agora, elevado a palco dos interesses chineses, em que Putin é o animador de auditório e onde ninguém vai segurar a entrada da Venezuela, que já é uma fortaleza do imperialismo sino-russo, na América do Sul.

Certamente o Brasil, dando às costas ao que se chama Ocidente, vai se vinculando a padrões estranhos à sua formação e futuro e sujeita-se ser feito estulto em cenário, em que não possa despontar, como participante protagonista, rendendo-se ao que Celso Amorim entendera e como me deu a compreender, à política do real, quando me dissera, bem, a China é a China.

Com ela, o Brasil, quer ter uma moeda comum, ignorante de que moedas não se fazem, por decreto, como são feitas feijoadas ou doces de leite, contudo emanam da firmeza de padrões de gestão fiscal e controle orçamentário e emergem da realidade econômica e de sua sanidade. O Brasil já teve centenas de moedas por decreto, qual delas deu absolutamente certo? Nem mesmo o real!

Lula não tem direito a vincular nossas vidas à sua nostalgia soviética e antiamericana; esquerda não pode abonar seus equívocos. Quer transformar o Brasil em filial de Putin e da China. Pergunte a qualquer brasileiro imigrante se quer imigrar, para China ou para a Rússia de Putin? A política externa de Lula, não pode ser o desejo dos brasileiros.

Lula quer influir no rumo do Universo. Quer ser um desempatador mundial, aplaudido nos foros internacionais e talvez transformar-se em um Gandhi de luxo, cruzando céus e terras em seus jatos poderosos. Quer ser um estadista do mundo, sem antes ter sido estadista do Brasil.

Este, o real desejo do Lula, que se não tropeçou, com seus atestados médicos, que não acredito falsos, saiu de fininho do palco russófilo do BRICS e ainda se poupa de eventual derrota de Boulos. Bem! Certamente a política tem médicos a servir-lhe. Todos têm! Porém como esquerdista sonhador, nem todos os que votam em Lula têm a lhes cuidar os grandes médicos da incomum medicina privada paulistana, certamente, no entanto, pagos pelo SUS.

* A opnião dos nossos colunistas não reflete, necessariamente, a opnião do página d.

* Coluna publicada da edição impressa do dia 26 de outubro de 2024.