Quinta, 20 de Março de 2025
15°C 30°C
Santa Cruz do Rio Pardo, SP
Publicidade

Perspectiva

Coluna do Enzo

06/11/2024 às 14h51 Atualizada em 06/11/2024 às 15h34
Por: Colunista Fonte: Enzo Pellegrino
Compartilhe:
Foto de fundo: Freepik.com
Foto de fundo: Freepik.com

O calendário marcava o dia 8 de julho de 2014 e a esperança do povo brasileiro só não era maior que a ansiedade. Tudo isso porque a seleção brasileira havia chegado novamente a uma semifinal de Copa do Mundo em solo tupiniquim, 64 anos depois da Copa de 1950.

Poucas semanas antes, minha mãe iniciara as sessões de radioterapia na cabeça, parte do seu tratamento contra as malditas metástases do câncer que, inicialmente, atingia apenas os pulmões. Ela, apaixonada por Copas do Mundo, dividia sua atenção entre os possíveis efeitos colaterais do tratamento e a óbvia ansiedade para o confronto com os alemães, mas até então o cenário era tranquilo nas duas batalhas, sem sinais que exigissem maior preocupação (tirando a suspensão de Neymar e Thiago Silva, claro).

Continua após a publicidade
Anúncio

Como ocorreu em outras partidas, terminamos a sessão de quimioterapia e nos dirigimos (eu, ela e meu irmão) a um cinema de São Paulo para assistir ao jogo na telona, um pequeno e merecido mimo que destacava sua sobrenatural resistência física (em 3 anos de tratamento, sentia as pancadas da químio em sua disposição e corpo, mas nunca vomitou uma vez sequer, mesmo vivendo pra lá e pra cá na Castelo Branco). Havia dado sorte anteriormente e optamos por garantir o ritual, sem saber o que nos esperava.

Confesso que sofro muito com derrotas em Copas do Mundo, uma sina que começou em 1998, quando Zidane deu início à sua sádica e impiedosa história contra um país tão amável quanto o nosso, no Stade de France. Quando Thomas Müller abriu o placar logo aos 11 minutos de jogo, portanto, já senti rapidamente formar-se um nó na garganta e o presságio típico do torcedor pessimista, que sempre imagina o pior cenário para evitar frustrações.

Só não sabia, naquele momento, que a apreensão se transformaria em tristeza em apenas 6 minutos, quando Klose, Toni Kroos e Khedira destruíram o coração de um país inteiro, sem qualquer traço de piedade, fazendo Zidane parecer um pequeno dissabor de um passado muito remoto, sem maior importância.

Continua após a publicidade
Anúncio

O que estava acontecendo?

A incredulidade era tamanha que não sei descrever o que sentia, só sei que era algo bem ruim. 

A boca aberta só se fechou quando fui cutucado por minha mãe, num tom de preocupação que me trouxe de volta à sala de cinema. “Filho, fique calmo, mas acho que não estou bem”, disse ela.

Meu foco foi totalmente redirecionado, queria saber o que sentia, se queria ir embora, o que eu poderia fazer para ajudar. “Lembra dos efeitos colaterais da radioterapia? Então, acabei de ter todos eles de uma vez só. Saiu um gol da Alemanha e na minha cabeça foram 4, tem alguma coisa errada comigo”.

Dei uma boa risada, relaxei o corpo num momento memorável de satisfação e alívio e expliquei que estava tudo bem.

O que estava acontecendo?

Nada demais, era só mais um gol da Alemanha.

 

* A opnião dos nossos colunistas não reflete, necessariamente, a opnião do página d.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
Enzo Pellegrino
Sobre o blog/coluna
Enzo Pellegrino Pedro é santa-cruzense e sócio do escritório Pellegrino Advogados. Graduado pelo Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), é pós-graduado em Advocacia Trabalhista e em Direitos da Incapacidade Laborativa, Acidente do Trabalho e da Doença no Brasil.

Longe do mundo do Direito, já foi colaborador da Revista OPs!, colunista do AUÊ Cultural e também do Jornal Debate.

Filho do Naco e da Silvana, é apaixonado por cachorros, livros, cinema e pelo São Paulo Futebol Clube. Deixa o mundo jurídico mais para o trabalho, conferindo a si mesmo o direito inalienável de escrever sobre todas as coisas, ou então sobre nada.
Ver notícias
Santa Cruz do Rio Pardo, SP
30°
Tempo limpo

Mín. 15° Máx. 30°

29° Sensação
3.34km/h Vento
34% Umidade
0% (0mm) Chance de chuva
06h22 Nascer do sol
06h29 Pôr do sol
Sex 32° 15°
Sáb 34° 16°
Dom 24° 19°
Seg 27° 17°
Ter 32° 17°
Atualizado às 16h09
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,68 +0,53%
Euro
R$ 6,16 +0,08%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 508,209,33 -1,48%
Ibovespa
131,954,90 pts -0.42%
Publicidade