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É de matar!

Coluna do Seixas

15/11/2024 às 14h46
Por: Colunista Fonte: Luiz Carlos Seixas
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Foto de fundo: freepik.com
Foto de fundo: freepik.com

Em carta aos amigos, o escritor Antônio Cícero justificou sua opção para não continuar entre nós. O imortal da Academia Brasileira de Letras acaba de falecer na Suíça, num suicídio assistido, o que é legalmente permitido no país que se vangloria de ter produzido o primeiro relógio cuco do mundo. 

Em 2022, Alain Delon também quis morrer assim, dignamente, na Suíça, para onde tinha se mudado há anos. Mas o homem tido como o mais bonito da história do Cinema, só conseguiu morrer dois anos depois, na França, onde nasceu. Na França que se vangloria de produzir 246 tipos de queijos, mas onde a eutanásia ainda não é legalizada.  

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Antônio Cícero tinha 79 anos. Alain Delon tinha 86 quando tentou, sem sucesso, se matar na Suíça. O francês se dizia cansado das péssimas notícias diárias desse mundo. O brasileiro argumentou que achava ter vivido com dignidade até aqui, e que o Alzheimer o estava impedindo de morrer com dignidade.

Marcos Pachi, poeta e meu amigo há mais de meio século, comentou sobre a morte de Antônio Cícero. “A carta dele de despedida é a que eu escreveria se estivesse na sua situação. Taí uma coisa (a eutanásia) que o Brasil podia ter, não?”

A resposta que não fiz pelo whatzap vai por aqui, nessas linhas: Marquinho, no Brasil ainda não legalizaram nem o aborto assistido! Nem para casos de aborto decorrente de estupro!! E como o aborto em clínicas clandestinas é a nossa sacramentada opção, a nossa eutanásia possível é a corda no pescoço naquela aprazível varanda do quintal; ou um raticida que estava na promoção.

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Não é de hoje que a gente é atrasado. Em 1968, Roberto Carlos quis se casar com Cleonice Rossi, separada e mãe de uma menina. Teve que socorrer às leis da Bolívia! Roberto Carlos foi se casar com Nice na Bolívia, porque ainda faltavam nove anos para o Brasil promulgar a Lei do Divórcio! 

Em 1990, ao ser diagnosticado com um câncer, Rubem Braga, o “Pelé” da crônica, teve que fazer a ponte Rio-São Paulo, ida e volta, para contratar a sua própria cremação, serviço indisponível naquele tempo para o resto do Brasil. Menos sorte teve Carlos Drummond, três anos antes, que queria ser cremado (depois de morto, claro), mas teve que se contentar com um túmulo no São João Batista, onde dias antes fora sepultada sua única filha, Julieta.  

A história da abolição da escravidão, do divórcio, do uso medicinal da maconha, da doação de órgãos, do combate à Covid, da cremação e da eutanásia será sempre vexatória para o Brasil. Vexatória para quem tem vergonha na cara, um fio tênue de humanidade, mas não tem passaporte e uns dólares para ir morrer na Suíça, dentro da lei.  

Não podemos esquecer que quem legisla, no sentido de fazer as leis, é o parlamento. Se você não tem tempo para conferir o índice de periculosidade da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa do seu Estado, veja aí o nível da câmara de vereadores que a sua cidade acaba de eleger.

Sinceramente, você acha que temos alguma chance?

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Luiz Carlos Seixas
Sobre o blog/coluna
Luiz Carlos Seixas é editor e compositor. Assinou com o pseudônimo Pascoalino S. Azords mais de 500 crônicas publicadas pelo Debate.
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