A Polícia Civil de Santa Cruz do Rio Pardo prendeu a ex-tesoureira Sueli de Fátima Feitosa (59), condenada a 21 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A operação, realizada na tarde desta terça-feira, 19, também resultou na prisão de Camila Pereira Sacramento de Souza e seu marido, Adilson Gomes de Souza, irmã e cunhado de Sueli, ambos sentenciados a 10 anos de prisão. Os três receberam as penas mais severas entre os envolvidos no maior escândalo de corrupção da história da cidade, que revelou desvios milionários dos cofres públicos. A ordem para as prisões foi expedida pelo juiz da vara criminal, Pedro de Castro e Sousa.
A operação foi conduzida por duas equipes da Polícia Civil, lideradas pelos delegados Valdir Alves de Oliveira e Renato Caldeira Mardegan, com o apoio do delegado Marcelo de Assis Aliceda Filho, e executada em diferentes endereços.
A prisão de Sueli Feitosa
Sueli foi encontrada em sua casa no Residencial Braúna, bairro de alto padrão em Santa Cruz do Rio Pardo. A ex-tesoureira foi detida sem oferecer resistência. Para evitar ser fotografada ou filmada, Sueli saiu de sua casa com uma blusa rosa sobre a cabeça.
A prisão de Camila e Adilson
Camila e Adilson não estavam em Santa Cruz no momento da operação. Após serem localizados em Ourinhos, Adilson manteve contato com os policiais e se comprometeu a retornar à cidade para se entregar. Ambos foram presos e encaminhados à Central de Polícia Judiciária, onde se juntaram a Sueli.
A reportagem do página d apurou que Adilson teria manifestado “indignação” pelo fato de apenas sua família ter sido punida no escândalo. Porém, até onde se sabe, o empresário, conhecido como “Maizena”, não fez referência a nenhum outro nome que possa ter tido envolvimento nos desvios. Por enquanto.
Declarações da polícia
Em entrevista coletiva, o delegado Renato Caldeira Mardegan fez um balanço da operação e destacou o trabalho de anos para desmascarar o esquema de corrupção:
"Para a gente, o sentimento é de dever cumprido, de serviço bem feito. Isso prova para a sociedade que o crime não compensa. A justiça pode tardar, mas não falha. Agora, que cada um cumpra sua pena e pague pelo que fez", afirmou.
O delegado também lembrou da contribuição fundamental da delegada Isabel Bertoldo, que participou das investigações e recentemente se aposentou.
O maior escândalo de corrupção em Santa Cruz do Rio Pardo
O esquema de corrupção, comandado por Sueli Feitosa, desviou quase R$ 4 milhões (R$ 11 milhões em valores corrigidos) dos cofres públicos entre 2002 e 2016, durante os governos dos prefeitos Adilson Mira, Maura Macieirinha e Otacílio Assis. O crime foi descoberto em dezembro de 2016, quando não havia saldo suficiente para antecipar o pagamento do 13º salário dos servidores, revelando que os recursos registrados na contabilidade municipal não existiam.
A descoberta
O desvio foi revelado após Sueli tentar transferir R$ 1,2 milhão de uma conta exclusiva para iluminação pública, um recurso “carimbado” para energia elétrica, para cobrir a folha salarial. A tentativa foi interceptada por uma funcionária da tesouraria, que alertou o secretário de Finanças, Armando Cunha. Sueli fugiu logo após ser confrontada e ficou foragida até janeiro de 2017, quando foi presa.
O impacto das prisões
As condenações incluem a perda de bens adquiridos com os desvios, como imóveis de alto padrão, chácara, caminhões e veículos de passeio, além de joias e valores em contas bancárias. O patrimônio confiscado será usado para ressarcir, parcialmente, os cofres públicos.
Ação civil pública
Paralelamente ao desfecho na esfera criminal, o caso ainda tramita como uma ação civil pública, que busca responsabilizar os réus por improbidade administrativa e garantir o ressarcimento integral ao município. Especialistas apontam que as decisões criminais servirão como base para o julgamento da ação cível.
“Dê um tiro na cabeça”
Logo após o escândalo ser revelado, no final de 2016, o então prefeito Otacílio Assis convocou uma coletiva de imprensa onde, emocionado, anunciou o rombo e sugeriu que Sueli deveria "se matar com um tiro na cabeça". O comentário gerou repercussões negativas e críticas, já que a exposição pública comprometeu o “efeito surpresa” das investigações da Polícia Civil.
A "delação”
Durante sua prisão em 2017, Sueli entregou um documento à imprensa, chamado de "delação pública", por meio de seu advogado da época, Luiz Henrique Mitsunaga, em Bauru. No texto, Sueli acusava agentes políticos e membros de administrações anteriores, incluindo o ex-secretário do governo Adilson Mira, Ricardo Moral, e o ex-presidente da Codesan na gestão Otacílio, Cláudio Agenor Gimenez, mas não apresentou provas concretas contra eles. As alegações foram rejeitadas e nada se comprovou contra os nomes citados.
As sentenças
Condenações principais:
- Sueli de Fátima Feitosa: 21 anos e 4 meses de prisão (regime fechado), além de multa e perda de bens.
- Camila Pereira Sacramento de Souza: 10 anos de prisão (regime fechado).
- Adilson Gomes de Souza: 10 anos de prisão (regime fechado).
Outros condenados:
- Maria da Conceição Feitosa (mãe): 7 anos de prisão (idosa com mais de 70 anos)
- Aparecida de Fátima Feitosa Moura e Pedro Moura (irmã e cunhado): 4 anos em regime aberto, com penas restritivas de direitos.
- Silvia Regina Feitosa (irmã): 4 anos em regime aberto.
Legado e mudanças
Após o escândalo, a Prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo implementou mudanças no setor financeiro, como o fim do pagamento presencial de tributos no prédio da prefeitura, transferindo a arrecadação para instituições bancárias.
O outro lado
Procurado pela reportagem, o advogado Cássio Adriano de Paula, que representa Sueli, Conceição, Aparecida, Silvia e Pedro, não quis se manifestar pois ainda não tinha definido os próximos passos da defesa. A reportagem tentou contato com o advogado Luiz Henrique Mitsunaga, que segue representando Camila e Adilson, porém não houve nenhum retorno.
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