O joio do mau gosto é separado do trigo do bom gosto ao observarmos toda e qualquer escolha de toda e qualquer pessoa. Não existe bom gosto em um setor isolado da vida. Ou se tem, ou não. Lembrando, é claro, que gosto é pessoal e aqui uso minha régua porque a coluna é minha e leva meu nome.
Mês passado, em visita às Minas Gerais, revi um colega de intercâmbio que não via há quase 10 anos. Lembro-me do impacto que um projeto do então estudante da Belas Artes de Budapeste me causou. Comentei com Mariana, que à época cursava algumas disciplinas com ele que aquilo era obra de quem sabia o que estava fazendo. Hoje, acompanhando e tietando seu trabalho à distância me sinto profético. João de Mendonça Uchôa tem um trabalho totalmente fora da curva, refinado e carregado de bagagem ancestral. Mantém um belíssimo antiquário no Bairro de Santa Efigênia em Belo Horizonte, junto ao qual funciona seu escritório.
A beleza não está apenas no edifício histórico que reformou e no qual realizou intervenções contemporâneas impecáveis, mas também na música ambiente, no aroma do difusor e nas xícaras de porcelana e talheres de prata sobre a mesa de jacarandá da Bahia. O bom – ou mau – gosto se reflete em tudo. Não à toa cantores sertanejos milionários vivem em réplicas malfeitas das Lojas Havan, dirigem Lamborghinis amarelas e cantam o que cantam...
Mas a sofisticação do João não é arrogante, como poderia ser. É sutil, educada e simples, se é que isso é possível em um ambiente onde está rodeado de mobília modernista que passa facilmente da casa das centenas de milhares de reais. Digo isso pois nos recomendou uma pizzaria e uma padaria, ambas sofisticadamente simples. Seu gosto, aristocrático, não deixou despercebida a relação entre os dois estabelecimentos: ambos têm relação direta com uma praça adjacente. São elegantes, mas também generosos com a cidade, tão carente de gentilezas com o espaço público. Nelas, nada de grades e nem medo de assaltos ou abordagem de ambulantes. Apenas a vontade de fazer bem-feito.
O verdadeiro refinamento não está em seguir a moda, ostentar logotipos gigantes, caçar “cantinhos instagramáveis” e salas VIP ou em exibir o que se tem e o que não se tem. Ele vai além da superfície e reside na generosidade – seja no trato com as pessoas, seja na relação com a cidade. É olhar para o outro, para o espaço, para o contexto e fazer escolhas que enriquecem não apenas quem as faz, mas também quem as presencia, reverenciando o passado e olhando para o futuro. E isso não se aprende do dia para noite.
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