A transição oficial de governo em Santa Cruz do Rio Pardo escalou em tensão nesta terça-feira, 3, especialmente durante a reunião da secretaria de Cultura.
O encontro, que deveria tratar de assuntos técnicos e operacionais, se tornou palco de desentendimentos entre o prefeito em exercício, Diego Singolani (PSD), e a futura secretária de Cultura, Elaine Proença. O caso se agravou com a participação do pastor Jair Paraguai, esposo de Elaine, que foi acusado de ameaçar Diego.
Questionada pela reportagem do página d, Elaine relatou que a reunião realizada na manhã de hoje começou de forma tranquila, mas que o clima mudou após a chegada do prefeito Diego Singolani. “Ele chegou aparentemente alterado e após o início da reunião. Não nos cumprimentou. Em nenhum momento proferi críticas, apenas realizei perguntas. Ele levantou-se e começou a gritar pedindo que eu me retirasse da sala. Me senti coagida e com medo e pedi para a assessora Ivana (secretária de Comunicação) chamar meu marido. Ela não chamou. Me sentei e fiquei aguardando que o Diego se acalmasse”, afirmou Elaine.
“Prosseguimos, quando perguntei quais as políticas públicas realizadas pela secretaria de cultura para atender as minorias (negros, mulheres, pessoas com deficiência e LGBTQI+) ele disse para a Renata (secretária de Cultura) não responder e que eu colocasse que não foi feito nada. Encerrou a reunião. Após isso, sua assessora me disse que eu não deveria ter feito perguntas, que era apenas para receber os relatórios sem fazer perguntas. Fui extremamente desrespeitada pelo senhor prefeito. Ele foi irônico diversas vezes durante a reunião. Eu estava fazendo apenas o meu trabalho de zelar pelo patrimônio público, uma vez que irei assumir a pasta”, completou a futura secretária.
Visivelmente abalado durante entrevista à Rádio Difusora, Diego Singolani afirmou que a reunião de transição da Cultura foi marcada por desrespeito por parte de Elaine Proença. Ele disse que pediu à futura secretária "ética dentro do gabinete" e que "não tivesse comportamento de surto ou mesmo ofensivo, porque era uma reunião de transição".
Segundo Diego, Elaine teria solicitado a entrada do marido na sala, o que foi negado, já que, como mediado pela procuradora-geral, "era uma reunião técnica". O prefeito ainda acusou Jair Paraguai, esposo de Elaine, de ameaçá-lo na saída da Prefeitura e proferir declarações homofóbicas. "Esse pastor tem por cultura praticar crime de homofobia nos seus cultos da igreja. (...) Eu não destratei a esposa do senhor para o senhor ameaçar a minha vida", afirmou, completando que, caso algo lhe aconteça, "o sangue está na mão do senhor também", referindo-se ao prefeito eleito Otacílio Assis.
Otacílio, por sua vez, criticou a postura de Diego em entrevista à Band FM, declarando que o prefeito não deveria participar das reuniões de transição. "O prefeito determinou que ele estaria presente nessas reuniões. Eu não vejo o porquê. É secretário para secretário, equipe com equipe", argumentou.
Sobre o episódio envolvendo Elaine, Otacílio defendeu a futura secretária, afirmando que "ela é uma técnica, da cultura, musicista, formada (...) foi tratada com desrespeito". Ele também anunciou que suspendeu as reuniões presenciais para evitar novos conflitos com sua equipe, determinando que a transição ocorra apenas por meio de documentos. Em relação à acusação de Diego, Otacílio afirmou que o prefeito é instável emocionalmente e rebateu: "Se algo acontecer com ele, as minhas mãos estarão cheias de sangue? São coisas absurdas de se dizer. Minhas mãos já estiveram sujas de sangue, sim, mas de pessoas que salvei como médico”, disse.
O pastor Jair Paraguai, acusado por Diego de ameaça e homofobia, deu sua versão em entrevista à rádio 104 FM, negando qualquer conduta ilícita. Ele explicou que apenas desejava conversar. “Chamei para conversarmos como homens, não somos animais. Se quisesse agredi-lo, não precisava esperar até dia 31 de dezembro.”
O pastor, no entanto, questionou a interpretação dos fatos e reforçou que Diego tinha liberdade para registrar ocorrência.
Caso de polícia
No final da tarde de hoje, o prefeito Diego Singolani divulgou uma nota oficial confirmando que prestou queixa contra o pastor Jair na delegacia.
Na nota, declarou:
“O Sr. Jair dirigiu-se a mim em estado visivelmente alterado, proferindo frases com suposto teor intimidatório e de cunho aparentemente homofóbico.”
Ainda segundo Diego, os atos de Jair foram graves e inaceitáveis:
“Reforço que atos de intimidação ou desrespeito, seja de quem for, não encontram espaço em uma sociedade que preza pelo diálogo e pela civilidade.”
Confia a íntegra da nota oficial divulgada pelo prefeito Diego Singolani:
"Como representante público e comprometido com a ordem, o respeito e os valores que devem reger a sociedade, venho a público esclarecer os fatos ocorridos nesta manhã e reafirmar minha posição em defesa da ética e dos bons costumes.
Durante uma reunião de transição realizada nesta data (03/12/24), a Sra. Elaine Proença, indicada à Secretaria de Cultura, teceu críticas à atual equipe da pasta e gerou um desnecessário desconforto entre os presentes. Diante do comportamento inadequado, encerrei a reunião de maneira respeitosa e solicitei, com educação, que a referida senhora deixasse o gabinete.
Posteriormente, em um ato de extrema gravidade, o Sr. Jair Paraguai, esposo da Sra. Elaine, invadiu as dependências do gabinete sem autorização e, não me encontrando no local, aguardou do lado de fora da sede administrativa. Ao me localizar, o Sr. Jair dirigiu-se a mim em estado visivelmente alterado, proferindo frases com suposto teor intimidatório e de cunho aparentemente homofóbico, comportamento inaceitável em qualquer circunstância.
Com serenidade, dirigi-me à Delegacia de Polícia Civil para relatar os fatos e registrar a ocorrência, visando resguardar minha segurança e garantir a apuração legal do ocorrido. É meu dever como cidadão e agente público preservar a ordem e os valores que norteiam o serviço público, não compactuando com ações que afrontem a dignidade humana e a convivência pacífica.
Reforço que atos de intimidação ou desrespeito, seja de quem for, não encontram espaço em uma sociedade que preza pelo diálogo e pela civilidade. Permanecerei firme na busca pela justiça e confiante de que os procedimentos legais garantirão uma solução justa e exemplar.
Finalmente, reforço a necessidade de harmonia e paz entre os integrantes das equipes de transição para a melhor realização do interesse da cidade até o fim do mandato atual, o que não tem ocorrido por parte de algumas autoridades políticas municipais eleitas e escolhidas, que vêm desrespeitando os melhores preceitos relacionados à boa educação".
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