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Os primeiros veículos e o ‘trânsito disciplinado’ em Santa Cruz do Rio Pardo

Coluna Celso Prado e Junko Sato Prado

15/12/2024 às 11h00 Atualizada em 15/12/2024 às 11h18
Por: Colunista Fonte: Celso Prado e Junko Sato Prado
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'Carro de boi' para transporte de mercadorias. Acervo e gentileza Luiz Carlos Barros
'Carro de boi' para transporte de mercadorias. Acervo e gentileza Luiz Carlos Barros

Os primeiros meios de transportes, também em Santa Cruz do Rio Pardo, foram através da força animal - bovina, equina e muar, de baixo custo e bem correspondiam às exigências da época, até tornarem-se obsoletos e incompatíveis com as expectativas dos altos lucros, gerados com chegada da ferrovia e os momentos das grandes lavouras, da suinicultura e da pecuária, depois, os automotores. 

Veiculos de Tração animal

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Como transporte animal no século XIX e parte do anos 1900, Santa Cruz valia-se da montaria, do carroção, do carro de boi, da carroça, do trole e da charrete.

Desde 1876, ante a ausência de arruamentos adequados e frentes comerciais inapropriadas, a Câmara Municipal promoveu a primeira disciplina de trânsito no setor urbano, com os sentidos de direção, entradas e saídas, estacionamentos com bebedouros para os animais, e segurança nos transportes de mercadorias, cargas e pessoas. Os preceitos valiam, com as particularizações, para cada tipo de veículo em condições de trafegar e a situação dos animais, como aparência e condições para o peso transportado.

Em 1883, com a edição e aplicações do Código de Posturas, as regras traziam exigências maiores, por exemplo, registros de todos os veículos de tração animal e seus condutores, com anotações de infrações, como amarrar animais em postes de iluminação pública - a querosene, transitar ou estacionar onde não permitido, responsabilizando-se o infrator ou o dono dos veículos pelas multas e danos possivelmente causados.

Em 03 janeiro de 1903, por exemplo, ocorreu sério conflito iniciado no trânsito, com a imigrante Colomba Mariani e suas crianças, sendo uma de colo, seguindo o carro de boi pelas ruas do centro urbano, quando o condutor. inadvertidamente, entrou numa via contramão, em frente a redação do semanário 'Correio do Sertão'.

Foto preta e branca de homens posando para foto Descrição gerada automaticamenteInfração em flagrante anotada pelo Fiscal da Câmara, com desentendimentos entre as partes, o empregado público pôs-se a insultar dona Colomba, ocasião que lhe fez defesa o Antonio Galvão, diretor do Correio do Sertão, até a chegada da autoridade policial em exercício, delegado 'sodrelista', dr. Fernando Eugênio, que não apenas proferiu desaforos à italiana, ameaçando prendê-la, como deu ordem de prisão ao diretor do semanário.

A prisão foi contestada pelos presentes curiosos e os protestos dos principais advogados, com bancas nas imediações, e Antonio Galvão liberado, mas ameaçada a edição do 'Correio do Sertão', prevista para o dia 10 de janeiro de 1903, pelos 'sodrelistas', a gerar fato inusitado de plantonistas populares, na guarda dos próprios da empresa jornalística, bem como os assinantes vindo buscar seus exemplares na redação do semanário, e até a banda musical, com suas apresentações, solidária ao Galvão.

Anos depois, a Lei Municipal nº 84, de 19 de janeiro de 1908 disciplinava melhor o trânsito urbano, conforme o artigo 6º:

"Todos os carros, tropas, carroças e vehiculos de quaesquer especies procedente de qualquer logar da margem esquerda do Rio Pardo, só poderão entrar nesta cidade pela ponte da Rua Visconde de Pelotas [atual Farmacêutico Alziro de Souza Santos] e subir por esta rua até tomar seu destino, e só poderão descer pela Rua Saldanha Marinho e sahir pela ponte desta rua, quando tiverem de se dirigir para a margem esquerda do mesmo rio, sob pena de 10$000 de multa."

A situação em nada se modificaria até 1913, quando os primeiros automotivos em Santa Cruz, daí com significativas alterações nas leis de trânsito, Projeto Legislativo, de 16/11/1913, autoria de Manoel Antonio de Oliveira, transformado na Lei Municipal nº 210, de 17/11/1913, assinada pelo prefeito capitão Godofredo Fernandes Negrão.

Assentos municipais, no primeiro quartel do século XX, ainda trazem solicitações de uso, circulações ou exercícios de atividades, de carros de bois, carretões, carroças e troles (Prefeitura, Requerimentos e Expedições, 1925).

Veículos automotores

Desenho de carro antigo Descrição gerada automaticamente com confiança médiaJá desde 1910 os carros deixaram de ser fabricados artesanalmente para produção em massa, tornando-se mais acessível aos compradores, ainda assim preço bastante caro para a época, entre 6 a 7 mil dólares, ou seja, um ano ou pouco mais de salário norte americano, então em torno de 500 dólares mensais.

Com a importação o veículo chegava a 8 mil dólares em Santa Cruz, valor para poucos por um 'brinquedo' cuja durabilidade não ultrapassava os 20 mil quilômetros de uso. Somente quando os caminhões e as jardineiras chegaram para o trabalho, as máquinas tornaram-se verdadeiramente úteis para o progresso, então, gradativamente a tirar de circulação os lentos e pesados carros de boi, os troles, os tílburis e as desconfortáveis carroças.

No semanário 'Cidade de Santa Cruz', de 26 de outubro de 1913, foi noticiado o primeiro automóvel modelo Page: "Deve chegar na quarta-feira, o primeiro automóvel que vae rodar nas nossas ruas, cujo o facto que assignala o nosso progresso vamos dever ao revd, vigário padre Vicente Risi, que mandou vir para os serviços de alugueis." (Cidade de Santa Cruz, 26/10/1913: 1). A notícia esclarecia que "O producto dos alugueis desse automovel sera revertido a beneficio das obras da matriz".

O primeiro veículo chegou, em vagão de trem. Quase de imediato outros pedidos secundaram-no, ainda no mês de novembro, para 'Garagem Santa Cruz', destinados a aluguéis para passeios pela cidade ou a algum lugar de recreio de propriedade da própria empresa, além dos percursos de divertimentos de ida e volta entre as pontes sobre o Rio Pardo - a nova (Rua Saldanha Marinho) e a velha (Rua General Osório), trajeto estendido até a gare ferroviária. As novidades faziam notícias: 

-"A garage Santa Cruz, no intuito de facilitar a nossa sociedade, uma expansão nas horas de ocio, onde possam melhor passar alguns momentos de recreio, mandou preparar, na chacara Santa Aureliana, proximo a esta cidade um aprazivel logradouro, destinado aos passeios em automoveis, de modo a desviar os passeiantes do circuito continùo, a que estão os mesmos obrigados pelas nossas ruas por carencia de logares para recreios.

E, no Parque Santa Cruz, si bem que ligeiramente organisado aproveita-se uma corrida de automovel, toma-se uma cerveja fresca que refresca o abafado calor das nossas ruas e respira-se um ar puro e saudavel, e tudo isso com o mesmo dispendio com que se expõe o automovel no fastidioso circuito da ponte nova e ponte velha, ponte velha e ponte nova.

O parque está apto para receber a exmas. familias, tudo bem localisado, com ordem, asseio e respeito.

-A garage Santa Cruz, já está em organisação de um outro local destinado ao mesmo fim que será, na fazenda S. Domingos." (Cidade de Santa Cruz, 16/11/1913: 1).

A mesma Garagem encomendou outro veículo "para serviço de viagens directas a Ilha Grande e S. Pedro do Turvo." A Garagem Santa Cruz até estabelecera tabela de preços para seus veículos de aluguel: 

-"Da cidade a estação e vice versa, embarque de madrugada, por pessoa 2$000".

-"Embarque e desembarque durante o dia, 1$000".

-"Corrida pela cidade 6$000".

-"Baptizados 6$000".

-"Casamentos 10$000".

-"Para fóra da cidade, preços a convencionar".

-"Para Theatros e Cinemas ida e volta (lotação do carro) 6$000".

-(Cidade de Santa Cruz, 23/11/1913: 3).

Santa Cruz ingressou na era dos automotores, e no ano de 1920 proibia-se trânsito de carretões, carros de boi e passagens de tropas e boiadas pela rua Conselheiro Dantas (Lei Municipal nº 279, de 16/07/1920), para não atrapalhar trânsito de veículos, ficando a hoje rua Catarina Etsuko Umezu para tais fins. Logo a proibição se estenderia a todo perímetro urbano (Lei Municipal 375, de 16 de julho de 1926), e, em 1928 proibia-se o trânsito de animais e veículo de tração animal nas estradas de automóveis (Lei Municipal 424, 02/06/1928).

Nem todas as leis 'pegaram', e, ainda nos anos de 1960, tropas e boiadas passavam por parte da Catarina Umezu e outras vias públicas, além das tolerâncias de tráfegos de veículos automotores e tração animal.

Os latões com combustíveis chegavam por trem, e conduzidos até a empresa 'Santa Cruz', ironicamente em carros de bois, para o abastecimento de tanques que logo estavam acoplados em bomba manual. Os pequenos caminhões apareceriam anos depois para os serviços de transportes de cargas. O combustível era, também, vendido em casas comerciais, segundo as tradições, embora não encontrado referências oficiais e nem publicitárias.

Em 1921 tornou-se exigência a habilitação de motorista para veículos automotores, conforme Lei nº 300, de 16 de dezembro de 1921. Em Santa Cruz do Rio Pardo apresentaram diversos condutores, a exemplo do médico Dr. Pedro Cesar Sampaio, Carteira de Habilitação nº 18, expedida aos 26 de abril de 1922, pela autoridade municipal - o Prefeito Antonio Evangelista da Silva, assinando com o Coletor Municipal e a Autoridade Policial.

O veículo do Dr. Sampaio era registrado sob o nº 10 (Prefeitura, Registros de Carteiras de Habilitações).

Aos 27 de março de 1925, determinou-se expedição de Carta de Habilitação de veículo motorizado à Maria Ortega Fernandes, mulher de Theodoro Fernandes, após o competente exame no qual aprovada. (Prefeitura, Requerimentos e Expedições, 1925).

Ortega foi cantora solo hispano/santa-cruzense, de grande sucesso na época, também partícipe do Trio Ortega.

Com as chegadas dos primeiros veículos automotores, dezenas de carteiras de habilitação foram expedidas, e as primeiras para motoristas profissionais, constantes em arquivos dos autores, datam dos anos de 1930. Para os serviços burocráticos surgiu a figura do Despachante Policial, intermediário que cuidava desde a importação dos veículos.

Em 1925 (27 de outubro) Benjamin Meneguim habilitava-se para 'chauffeur'. O requerente, sabe-se, foi durante anos, proprietário e condutor de veículos para transportes de passageiros. 

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Fotos para saber o passado

Foto em preto e branco de vaca ao lado de água Descrição gerada automaticamente

Homem ao lado de mala de viagem Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

Foto preta e branca de pessoas na frente de um caminhão Descrição gerada automaticamenteFoto preta e branca de um caminhão Descrição gerada automaticamente

Foto em preto e branco de pessoas na frente de uma casa Descrição gerada automaticamente

Texto, Carta Descrição gerada automaticamente

Texto, Carta Descrição gerada automaticamente

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Sobre o blog/coluna
O casal de memorialistas Celso Prado e Junko Sato Prado dedica-se à história antiga santacruzense e regional. Com uma densa produção literária, Celso e Junko são responsáveis pelo resgate de episódios e personagens marcantes, além de trazerem à tona informações inéditas a partir de meticulosas pesquisas documentais.
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