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Os primeiros imigrantes chineses para o Brasil – 1812

Coluna Celso Prado e Junko Sato Prado

22/12/2024 às 18h34
Por: Colunista Fonte: Celso Prado e Junko Sato Prado
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Imagem ilustrativa gerada por IA
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Dom João VI chegou ao Brasil em 1808 como príncipe-regente de Portugal, em 1818, ainda no Brasil, proclamado rei do Reino Unido de Portugal, do Brasil e Algarves, com a morte de sua mãe em 1816, permanecendo nessa condição reinol, mesmo já ausente do Brasil em 1821, até 1825, quando oficialmente Portugal reconhecia a Independência do Brasil, daí D. João a continuar, então, rei de Portugal.

Os tempos de D. João VI no Brasil foram marcados por feitos e não feitos, os quais não discutidos aqui, nem as razões de sua vinda e o retorno. O que de interesse marcou a presença D. João, em solo brasileiro, foi o continuísmo da escravização dos africanos e dos indígenas, desde 1538, com Jorge Lopes Bixorda, arrendatário do pau-brasil.

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Ainda mais, o então príncipe-regente, em 1810, pretendeu plantações de chá no Rio de Janeiro, com sementes trazidas da China. O chá estava entre os principais produtos do oriente consumido pelos europeus, numa lógica portuguesa que, plantá-lo no Brasil, acresceria os ganhos da Coroa Portuguesa.

Situação pouco conhecida, para a efetivação do seu projeto, D. João VI recorreu à importação de mão-de-obra chinesa em 1812, para o cultivo da erva, cerca de trezentos trabalhadores em regime de trabalho análogo à escravidão, vindos de Macau, um enclave português mantido colônia na China desde 1557.

"A vinda desses imigrantes de origem chinesa ao Brasil não foi espontânea: fazia parte de um projeto de Dom João VI, que pretendia implementar a cultura de chás no Rio de Janeiro. O chá era um dos principais produtos de comércio no Ocidente, plantá-lo no Brasil aumentaria os lucros da Coroa Portuguesa. 

As primeiras plantações experimentais de chá foram realizadas na Fazenda Imperial de Santa Cruz, que pertencia à Coroa, e no atual Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Os planos de produzir chá para exportação fracassaram, desestimulando o projeto de uma contínua imigração chinesa neste período.” (Instituto CPFL - Uma história da imigração chinesa." - https://institutocpfl.org.br/uma-historia-da-imigracao-chinesa/).

Os asiáticos não se adequaram aos tratamentos e exigências dos fiscais das fazendas portuguesas no Brasil, fugindo todos para os centros urbanos, e o projeto não prosperou e interrompida a imigração. Portugal corria o risco de revoltas em sua colônia chinesa caso insistisse nos recrutamentos compulsórios.

Os portugueses radicados ou aqueles nascidos em Macau, miscigenados ou não, assim como os naturais, assimilaram-se e passaram a fazer parte da comunidade macaense, ou macauense, bilingue e com adoções de nomes portugueses e sobrenomes chineses, os “chong cao”, nascidos ou convertidos ao cristianismo – cristão novo); e, com isto, a compreensão que aqueles que vieram para o Brasil não tinham problemas com o idioma e religião, todavia, certamente, com a cultura brasileira.

Em 1822, com a proclamação da Independência do Brasil, os chineses não eram brasileiros e nem portugueses, constituindo uma sociedade à parte, quase clandestina, até 1825 quando, com o término oficial do Reino Unido, tornaram-se ‘brasileiros’ no exercício de atividades pasteleiras e de tinturarias nos grandes centros, além da mascateação pelo interior brasileiro. 

Os imigrantes chineses – segunda leva, 1900

Com a abolição oficial da escravatura negra no Brasil, os grandes fazendeiros recorreram às imigrações europeias como da mão-de-obra livre, chegando ao país os italianos, alemães, russos, poloneses e outras nacionalidades como os sírios e libaneses, um caldeamento de povos que firmaram a nossa cultura e o enriquecimento pátrio. Os japoneses viriam depois.

Santa Cruz do Rio Pardo não esteve entre as primeiras localidades a receber os imigrantes europeus para mão de obra ruralista, recorrendo à continuidade dos serviços compulsórios gratuitos indígenas, portanto, não integrado com o Sistema de Imigração que tinha, como prioridade, a urgente mão de obra estrangeira para núcleos exclusivamente vinculados às fazendas de café, nem se enquadrava ao Sistema de Colonização.

Apenas no século XX os agricultores santa-cruzenses, em especial cafeicultores, a exemplo dos outros fazendeiros do centro sudoeste paulista, de Ribeirão Preto e demais regiões agrícolas, associaram-se para o emprego de mão de obra imigrante mista, através de empresas contratantes, na denominada segunda marcha de expansão do café e demais culturas iniciadas já no século XX.

Santa Cruz destacou-se nessa fase, após a chegada da ferrovia, fator determinante para o escoamento da produção agrícola. Em 1908, oficialmente, a localidade recebeu os primeiros imigrantes, certo, no entanto, que outros chegantes europeus já se encontravam no município, a exemplos dos portugueses, espanhóis e italianos, residentes em colônias nas grandes fazendas, cujos registros ignorados em números e procedências. 

A imigração chinesa esteve interrompida até 15 de agosto de 1900, quando o navio a vapor Malange, vindo de Lisboa, atracou no porto de Santos com 107 trabalhadores chineses, todos homens solteiros, para serviços diversos ao coronel Paulinho Carlos de Arruda Botelho, fazendeiro e político na região de São Carlos.

A exigência, homens solteiros, facilitavam a mestiçagem.

Dois chineses que, em 1906, pretendiam Santa Cruz do Rio Pardo

Nesta segunda etapa da chegada de chineses ao Brasil, a partir de 1900, cinco anos depois muitos já livres do contrato que os prendiam ao local de serviços, resolveram tentar profissões diversas em centros maiores, alguns optando pela mascateação no interior paulista, adiante de Botucatu.

Homem ao lado de cavalo Descrição gerada automaticamente com confiança médiaSabe-se que dois chineses ‘livres’, infelizmente perdidos os nomes e demais detalhes da vida de ambos, desembarcaram na Estação Ferroviária de Cerqueira Cesar, até onde chegava a ferrovia em 1906, com pretensão de caminhada até Santa Cruz do Rio Pardo, de acordo com o relatado pelo engenheiro-arquiteto, Edmundo Krug, alemão a serviço do governo paulista no Paranapanema/Peixe.

Conta o Krug, fonte confiável, que na sua passagem por Cerqueira Cesar, até ali de trem, para prosseguimento, de a cavalo alugado, a São Pedro do Turvo, com um guia (Quinzote) e animais sobressalentes, quando:

"(...) dois chineses pediram para se utilizar delles [os cavalos sobressalentes], pois queriam ir a Santa Cruz do Rio Pardo para ali se estabelecerem com um negocio de tecidos de bambu, com fabricação de cestos, peneiras, vassouras, etc..." (KRUG, Edmundo. As margens do Paranapanema. In: Revista do IHGSP. São Paulo, vol. 23. p. 369-461).

Os chineses pretendiam utilizar-se gratuitamente dos cavalos disponíveis, e, prossegue Krug: 

"O meu amigo Quinzote percebe que os taes não eram cavalleiros firmes na sella, e desejando ver-se livre delles, mas não querendo recusar, accedeu promptamente ao pedido, ajudando até aos dignos homens amarellos a montarem, entregando-lhes em seguida um bahú de folha, no qual se achavam as suas ferramentas e algumas roupas. O pobre chinez tendo puchado demasiadamente as redeas, o animal começou a afastar até que teve de encostar pela rectaguarda numa vidraça da casa de um italiano pouco cortez. Vidros quebraram-se, tiniram os cacos na calçada, o italiano berra e o animal espanta-se de tal forma que, como toda besta velhaca, começa a corcovear; o chinez deixa o bahú cahir, as patas do animal pizam-n'o e o pobre mongolo vem ao solo maogoando-se fortemente na sua digna parte musculosa." (1925: 403).

O chinês, vítima do tombo, culpou o animal pelo acontecimento, preferindo caminho a pé, seguido pelo seu companheiro. Krug atribui o feito de Quinzote como 'ato pilhérico' sertanejo.

Os dois chineses não chegaram a Santa Cruz do Rio Pardo, por certo, desistindo da jornada; talvez tenham retornado para o local de onde embarcaram, quem sabe optado por algum outro lugar. 

A história dos dois chineses, que pretendiam Santa Cruz do Rio Pardo, jamais seria conhecida não fosse o estudioso e sertanista alemão, Edmundo Krug, de credibilidade oficial, um grande nome na história do Brasil.

-o-

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Sobre o blog/coluna
O casal de memorialistas Celso Prado e Junko Sato Prado dedica-se à história antiga santacruzense e regional. Com uma densa produção literária, Celso e Junko são responsáveis pelo resgate de episódios e personagens marcantes, além de trazerem à tona informações inéditas a partir de meticulosas pesquisas documentais.
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