Hoje, 12 de janeiro de 2025, Orlando Villas-Bôas completaria 111 anos. Nascido em 1914, na esquina da Rua Coronel Emigdio Piedade com a Praça Major Antônio Aloe, em Santa Cruz do Rio Pardo, Orlando Villas-Bôas tornou-se um dos maiores defensores dos povos indígenas e do meio ambiente. Ao lado dos irmãos Cláudio e Leonardo, ele liderou a Expedição Roncador-Xingu, que culminou na criação do Parque Nacional do Xingu, a maior reserva indígena das Américas, marco na preservação ambiental e cultural brasileira.
Apesar de sua relevância global, Orlando-Villas Bôas permanece ignorado por sua terra natal. Não há qualquer evento, celebração ou sequer menção na cidade para marcar a data de seu aniversário. A "Semana Orlando Villas-Bôas", criada por lei municipal em 2004, que deveria promover debates, atividades culturais e homenagens ao sertanista, praticamente nunca saiu do papel.
Entra governo, sai governo, e, infelizmente, o poder público local não demonstra nenhum compromisso com a memória e a preservação dos símbolos da nossa história.
No caso do indigenista, o descaso se estende também ao “Complexo Ecológico Orlando Villas-Bôas”, que segue inacabado. A obra, que deveria compreender o Parque Ecológico e o Clube Náutico, remodelados e unidos por uma tirolesa sobre o Rio Pardo, teve início no segundo governo do prefeito Otacílio Assis (PL), atravessou toda a gestão de Diego Singolani (PSD), e ainda não foi concluída. Além de recursos próprios, a obra também recebeu verbas do Governo Estadual através do selo Município de Interesse Turístico (MIT). Atualmente, o espaço tem sido utilizado, principalmente, por usuários de drogas.
No final de 2024, o página d cobrou uma posição do então secretário de Turismo, Gerson Garcia, responsável pela obra. Não obtivemos nenhum retorno.
Ontem, 11, foi a vez do jornal questionar o atual governo através da secretaria de Comunicação. Perguntamos sobre o andamento das obras do Complexo Ecológico e também sobre a omissão do setor da Cultura em relação ao aniversário de Orlando Villas-Bôas, além da falta de atividades relacionadas à semana dedicada ao sertanista. Até o fechamento desta reportagem, também não tivemos resposta.
O casarão onde Orlando nasceu, localizado no centro da cidade, foi posto à venda pelos atuais proprietários.
Questionamos a prefeitura sobre a possibilidade de transformá-lo em um acervo ou museu dedicado à memória do sertanista, através de um esforço do poder público para adquirir ou tombar o imóvel, mas também não tivemos retorno.
Nascido em 12 de janeiro de 1914, em Santa Cruz do Rio Pardo, Villas-Bôas cresceu em uma família numerosa. Seu pai, advogado, havia sido prefeito da cidade e ele era o quinto entre os 11 irmãos. Em 1920, seu pai mudou-se para São Paulo, levando toda a família para o bairro das Perdizes, onde residiram na rua Monte Alegre, em frente ao terreno que, anos mais tarde, abrigaria a Pontifícia Universidade Católica (PUC). Na época, o local era uma área descampada, com vista para a primeira fábrica construída por Matarazzo na região.
Ainda na infância, Villas-Bôas frequentou o Grupo Escolar do Largo das Perdizes, mas, devido à intensa rotina de trabalho do pai, ele e os irmãos Leonardo, Cláudio e Nélson foram enviados para estudar no internato “Ateneu Paulista”, em Campinas. A baronesa de Campinas, amiga da família, foi designada como responsável pelos garotos na cidade. Aos domingos, ela os recebia em sua casa, onde os ensinava boas maneiras.
Apesar de voltarem a viver na capital paulista, a formação interiorana da família era evidente. O pai de Villas-Bôas também havia sido prefeito de Campos Novos de Paranapanema, região reconhecida pela produção de laranjas, atividade que demandava mão de obra intensa. Foi nesse contexto que um episódio envolvendo a exploração de indígenas marcou a memória familiar. Dois fazendeiros espanhois trouxeram 53 índios terenas a pé de Mato Grosso para trabalharem nos laranjais da cidade. Indignado com a situação, o pai de Villas-Bôas mandou prender os responsáveis e abrigou os indígenas nos fundos da prefeitura, organizando posteriormente uma expedição para devolvê-los à terra natal.
Esse contato precoce com a causa indígena, ainda antes de seu nascimento, foi uma experiência que influenciou profundamente a trajetória de Villas-Bôas e de sua família. Com uma situação financeira confortável, os irmãos foram transferidos para o "Colégio Paulista", em São Paulo. No entanto, a crise do café trouxe mudanças significativas para a família e para a vida do futuro defensor dos povos indígenas.
Mais tarde, já adulto, ao lado dos irmãos, Orlando embarcou na missão que mudaria sua vida e a história do Brasil: a "Marcha para o Oeste", organizada pelo governo de Getúlio Vargas, com o objetivo de “interiorizar” a população brasileira que estava concentrada basicamente numa faixa próxima ao litoral.
Orlando Villas-Bôas foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, homenageado por universidades e organizações em todo o mundo. Ele faleceu em 2002.
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