Manoel Francisco Soares, pioneiro na região santa-cruzense doou, em 1861, em torno de cem alqueires de terras ao patrimônio da Santa Cruz, para a formação de um povoado, negociação intermediada pelo reverendo padre João Domingos Figueira, na época, um dos fazendeiros na região.
Não se sabe exatamente a data, dia e mês, da doção dos terrenos, senão o ano, 1861, e, já em 1862 concluído o templo religioso, ignorados dia e mês, todavia, a dar crédito numa crônica de 1887, a entronização no altar da igreja de uma imagem de São Sebastião, talhada em madeira, igualmente doação do pioneiro Manoel Francisco Soares:
— ” [A] imagem de S. Sebastião, soberba imagem doada pelo mesmo fundador, ahi Manoel Francisco [Soares], sua numerosa familia, e todos os já então habitantes deste sertão e dos terrenos do patrimonio, se reuniam, e, em fervorosas orações, acompanhavam o virtuoso em sua supplica ao Creador e Redemptor da humanidade (Crônica, Almanach para a Província de São Paulo, 1887: 542-549)”.
Esta tradição nos parece suficiente, não da fundação de Santa Cruz do Rio Pardo, mas da vinculação do lugar com o orago, já em 1862, cuja comemoração sabidamente, pelo credo católico, 20 de janeiro.
Também em 1862, a primeira identificação civil conhecida para Santa Cruz, fora as cartas de Figueira, num ofício expedido aos 23 de novembro daquele ano, pela Câmara Municipal de Botucatu à Presidência da Província de São Paulo:
— ” Ha neste Municipio [Botucatu] sette Igreijas, a Matriz desta Villa, a de Lençois, a de São Domingos, [a] da Piedade do Rio do Peixe, a de Santa Crus do Rio Pardo, [a] da Santa dos Remedios no Tiete, e a do Rio Novo, as treis primeiras pouco tem sido auxiliada pelo Governo, e as ultimas mais pequenas porem decentes e feitas a custa dos fieis, pelo que V.Exa. colligera que neste Município o povo he religiozo o que sertamente satisfara ao Governo de V.Exa. para assim ajudal-los.” (Arquivo do Estado de São Paulo – AESP, Documentos: Ofícios Diversos para Botucatu).
Dois dias após o comunicado camarário botucatuense, aos 25 de novembro de 1862, o padre Andrea Barra, vigário de São João de São Domingos formalizava a nova Capela celebrando ofícios religiosos, inclusos batizados, sendo primeiro o da infante “Maria de idade de tres mes filha legitima de Miziel [e] Rozalia, Escravo do Padre João Domingos Figueira, forão padrinhos Jose Peres das Chagas e Maria Inosencia da Conceição (…).” (Eclesial, 1859/1879).
Mas, o lugar já era conhecido em 1857, menciona-o a Igreja, aos 25 de fevereiro aquele ano, no assento batismal de:
”André, filho legitimo de Antonio Rodrigues de Moraes e Ana Apparecida da Conceição, da freguezia de Campestre, da Provincia de Minas Gerais, que residem no bairro de Santa Cruz [do Rio Pardo]. Forão padrinhos Jose Manoel de Andrade e Dona Maria da Conceição.” (Santa Cruz do Rio Pardo, Batismos, 1856/1884: 6)
No arrolamento eleitoral de 1857 para o exercício de 1858, Santa Cruz estava classificada como Quarteirão Eleitoral do Rio Pardo, da Freguesia de São João de São Domingos, no município de Botucatu.
Destrinchando o nome Santa Cruz do Rio Pardo, sem dúvidas o ‘Santa Cruz’ era o nome de uma das fazendas de Manoel Francisco Soares, iniciada na confluência entre o Rio Pardo e o afluente Ribeirão São Domingos, conforme antigo expediente mencionado, ser de 1855 e anexado em processo de desmembramento da fazenda São Domingos cujo primitivo nome Santa Cruz (CD: A/A).
Desconhecida a causa da denominação Santa Cruz, buscamos nas tradições da época, o costume cristão, no Sertão, em denominar algum lugar em razão do dia de algum orago ou oraga, seguido de nome marcante regional ou toponímico, assim, Santa Cruz, originalmente celebrada aos 03 de maio, seguido por Rio Pardo, com certeza em razão do rio.
— Dia 03 de maio era o dia da “In Inventione Sanctae Crucis”, data que a Igreja transferiria para 14 de setembro, apenas pós 1965.
Exceto a vinculação de Santa Cruz do Rio Pardo com a entronização da imagem de São Sebastião no altar do primeiro templo religioso local, nenhuma data traz a certeza para se comemorar mais um ano santa-cruzense. Entende-se, até, que a comemoração tenha partido quando Santa Cruz do Rio Pardo elevada à condição de Freguesia, aos 20 de abril de 1872, pela Lei Provincial nº 71, mantendo-se, no entanto, o dia consagrado ao orago São Sebastião.
Finalizando, Junko e eu, aderidos às tradições, parabenizamos Santa Cruz do Rio Pardo e toda sua população no dia 20 de janeiro de 2025.
Mín. 19° Máx. 30°