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Nova banda

11/07/2024 às 10h00
Por: Colunas Fonte: Enzo Pellegrino
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Quando criança, por vezes lamentei não ter sido agraciado com o dom da musicalidade, fosse para tocar instrumentos musicais ou mesmo para cantar ou dançar. Até tentei ter aulas de violão ou me arriscar com alguns instrumentos, mas minha total inaptidão me fez entender (e aceitar) que nunca passaria apenas de uma brincadeira, preferencialmente praticada na boa solidão do meu quarto para não ferir ouvidos alheios.

Mais tarde, fascinado por mangás, animes e tatuagens, o que eu queria mesmo ter, se me fosse conferido o poder da escolha, seria o dom de desenhar ou pintar. Criar uma própria história em quadrinhos, desenhar os amigos, pintar belos quadros ou paisagens, compor cenários, bolar as próprias tatuagens… Não seria muito legal? Só que meu desempenho desenhando ou pintando sempre foi tão incrível quanto minha capacidade para entender partituras, ou seja, um completo fracasso, salvo se o desafio consistir em desenhar uma casa com porta, janela e chaminé, acompanhada de nuvens, gaivotas em formato de “v” e um Sol com olhos e uma boca sorridente. 

Também já tive vontade de ser bom em alguma arte marcial, algo totalmente incompatível com meu espírito pacífico e minha aversão às dores físicas; e, assim como a maioria das pessoas, já imaginei diversos outros cenários em que possuía um ou outro talento que não tenho, fantasiando como seria interessante poder colocar em prática tudo aquilo. O talento musical, por exemplo, certamente me levaria a desejar ter uma banda, assim como o talento para a pintura me faria ansiar por expôr meus quadros ou vê-los pendurados por aí.

Só que, infelizmente, não fui agraciado com nenhum desses dons. O que me restou, e que só descobri casualmente durante a vida, foi a capacidade para a escrita. E tomem nota que não entendo como um dom, isso é coisa para Gabo, Galeano, Conan Doyle, Clarice Lispector e tantos outros que encantam o mundo com suas palavras, contos e versos. No meu caso, julgo ser apenas uma facilidade para escrever, uma aptidão que viabiliza meu trabalho como advogado e que me possibilita colocar pensamentos no papel de uma maneira clara.

Isso me levou a escrever aqui e ali e, com isso, a adquirir a coragem que me faltava para a exposição pessoal por intermédio das palavras. Entendo dessa forma porque a escrita escancara a alma do autor com muita facilidade e sem muitos disfarces, como ocorre em outras artes, as quais exigem maior interpretação e atenção para captar a mensagem. A pintura é um excelente exemplo disso, muito diferente do mundo das palavras escritas, no qual basta um mínimo esforço do leitor para aprender o que quiser sobre o escritor: o que pensa, o que sente, o que o agrada e, principalmente, o que o desagrada.

Sem pensar muito, passei a escrever cada vez mais. Primeiro mantive ativo um blog entre 2008 e 2011 — o saudoso “Presunto 10 Capitão”, alimentado por mim e pelo amigo Valdemar Neto com pitacos e críticas sobre o mundo do futebol — e posteriormente escrevi para veículos impressos da cidade, como o AUÊ Cultural, a Revista OPs!, o Jornal Debate e, finalmente, agora escrevo para o página d.

Parando para pensar, percebo que tive, no final das contas, minhas galerias de exposição e que fiz meus shows, ainda que solo. Passo agora a integrar uma nova banda, na qual toco meu instrumento não tão bem quanto outros, mas de maneira suficiente a não precisar me resguardar à solidão do quarto; sem desafinar muito, ainda que erre alguns acordes ou que as músicas não agradem a todos os ouvidos. Faz parte, afinal.

Embora não possa ser encontrado no Spotify, hoje sou feliz com uma bênção que escapa a quase todas as outras artes, pois quem escreve não se dirige apenas à sua plateia, ao seu público. Diferentemente da palavra falada, a escrita não desaparece no ar ou morre no instante, porque quem escreve conversa com o tempo, fala com ele e nele vive. Quem escreve tem a incrível possibilidade de paralisar os pensamentos para todo o sempre, dando ao leitor a possibilidade de visitá-los a qualquer momento, com cafezinho e tudo mais.

A partir de agora, paraliso meus pensamentos aqui, no “página d”. Sua visita será sempre muito bem-vinda.

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Enzo Pellegrino
Sobre o blog/coluna
Enzo Pellegrino Pedro é santa-cruzense e sócio do escritório Pellegrino Advogados. Graduado pelo Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), é pós-graduado em Advocacia Trabalhista e em Direitos da Incapacidade Laborativa, Acidente do Trabalho e da Doença no Brasil.

Longe do mundo do Direito, já foi colaborador da Revista OPs!, colunista do AUÊ Cultural e também do Jornal Debate.

Filho do Naco e da Silvana, é apaixonado por cachorros, livros, cinema e pelo São Paulo Futebol Clube. Deixa o mundo jurídico mais para o trabalho, conferindo a si mesmo o direito inalienável de escrever sobre todas as coisas, ou então sobre nada.
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