Todos conhecem a história de Orlando Villas-Boas, o filho santa-cruzense mais ilustre e mundialmente conhecido, duas vezes incluso para a premiação Nobel da Paz, mas quase ninguém sabe, no Brasil, pelo menos, quem foram os vencedores, mas de Orlando sim, todos já ouviram dizer.
Não queremos escrever sobre Orlando, afinal, as autoridades civis e militares, político-administrativas e os professores, quem deveriam homenageá-lo.
Junko e eu, então, resolvemos algo diferente neste ano de 2025, quando Orlando completaria 111 anos, posto nascido aos 12 de janeiro de 1914. Queremos, isto sim, a trajetória dos seus pais até o seu nascimento em Santa Cruz do Rio Pardo.
—O homem não escolhe, absolutamente, onde nascer; seus pais para lá o levam ou que por outro meio for, mas não é ele quem decide. Orlando aconteceu, nascer em Santa Cruz do Rio Pardo, mas como?
Tudo começa, para a história santa-cruzense e do Orlando Villas-Boas, lá em Campanha, Minas Gerais, aos 03 de janeiro de 1882, quando do nascimento do Angelo Villas-Boas, na mineira Campanha, filho de José Bernardes Villas-Boas Junior e de Maria Justa Villas-Boas.
— Não nos metemos em genealogias, mas, José Bernardes Villas-Boas Junior era filho de José Bernardes Villas-Boas e Bárbara Carolina Pereira, descendentes do genearca João Annes de Villas-Boas (História da origem dos Villas Bôas - http://www.genealogia.villasboas.nom.br/HistoriaVillasBoas.html).
Não se sabe quando Angelo adotou o nome Agnello, ou o seu nome primitivo um erro eclesial que a família optou ignorar, embora se saiba que seu primeiro documento como Agnello, já definido em 1906, por ocasião de seu matrimônio com Arlinda Villas-Boas, nascida em Itapira-SP, aos 13 de julho de 1887, filha natural da 'doméstica Josepha Ferreira [de Souza]', da casa de Francisco Victoriano Villas-Boas e Maria Celestina Villas-Boas, sendo depois reconhecida filha de José Antonio de Villas-Boas.
Agnello foi nomeado Escrivão de Rendas Federal, para a Coletoria de Botucatu (Estado de S. Paulo, 26/07/1902: 1) e exonerado aos 27 de julho de 1907 (DOSP, 01/08/1907: 2187), para aventurar-se na advocacia, como provisionado, sendo examinado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (Correio Paulistano, 17/06/1908:1), aprovado plenamente (Correio Paulistano, 24/06/1908: 1) para o exercício em Campos Novos, então, do Paranapanema (Correio Paulistano, 26/06/1908: 2), autorização renovada em 1910 (Correio Paulistano, 25/09/1910: 2).
— Advogado provisionado era aquele que, não possuindo formação acadêmica em Direito, obtinha a autorização do órgão competente do Poder Judiciário, ou da entidade de classe, para exercer, em primeira instância, a postulação em juízo.
No ano de 1912 Agnello já estava residente em Santa Cruz do Rio Pardo, organizando o Partido Republicano Paulista para as eleições federais daquele ano (Correio Paulistano, 01/01/1912: 4).
Nas eleições municipais, de 30 de outubro de 1913, elegeu-se Vereador (Correio Paulistano, 08/11/1913: 3), e na eleição da mesa, de 16/01/1914 - dia da posse, foi escolhido Prefeito (Correio Paulistano, 18/01/1914: 1 e 4); com prorrogação de mandato a partir de 15 de janeiro de 1915 (Correio Paulistano, 16/01/1915: 4).
Villas-Boas, como prefeito, recebeu elogios publicados pela revista quinzenal 'A Cigarra', à frente de um município progressista, com nove milhões de cafeeiros, produções em quantidade de cereais, indústria pastoril e próspero comércio de exportação de madeira de lei.
A matéria evidenciava, ainda, a receita municipal com 200 contos de réis como resultante de excelente administração - Prefeitura e Câmara Municipal, elogiando a conclusão do prédio do Grupo Escolar, com capacidade para quatrocentos alunos, e o projeto para a instalação das redes de água e esgoto.
A obviedade política da publicação, porém, encerrava quem de fato era o líder santa-cruzense: "Muito tem contribuido para o desenvolvimento do importante municipio o sr. cel. Antonio Evangelista da Silva, grande proprietario, agricultor e criador." (A Cigarra, 05/02/1915: 30-37).
A despeito dos louvores, a política local não caminhava bem nas mãos de Villas-Boas, e na sessão camarária de 21 de junho de 1915, o prefeito Agnello renunciou aos cargos de Prefeito e Vereador, pedido aceito, e o vereador, capitão Manoel Antonio de Oliveira assumiu o cargo de prefeito do qual viria logo resignar-se a favor do coronel Antonio Evangelista da Silva – Tonico Lista.
Por Decreto de 24 de outubro de 1916, Agnello Villas-Boas foi provido na "Serventia vitalícia do officio de 1º tabellião de notas, com os anexos do civel e do commercio, dos orffans e ausentes, da provedoria e do crime, da Comarca de Botucatu" (Estado de S. Paulo, 25/10/1916: 8). Militou na política botucatuense em 1918 (Combate, 06/06/1918: 3 e 10/06/1918: 1), e em 1921 pertencia à Liga dos Agricultores de Botucatu (Correio Paulistano, 15/05/1921: 2).
No ano de 1922 teve seu nome lançado no rol dos candidatos a Deputado Estadual pelo 5º Distrito, não eleito.
Em meado dos anos de 1920 Agnello transferiu residência para São Paulo, segundo depreende-se de Orlando Villas-Boas (Ebook 'Rompendo Fronteiras' disponível no sítio eletrônico do jornal O Estado de S. Paulo, página dedicada ao sertanista, "O cacique branco do Xingu", http://www.esta-dao.com.br/villasboas/index.htm). Teria fixado residência à rua Genebra nº 49-A, no Bairro Bela Vista (Correio Paulistano, 07/06/1927: 18 - Imposto Predial e Taxas). Em São Paulo Agnello foi sócio da Casa Comissionaria do Café, atingida pela crise de 1929.
Não bem-sucedido em São Paulo, Agnello retornou para o interior do estado, no município de Candido Mota (Diário Nacional, 31/03/1929: 6), para o exercício da advocacia e cuidados de duas propriedades rurais, insistindo no ramo cafeeiro (Diário Nacional, 08/08/1930: 5), e teve participação na Revolução de 1930. Teria sofrido um enfarte em 1929 (http://www.ajorb.com.br/vt-forum-07-11.htm - Está pronto o livro 'Assis de A a Z', Luiz Marcos Barrero, 09/11/2007: 4-7).
No ano de 1931 Agnello Villas-Boas, foi nomeado prefeito em Candido Mota, SP (DOSP. 08/01/1931: 189).
Má administração particular, Agnello perdeu suas propriedades e, com a saúde abalada, vítima de hemiplegia, retornou a São Paulo onde em 1936 tinha endereço informado à "Rua Consolação, 159 sb.º." (Correio Paulistano, 10/05/1936: 21). O filho Erasmo, nascido em 1907, constituiu família em Assis onde permaneceu até o seu falecimento e lá sepultado.
Dona Arlinda faleceu em 1941, em São Paulo, e cinco meses depois morreu Agnello. O casal teve os seguintes filhos levantados pelos autores em documentos diversos.
1. Erasmo nascido em Botucatu no ano de 1907 e falecido em Assis.
2. Maria de Lourdes, nascimento aos 28 de dezembro de 1909, em Campos Novos [do Paranapanema].
3. Aldamo, nascido no mês maio de 1911, em Santa Cruz do Rio Pardo, onde faleceu aos 30 de abril de 1912, idade de idade de 11 meses.
4. Nelson, nasceu aos 07 de agosto de 1912, em Santa Cruz do Rio Pardo.
5. Orlando, nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo em 12 de janeiro de 1914 e morreu em São Paulo aos 12 de dezembro de 2002.
6. Osvaldo, nasceu em 10 de abril de 1915 em Santa Cruz do Rio Pardo (SP), onde também faleceu, aos 03 de setembro de 1915, idade de cinco meses.
7. Cláudio, nascido em Botucatu, aos 08 de novembro de 1916, faleceu em São Paulo aos 01 de março de 1998.
8. Leonardo nasceu em 28 de março de 1918, em Botucatu e faleceu em 6 de dezembro de 1961.
9. Álvaro, nascido em 1923 e falecido em 1995.
10. Ana Therezinha, 1924.
11. Arthur.
12. Acrisio.
De Agnello se escreveu: "Ele, maçom bem posto na hierarquia da Ordem, advogado mais bem sucedido, em cidades do interior e da capital paulista, onde defendeu causas importantes, inclusive uma de Rui Barbosa" (Borges – Durval Rosa Sarmento, Rio Araguaia Corpo e Alma - Os Irmãos Villas-Boas, Ibrasa, 1986: 246).
Também foi membro da Guarda Nacional: Tenente, Major e Tenente-Coronel, conforme publicações em diários paulistanos (Documentos, Cópias Digitalizadas em Arquivos dos Autores – CD: A/A). Em 1915, por ocasião da inauguração do Grupo Escolar, foi referenciado como Tenente-Coronel, prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo (O Estado de S. Paulo, 19/05/1915: 5).
Agnello marcou sua presença na Revolução Constitucionalista (1932) expressada num telegrama ao Presidente Francisco Morato, do PD: "Assis – Solidario Partido Democratico esclarecida orientação defesa terra paulista estou prompto qualquer sacrificio, aguardando ordens presado chefe. Meus filhos reservistas vão incorporar. – Agnello Villas-Boas - " (O Estado de S. Paulo, 14/07/1932: 5).
O famoso filho 'santa-cruzense' Orlando Villas-Boas
Não existe nenhum acontecimento na vida pública de Orlando Villas-Boas que não tenha sido descrito por renomados autores e estudiosos, nacionais e internacionais.
— Opa, prometemos nada descrever sobre Orlando e seus irmãos, quem sabe noutra oportunidade.
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Os Irmãos Villas-Bôas – Orlando, Cláudio e Leonardo – importantes exploradores brasileiros e defensores da causa indígena no país. https://observatorio3setor.org.br/os-irmaos-que-dedicaram-suas-vidas-a-luta-pela-causa-indigena/
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