No próximo domingo, 23, completa-se um ano da morte de Sérgio Fleury Moraes, fundador do Jornal Debate e figura central da imprensa de Santa Cruz do Rio Pardo por quase cinco décadas.
Fleury fez do jornalismo sua missão, enfrentando censuras, pressões políticas e desafios financeiros para manter a população informada com coragem e rigor.
Com a partida de Sérgio, também encerrou-se a contundente trajetória do Jornal Debate, cujo acervo guarda boa parte da história da cidade em imagens, entrevistas e textos - que necessitam com urgência de um projeto de preservação.
Nascido em Santo Anastácio, em 25 de outubro de 1959, Sérgio mudou-se para Santa Cruz do Rio Pardo ainda garoto, onde deu os primeiros passos no jornalismo ao fundar o jornal "O Furinho", impresso no mimeógrafo da escola.
Aos 17 anos, emancipou-se e lançou o semanário Debate em 17 de setembro de 1977, com o slogan "Uma voz livre em sua defesa". O jornal manteve-se em funcionamento por 47 anos, tornando-se o mais longevo da cidade, com uma linha editorial independente e combativa.
O Debate teve entre seus colaboradores nomes de peso da política e do jornalismo brasileiro, como Fernando Henrique Cardoso, Fernando Morais, Flávio Bierrenbach e José Aparecido. Em 1997, o periódico ganhou notoriedade nacional ao ser condenado a pagar uma indenização de R$ 345 mil a um juiz em um processo de danos morais.
A quantia representava 3,5 vezes o faturamento anual do jornal, segundo Fleury, que chegou a ser preso por ordem do mesmo magistrado, acusado de crime eleitoral.
O caso gerou uma mobilização nacional sobre a liberdade de imprensa e a constitucionalidade da Lei de Imprensa. Convidado ao "Programa do Jô" e a escrever na Folha de S.Paulo, Fleury tornou-se um dos protagonistas na luta pela revogação da legislação.
Em 2009, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a Lei de Imprensa não era compatível com a Constituição de 1988, e Fleury foi homenageado pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ), sendo convidado a entregar o prêmio "Liberdade de Imprensa" naquele ano.
Mesmo com dificuldades financeiras e processos judiciais, manteve sua linha editorial até fevereiro de 2024, quando faleceu em razão de um câncer agressivo.
Mais do que um veículo de comunicação, o Jornal Debate tornou-se um verdadeiro arquivo da história recente de Santa Cruz do Rio Pardo. Em suas páginas, ficaram registradas as transformações políticas, os principais personagens da cidade — dos mais ilustres aos anônimos —, suas tradições, costumes, crenças e momentos marcantes, tanto de glória quanto de tristeza.
Hoje, esse acervo, composto por milhares de textos, entrevistas e fotografias raras, corre o risco de se perder. Trata-se de um patrimônio inestimável, que merece ser resgatado e preservado para as futuras gerações. Uma iniciativa do poder público, em parceria com a sociedade civil e empresas locais, poderia garantir a digitalização e organização desse material, tornando-o acessível a pesquisadores, estudantes e à população em geral.
Além de uma ação cultural e histórica de grande relevância, a preservação do acervo do Debate seria também a maior homenagem a Sérgio Fleury Moraes, cujo legado transcende a simples publicação de notícias. Seu trabalho foi, e continua sendo, um testemunho da identidade de Santa Cruz do Rio Pardo. O resgate desse arquivo é uma necessidade urgente e um compromisso com a memória da cidade.
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