"A vida não termina, apenas muda de forma"
O jornalista Sérgio Fleury Moraes deixou uma herança na imprensa de Santa Cruz do Rio Pardo e região que dificilmente será repetida. As ideias dele influenciaram nacionalmente a revogação do entulho autoritário da Lei de Imprensa do regime militar.
Foram nas páginas do combativo DEBATE no confronto com o judiciário local que se discutiu a incompatibilidade da nova Constituição com a vigência de uma lei de imprensa caótica e arbitrária. Mas não só isso: o semanário teve nos últimos 40 anos importância na melhoria dos costumes da política local.
A cidade progrediu economicamente graças a vigilância da imprensa que forjou lideranças políticas responsáveis e afastou os politicos improbos. O jornalista travou batalha diária de cobrar o Poder Público a abandonar os valores ultrapassados da demagogia e corrupção.
A própria imprensa local evoluiu com a concorrência do DEBATE de se buscar a notícia, não importa qual interesse ser contrariado. Estive presente no semanário editado pelo Sérgio no período mais difícil de quando o jornal sofreu censura. E esse enfrentamento qualificou o publicação, prova o reconhecimento de grandes jornais como Folha de S. Paulo, Estado de São Paulo e O Globo.
Mas Sérgio não era só ativismo, tinha paixão pela reportagem. O jornalismo corria nas sua veias. Foi editor, fotógrafo e nunca deixou a reportagem de campo. Nos episódios conturbados da cidade e região estava lá na linha de frente. Não me esqueço de uma greve na Usina Sobar de Espírito Santo do Turvo em que Sérgio fazia as fotos e eu na reportagem. Houve avanço da tropa de choque e ele no meio do furdunço - tomou uma pedrada na perna e continuou firme na cobertura jornalística.
Era o jornalista raiz no local. Hoje os repórteres sumiram das ruas. Na época se repudiava o "jornalismo de gabinete", aquele feito por telefone ou longe dos fatos. Hoje virou praxe, apesar de toda evolução das mídias. Sérgio partiu prematuramente, porém, o seu legado está aí para ser reconhecido. Deixou um arquivo de fotos, coleção de jornais (o semanário também arquivava outras publicações da cidade).
Parte do DEBATE está digitalizado em CDs, mas tem acervo vasto que representa o período de evolução de Santa Cruz do Rio Pardo entre 1977 até 2015. Isso tem que ser preservado. Nada mais justo do que prefeitura e Câmara estudarem implementar política pública de preservação desse acervo. Os recursos modernos possibilitam democratizar esse acesso a todos na coletividade. O acervo pode se digitalizado e ficar disponível na Internet para a população.
Qualquer cidadão do município ou fora num só click acessar páginas de edições antigas e fotos. O arquivo em papel e documentos poderão ficar guardados em museu, sem necessidade de manuseio. O jornalista dedicou a maior parte de sua vida a reportar a história da cidade, enaltecer desde o mais humilde cidadão até os responsáveis diretamente pelo progresso dessa urbe centenária.
Após um ano de seu falecimento, o legado de Sérgio continua vivo: precisamos preservar a história moderna de Santa Cruz do Rio Pardo. E não devemos esquecer de uma frase do filósofo Platão :"A vida é eterna, apenas o corpo é temporário"
Aurélio Fernandes Alonso foi editor regional no DEBATE, de 1 de setembro de 1991 a 10 de setembro de 2008.
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