Então, há um ano, o jornalismo brasileiro perdia Sérgio Fleury Moraes. Morto aos 64 anos de idade, Sérgio deixou três filhos e nenhum neto. Temos, portanto, uma geração além da nossa (eu e ele tínhamos quase que a mesma idade) para se lembrar dele pelos próximos anos. Mas, e quando não restar em Santa Cruz do Rio Pardo nem mais uma pessoa que o conheceu?
Nascido em Santo Anastácio, Sérgio mudou-se ainda garoto para Santa Cruz. Ganhou a cidade talvez o seu mais brilhante "filho adotivo”. Estive na sua família por quase três décadas e, durante os 47 anos de existência do Debate, fui seu colaborador – do número zero até a última edição. E nessa convivência, nunca vi uma única foto do Sérgio brincando quando criança ou quando jovem. Jogando bola, soltando pipa, andando de bicicleta... Nada!
Sérgio deve ter vindo ao mundo para fazer jornal. Antes do “Furinho”, impresso no mimeógrafo da escola, ele brincava fazendo um único exemplar com recortes do Estadão que seu pai assinava e tinha lido no dia anterior. Esse exemplar quase sempre era vendido para o seu avô Nelson. E, ainda menor de idade, Sérgio fundou o Debate, em setembro de 1977.
Iniciava ali a mais apaixonada história de amor por Santa Cruz, pela sua história e por sua gente. Principalmente a gente mais humilde que só tinha no jornal uma voz em sua defesa. Nenhum político, nenhum empresário, ninguém fez mais por Santa Cruz do que Sérgio Fleury Moraes. O Debate foi, durante quase cinquenta anos, palco e trincheira de políticos, artistas, esportistas, historiadores e cidadãos comuns.
Talvez logo tenhamos um logradouro público com seu nome, com direito a placa e tudo. Mas, daqui a cem anos, quem saberá quem foi aquele nome na placa? Por isso, acho que a homenagem que Santa Cruz deve fazer a esse seu filho é um projeto de digitalização e microfilmagem de todo o acervo do jornal Debate. Neusa Fleury Moraes, sua irmã mais velha, fez isso em Ourinhos com a coleção do Diário da Sorocabana, de Salvador Fernandes; de O Progresso, de Odayr Alves da Silva; A Folha de Ourinhos, de Miguel Farah, dentre outras publicações. É possível, portanto. Basta querer.
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