Houve o tempo que eu sonhava, e sonhos, não raro, se desfazem nas brumas da realidade. No meu sonho a lua inclinada sobre o rio tinge-o do colorido de prata, versando para as almas do povo encantado que navega alimentado pela sabedoria infinita.
Na caminhada deste mundo sem fim não tarda uma esquina que lança o vivente na dobra do tempo, guardando-o ali na tenda da eternidade deixando atrás de si, soluços vazios. O vivente, embora cansado, possui o escudo da ousadia, do caráter perspicaz e observador desenhados no riso forte e na missão cumprida.
No seio da esperança mora o dom da serenidade, afoita na tecelagem de retalhos que juntos, constroem a expectativa da boa vontade bebendo da fonte da razão os saberes e as bençãos de todos os poderes, à espera de toda cura.
Como a teia da aranha cuidadosa o vivente edifica o seu dossel, um abrigo de alento que o distancia lentamente da inquietude deste mundo sem fim. Na certeza dos passos firmes entre o aroma do café na alvorada até o saborear do vinho no crepúsculo quando repousa a fronte, corajosamente, com a credulidade guia e guardiã protetora, compreende que tudo pode se transformar.
Sérgio, há um ano sua voz se calou, porém, tu escreveste no prefácio do meu segundo livro que eu acredito no poder da palavra, logo, enquanto existir uma palavra, sua memória viverá, pois viver, de todas as aventuras, ainda é a mais fascinante. Seu fascínio pela vida construiu uma bela história, ainda que esta noite tenha impedido o amanhecer.
Diva Fernandes - Escritora.
Mín. 15° Máx. 30°