Diz o ditado: “Prego que se destaca, é martelado”.
Imagino que você já tenha lido ou ouvido a frase acima, mas nunca se perguntou o porquê daqueles que se destacam se tornarem um alvo?
Com origem em um estudo realizado pelo psicólogo americano Solomon Asch no século passado, a conformidade é o processo pelo qual membros de um grupo social mudam seus pensamentos, decisões e comportamentos para estarem de acordo com a opinião da maioria. Mesmo que de forma inconsciente, tememos chamar a atenção – e, inclusive, triunfar, por medo de que nossas virtudes e nossas conquistas causem rejeição ou conflitos. Nos calamos para pertencer.
O paradigma de Solomon evidencia particularidades de nossa condição humana. Por um lado, revela a falta de autoestima e de confiança em si, ao pensarmos o quanto nosso valor enquanto indivíduo depende de como os outros nos avaliam. E, por outro lado, constata uma verdade inconveniente: fazemos parte de uma sociedade que ainda tende a condenar o talento e o sucesso alheios. Embora pouco se fale sobre isso, o fato de prosperar é malvisto.
Por trás de condutas assim se esconde um vírus traiçoeiro, que nos adoece e paralisa o progresso das relações sociais: a inveja.
Definida como a tristeza pela alegria alheia, a inveja surge quando colocamos foco no outro em detrimento do olhar para si – do olhar para dentro, e evidenciamos nossa dificuldade de entender a prosperidade, a inteligência, a beleza alheia.
Sob os efeitos da inveja, somos incapazes de ficar felizes com as alegrias alheias, que atuam como um espelho onde refletem nossas próprias frustrações. Reconhecer limitações é tão doloroso, que necessitamos canalizar nossa insatisfação julgando a pessoa de destaque. Ao invés de nos inspirarmos para alcançar aquilo que desejamos, combatemos quem o detêm.
Individualmente, para aqueles que sentem a pressão coletiva pela estagnação, pela mediocridade, o primeiro passo para superar o complexo de Solomon, o status de conformidade e brilhar consiste em compreender quão prejudicial é se deixar incomodar pela opinião que as outras pessoas têm sobre nós. Nada simples, mas totalmente possível através do aprimoramento de nossa inteligência emocional e social - temas para um próximo artigo.
E no momento em que o superarmos coletivamente, possibilitaremos que cada um contribua, de forma singular, com o melhor de si para a construção de uma sociedade melhor.
Inspirado em Friedrich Nietzsche, concluo:
“Nunca é alto o preço a se pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo”.
*A opinião dos nossos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do página d.
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