— Olha, Márcia! Olha o jeito que ele mexe as mãozinhas quando fica bravo na frente da televisão! Não é uma fofura? Parece você quando era pequena…
— Hahaha! Sim, ele costuma fazer isso mesmo, Joana, e nem queira ver ele realmente bravo, a casa vira uma gritaria de dar medo! Sorte que nem percebeu a nossa presença, porque só de se sentir observado já abriria o bocão.
— Márcia, mas me diga uma coisa… Por que você comprou esse monte de coisas para comemorar um simples aniversário? Sou sua irmã e sei que não está podendo gastar, mês passado mesmo você estava reclamando que o mar não está para peixes. Ganhou na mega, é?
— Não, não… Quem me dera, Amanda! Agradeço toda a ajuda que sempre me dá, mas não é sempre que se faz aniversário, né? Usei aquele dinheirinho que estava guardado para emergências, aquele que não era para ser usado… Pensei: pobrezinho, vai ficar tão feliz, nada paga aquele sorrisinho. Dinheiro a gente arranja depois, vendo alguma coisa, sei lá. O importante é que ele fique feliz, e pode deixar que não vou te pedir outro empréstimo tão cedo, você já me ajudou demais.
— Mas não dava pra fazer algo mais simples?
— Infelizmente, não. Sei ler bem os gostos do meu filho, e quando ele aponta o dedinho para alguma coisa é porque quer muito… Se eu não der, depois vira um problemão, é mais fácil simplesmente fazer do jeito dele e fica tudo bem. Como é que dizem mesmo? “Poupar a fadiga.”
— Ei, Márcia. Desculpa a intromissão na conversa entre irmãs, só queria uma dica. Você é sozinha, não tem muita gente pra te ajudar a cuidar do filhote enquanto está trabalhando. Como faz com essa situação? E como faz para ele não reclamar? Pergunto porque me lembro de algumas reclamações suas de que ele surtava se você ficasse longe por algumas horas.
— Ah! Isso realmente foi um problema no começo, Joana, mas agora está tudo bem. Eu simplesmente fui pelo caminho mais fácil e parei de sair com a turma, tenho optado por conversas por telefone, assim fico em casa a maior parte do tempo, e quando preciso dar uma saidinha rápida, levo ele comigo. Ele chora mesmo assim, se revolta, bate o pé, mas é o que dá para fazer então tenho levado as coisas assim ao menos até que ele amadureça um pouco.
— Ué, mas não dá para deixar ele com alguém?
— Já tentei, mas não deu certo. Ele só se sente bem em casa e ninguém tem, com ele, a paciência que eu tenho. Quando ele quer alguma coisa, tem que ser na hora, mas não é culpa dele, é o jeito que ele tem de enxergar o mundo, o jeito dele de ser. Não gosto quando acham que não sei educar, que exagero na proteção. Pode até parecer que está sendo mal-educado, que não respeita nada e ninguém, só que eu sei que não é assim. É só uma fase, depois tudo melhora.
— Ah, e a alimentação dele, Dona Márcia? Mamãe nos ensinou, desde pequenas, a comer todo tipo de comida. Lembro bem que ela dizia que prato bom era prato colorido…
— Xiiiiuu! Fale baixo, ele detesta que eu toque nesse assunto, ainda mais com tanta gente em casa. E sim, mamãe nos ensinou a aprendemos bem, não é mesmo? Só que ele não puxou pra ela e nem pra nós duas. Aliás, sei lá para quem ele puxou, só quer saber dessas comidas de criança, parece que tem alergia a qualquer comida saudável. Se bater o olho num verde, minha nossa! Parece que vai desmaiar.
— E você não acha que…
— Minhas queridas, acho que já está bom por hoje, deu de interrogatório. Chega de cochichar com ele logo ali, sorte que está distraído com seu programa. Joana, vai avisar o pessoal que meu filho já está saindo do quarto, por favor? E você, Amanda, pelo amor de Deus, me diga que lembrou de comprar as velinhas!?
— Claro, minha irmã. Já ajeitei todas em cima do bolo, todas as 40. Uma para cada ano de vida, do jeitinho que você pediu.
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