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Povos Indígenas na região Pardo/Turvo santa-cruzense

Coluna Celso Prado e Junko Sato Prado

06/04/2025 às 09h54 Atualizada em 06/04/2025 às 10h10
Por: Colunista Fonte: Celso Prado e Junko Sato Prado
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Povos Indígenas na região Pardo/Turvo santa-cruzense

O abandono das sesmarias, na região do Pardo santa-cruzense, permitiu surgimento de grupos indígenas na região, a contar de 1780, de maneira tal que em 1835 se dizia das 'infestações de selvagens' adiante da descida da Serra Botucatu rumo às barrancas do Rio Paraná, entre os rios Tietê e Paranapanema, um imenso vazio desconhecido da dita civilização, região inóspita e insalubre, habitado por animais selváticos, enquanto os indígenas 'bravios' moviam-se dentro desse espaço geográfico, escolhendo áreas e por elas guerreando com os rivais, inclusive no Vale do Pardo santa-cruzense, aonde contadas  algumas coletividades de indivíduos diferenciados socioculturalmente: língua, crença, usos e costumes.

1. Caiuá = Caa-wa

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'Caa – mato, Wa – espinho', assim, 'Caa-wa' com o significado 'espinho do mato', no sentido de imprestável. 'Caa-wa' também grafado Caiowa – Caiuá.

Caiuá, subgrupo identificado erroneamente, opinião dos autores, por 'Caiuá-Guarani', vivia nos espigões e beiras de pequenos rios, ao longo do divisor Pardo/Turvo. 

Há consenso, no entanto, que bandos distintos Caiuá e Guarani, propriamente dito, tenham vindo do Mato Grosso do Sul, Paraná, leste paraguaio e nordeste argentino, de onde desapossados, unindo-se seus destroços tribais no Pardo, após 1835, unindo-se após 'infausta querença' pelos lados de Itapetininga e Itapeva.

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2. Xavante

O Xavante ou Chavante tornou-se conhecido como 'índio do cerrado', por significado vocabular indígena 'šhavante', embora inexista uniformidade gráfica senão o aportuguesamento fonêmico, admitindo-se 'šhavan' similar a 'savana', sinônimo de cerrado, então, designação não indígena.

O Xavante se autodenomina 'A'uwē - gente' ou 'A'uwẽ Uptabi - gente real, verdadeira',  da 'família linguística jê, tronco macro-jê', aparentado com os 'Xerente - A'kwe', do mesmo grupo  linguística.

No território paulista, porém, eram considerados Xavante todos os indígenas, indistintamente, à banda Ocidental do interior bandeirante, daí a denominação 'Xavante Paulista', sem unanimidade quanto a designação e origem. Tais povos eram confundidos com os 'Akuén-Xavánte', família Jê, do Brasil Central. Explica-se: a Carta Régia de 05 de setembro de 1811, autorizava a 'Guerra aos Xavante', entre outras nações especificadas, pelos danos supostamente causados ao branco, medida que ainda se fazia prevalecer nos anos 1850/1851, quando das penetrações regionais das frentes pioneiras.

Segundo o estudioso Egon Schaden (Os primitivos habitantes do território paulista), os ditos 'Xavante Paulista' dividiam-se em Otí e Opaié. Daí a assertiva de Hercule Florence: "chamam-se Xavante a todos os índios que aparecem na parte ocidental da Província de São Paulo e para la do Tietê." (Instituto Histórico Geographico e Ethographico do Brasil 1875: 375), e aos brancos, então propositadamente, permitiram acometimentos preventivos aos Xavante, de origem ou não.

2.1. Oti-Xavante

O dito Oti-Xavante, escorraçados dos lados de Bofete, por volta de 1840 assentou-se nos cerrados entre em alguns afluentes do Rio Turvo às duas margens. 

Não se sabe quantos Oti-Xavante habitavam o sertão quando da chegada de José Theodoro e seu grupo no início de 1850, mas vinte anos depois, estavam reduzidos a menos de quinhentos indivíduos, reunidos em umas poucas aldeias de trinta a quarenta pessoas cada (João Francisco Tidei Lima. A Ocupação das Terras e a Destruição dos Índios na Região de Bauru, 1978: 135). 

Já além dos anos de 1870, segundo Curt Nimuendaju, pelos lados de Conceição de Monte Alegre, em atual município de Paraguaçu Paulista, promoveu-se um massacre aos Oti "barbaramente assassinados sem distinção de idade ou de sexo (...). É difícil saber-se o número de Otis chacinados (...). Afirma José de Paiva, que tomou parte no feito, que os cadáveres estavam empilhados em grande quantidade." (Apud Tidei Lima, 1978: 135 e 136).

2.2. Ofaiê-Xavante

Segundo o mapa etnográfico de Hermann von Ihering e os dados levantados por Curt Nimuendaju, depois por Darcy Ribeiro, os Ofaiê são classificados distintos dos Akuen e dos Oti (Apud Tidei Lima, 1978: 41-A).

Antigos sertanistas citavam presenças de nativos Ofaiê-Xavante na região de Jaguaretê e Laranja Doce na região de Iepê, Rancharia e adjacências (Bruno Giovannetti. Esboço Histórico da Alta Sorocabana 1943: 58), compreendendo-se o Ofaiê oriundo do sul mato-grossense, que entraram em terras paulistas por volta de 1910, perseguidos pelos fazendeiros instalados.

Os Ofaiê-Xavante foram violentos e opositores ao avanço dos brancos, adiante de Conceição de Monte Alegre, conforme "estão a testemunhar a rapida extinção da tribo e as histórias das chacinas de que foram vítimas" (Darcy Ribeiro – 1951, apud Tidei Lima, 1978: 41-A e 42). Darcy Ribeiro conviveu por semanas com os últimos sobreviventes Ofaiê, em 1948, ocupante das margens do Santo Anastácio (Apud Tidei Lima, 1978: 41-A).

Descendentes dos primeiros desbravadores regionais contam que as famílias Nantes, Botelho e Medeiros, valeram-se dos préstimos de bugreiros como João Hipólito, João da Silva Oliveira, José Theodoro de Souza Junior e o coronel Francisco Sanches de Figueiredo, para matanças de povos originários, e fazê-los refugiarem-se para além dos rios Paranapanema e Paraná, deixando livres as terras pretendidas. Em empreitadas do gênero foram exterminadas tribos inteiras de 'Xavante Paulista', Oiti e Ofaiê, independentes se pacíficas ou não.

3. Caingangue

O Caingangue ou 'Caa-Caing', também grafado Kaingang, com significado em xavante, 'Caa – mato, Gang – gente' e habitava matas fechadas às beiras dos rios maiores, na região do médio Paranapanema e o Pardo. Foi cognominado 'Coroado' pelo branco, em causa do corte de cabelo. Seria 'primo' do Xavante, com certa semelhança de fala, por isso do grupo 'Macro-Jê' para os especialistas.

De origem controvertida, os grupos que se apresentaram no planalto ocidental paulista seriam oriundos das margens do rio Uruguai (Jorge Junior, Um pouco de História, 12/03/1969), com presença não anterior ao ano de 1800, extremante resistentes aos brancos e belicosos com outras etnias. 

Nos últimos anos do século XIX já não havia selvícolas no Planalto Ocidental Paulista, senão o Caingangue, e contra eles os brancos investiram em disputa de vasto território de 35 mil quilômetros quadrados, sendo 15 mil do Vale do Peixe e 12 do Feio/Aguapeí ainda ocupado por tribos daquela nação. Os outros oito mil quilômetros quadrados, no Vale do Batalha e Baixo Tietê após a Serra de Agudos, nas denominadas Terras de Lençóis até o Avanhandava e Itapura, também eram territórios Caingangue em disputa com os brancos. 

Entre 1907/1912 os Caingangue já não se apresentavam unidade tribal e sim grupos nômades independentes. A fragmentação foi decorrente de estratégia dos brancos em isolar grupos e assim enfraquecê-los, com resultado desastroso, pois que os Caingangue se tornaram muito mais perigosos, agindo cada grupo isoladamente, com extrema mobilidade e grande capacidade de atacar de surpresa em diversas frentes contra os inimigos regularmente ordenados. 

De 1908 a 1911 as frentes de ocupações não mais conseguiam progredir dentro do território Caingangue, os trilhos da estrada de ferro não avançavam, os ataques indígenas se tornaram cada vez mais frequentes e eficientes.

Foto em preto e branco de pessoas sentadas O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Diante as dificuldades os empreendedores optaram por negociar, também em atenção às insistentes pressões de grupos intelectuais, políticos e militares, além de organismos internacionais, a culminar com a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), sob direção do então coronel Candido Rondon, com a missão de evitar mais chacinas e apaziguar os Caingangue (Maurício Castelo Branco, texto de Márcio ABC, 2004: 16/07), e ainda assim dizimados outras quinhentas pessoas da etnia (Leonardo de Oliveira Cruz. O contato entre índios e os não índios no oeste paulista, 2006: v. 6, n. 1/2/3, p. 39-45, texto por referência ao trabalho de Silvia Helena Simões Borelli, 1984: 70).

Para maior eficácia de ação o SPI buscou grupos Caingangue pacificados da bacia do Tibagi e línguas - linguarás ou intérpretes, para ajudar nos contatos em 1912, destacada a célebre índia Vanuire dirigindo-se diretamente aos grupos indígenas espalhados, ou, da copa de grandes árvores gritando-lhes pedidos de paz (Vanuire: Lenda da Índia, Museu Índia Vanuire, Tupã - SP). 

Logo após os primeiros contatos (1912/1913), metade dos Caingangue no Estado de São Paulo morreu de epidemia de gripal (KAINGANG: Enciclopédia Povos Indígenas do Brasil, Histórico do Contato, 2001: 7, ref. Horta Barbozza), sobrevivendo "do contingente estimado em 4 mil (...) apenas 700". (Maurício Castelo Branco, op.cit, 2004: 16/07), Os sobreviventes foram então reduzidos em Icatu, hoje região pertencente ao município de Braúna, próximo de Araçatuba, e depois o Índia Vanuíre [1917] em Arco Íris, vizinhanças de Tupã - SP. Os originários aldeados em Índia Vanuíre não foram apenas os sobreviventes de grupos paulistas, e nem puramente Caingangue (Cruz, op.cit, 2006: v. 6, n. 1/2/3, p. 39-45), agora atacados por outros inimigos não menos impiedosos: doenças, como gripe espanhola e sarampo, contra as quais não tinham imunidade. "Em 1916 estavam reduzidos a 173" (Maurício Castelo Branco, op.cit, 2004: 16/07), Um absurdo: "Os índios Kaingang paulistas chegam ao século XXI reduzidos a menos de duas centenas de indivíduos confinados em espaços bem restritos" (Leonardo de Oliveira Cruz Cruz, op.cit, 2006: v. 6, n. 1/2/3, p. 39-45).

A estratégia que garantiu a eficácia da conquista final do território Caingangue, sem dúvidas foi a de treinar e transformar grupos aldeados em intermediários a serviço dos conquistadores, e dos Caingangues, em torno de 4% sobreviveram a carnificina. 

— Todas as referências citadas estão disponíveis em Arquivos doa Autores —

 

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Celso Prado e Junko
Sobre o blog/coluna
O casal de memorialistas Celso Prado e Junko Sato Prado dedica-se à história antiga santacruzense e regional. Com uma densa produção literária, Celso e Junko são responsáveis pelo resgate de episódios e personagens marcantes, além de trazerem à tona informações inéditas a partir de meticulosas pesquisas documentais.
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