Em um terreno que há três anos acumulava entulho e servia de estacionamento improvisado na Vila Divinéia, em Santa Cruz do Rio Pardo, brotou mais do que hortaliças. O que começou como uma iniciativa tímida de dois líderes comunitários virou caso de sucesso reconhecido pelo governo federal, transformando-se em modelo de segurança alimentar e até atividade terapêutica.
A história ganhou forma em 2023, quando Antônio “Tonho” Góes, de 59 anos, e Jarbas Monteiro São Miguel, o Jarbinha, de 52, aceitaram o desafio proposto pelas assistentes sociais do CRAS Betinha. “Aqui era mato, pedra e lixo. Nem sabíamos por onde começar, mas tínhamos vontade”, recorda Tonho.
O apoio voluntário da empresa Hidroceres, especialista em mudas, foi fundamental para que o projeto começasse a se desenvolver. “Eles nos ensinaram a preparar canteiros, escolher mudas e entender o solo”, conta Jarbinha.
O projeto demorou a engrenar. Nos primeiros meses, colheitas frustradas quase desanimaram a dupla, até que o cultivo de alface deu o pontapé para a virada. “Quando vimos aquelas folhas verdinhas, soubemos que estávamos no caminho certo”, conta Tonho.
A persistência rendeu frutos além do território: em julho de 2024, a horta foi selecionada entre 20 iniciativas nacionais no “Prêmio Cidadania na Periferia”, do Ministério dos Direitos Humanos, conquistando o prêmio na categoria Segurança Alimentar.
Laine de Fátima Ferreira Cardoso, assistente social do CRAS, fala com entusiasmo sobre a conquista. “Competimos com projetos de todo o país. O prêmio de R$ 50 mil permitiu a compra de sistemas de irrigação e ferramentas profissionais. A prefeitura ajuda enviando caminhões de terra através da Codesan. Todo o apoio é bem-vindo, principalmente de voluntários que queiram colaborar na horta”, diz Laine.
Atualmente, os canteiros da horta abrigam abobrinha, beterraba, almeirão, entre outras culturas.
Um reflexo positivo da iniciativa, além de garantir alimentos frescos e orgânicos gratuitamente à população, está no efeito quase terapêutico para quem “mexe” com a terra. “Tem dia que chego aqui estressado, mas basta encostar na enxada que a cabeça clareia”, confessou Jarbinha.
Atualmente, cerca de 150 famílias, de vários bairros do território, recebem os alimentos a cada colheita. O excedente segue para instituições como o Centro Social São José, por decisão coletiva dos voluntários. “Se sobra, a gente repassa. É assim que funciona”, explica Tonho, orgulhoso ao mostrar os novos canteiros.
“Buscamos agora uma parceria com a ETEC para proporcionar mais capacitação aos voluntários. O projeto da horta, além da sua importância para segurança alimentar, também ajuda a fortalecer os vínculos da comunidade, eles se reúnem aqui, isso é muito bom”, afirma Alexandre Simão, psicólogo do CRAS.
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