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Feliz (?) dia das mães (!)

Coluna do Enzo

11/05/2025 às 06h47 Atualizada em 11/05/2025 às 06h56
Por: Colunista Fonte: Enzo Pellegrino
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Feliz (?) dia das mães (!)

 

Domingo, dia das mães! Dia de postar fotos, de visitar, de almoçar juntos, de fazer uma ligação mais longa para vencer a distância, de presentear, de receber presentes, de assistir televisão no mesmo sofá, de fazer um carinho, de ganhar um carinho, de perdoar, de ser perdoado, de falar aquilo que está engasgado, de estabelecer uma trégua para brigas antigas, de ser mais compreensivo, de ver fotos da infância, de agradecer e de fazer qualquer outra coisa para celebrar aquela nos trouxe ao mundo, sempre começando o dia com um sonoro “feliz dia das mães!”

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Cresci amando essa data porque minha mãe ficava genuinamente feliz com os carinhos e homenagens que fazíamos a ela, fosse em casa ou na escola. Hoje, no entanto, valho-me de uma sinceridade que alguns podem julgar ofensiva (mas não é) para fazer a seguinte pergunta: mas que cazzo é esse de “feliz dia das mães?”

Esse texto é dedicado a todos nós que já perdemos nossas genitoras, conscientes da falta que fazem, guerreiros da saudade e sabedores de que essa data, para os órfãos de mãe, é “uma bela de uma bosta”, como diria meu tio-avô. 

Com conhecimento de causa e na qualidade de filho, digo que, sem a presença da mãe, o seu “dia das mães” começa uma semana antes e o domingo marca apenas a chegada de uma certa dose de alívio — vale também para o aniversário dela, o natal e outras datas afetivas.

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Para quem já perdeu a mãe, não há carinhos, discussões, declarações, celebração, televisão, massagem nos pés, cafuné. Não há nada, salvo uma solidão que vai se aconchegando ano após ano até que nos acostumamos com ela e paramos de tentar expulsá-la da sala. Nasce uma relação de respeito e tolerância com essa desagradável intrusa, mas que nunca passará disso, porque ela pode até ficar ali, mas nunca será bem-vinda. É como aquele cara chato que divide o quarto com o jovem casal, impedindo qualquer tipo de felicidade a curto prazo.

Dia das mães, para quem já conhece essa solidão amarga, é uma data para refletir, silenciar, sentir saudades e chorar um choro evolutivo e transformador, suficiente a irrigar o coração para que ele possa fortalecer suas cascas e chegar um pouco mais forte ao mês de maio do ano seguinte. Parece ser também por isso que, perto da perda, enfrentamos um choro mais angustiante e melancólico, uma dor aparentemente irremediável. Depois, com o tempo, o choro fica mais ameno, sincero e acolhedor. Se antes parecia irremediável a dor, agora certamente o é, com uma diferença importante: paramos de buscar a cura e aceitamos tratamentos paliativos. Aceitamos que a cicatriz é melhor que a ferida totalmente aberta e podemos encontrar nisso um refúgio de paz.

Chega o dia das mães e, se quero encontrar alguma felicidade, sei que ela só estará acessível em ser feliz pelos outros, por quem ainda tem sua mãe por perto — sem inveja ou nada do tipo, porque a única mãe que faria minha data feliz seria a minha própria, a incomparável e insubstituível Silvana. Fico genuinamente satisfeito por presenciar a riqueza que muitos têm, ainda que porventura não a valorizem, e me solidarizo desde já por todos eles para o dia em que o desafio maior bater à porta, especialmente por aqueles que já estão nessa luta, dormindo e acordando com medo de ser o último dia, a última oportunidade.

No dia das mães, com clareza me lembro da impossibilidade de se preparar para a partida da pessoa mais importante da nossa vida, aquela sem a qual não existiríamos. Passar por um tratamento difícil e ter a mãe mais tempo por perto ou perdê-la de supetão, sem aviso prévio, porém sem sofrimento? Qual o real valor das despedidas e quanto elas devem durar para serem saudáveis? Dias? Semanas? Meses? Anos? Segundos?

Achamos estar vacinados e prontos para qualquer coisa depois de perdermos parentes queridos, só que quando a respiração da nossa mãe para em definitivo, o que vem a seguir é uma avalanche impossível de conter com as pequenas pás com as quais nos equipamos para ajeitar a soleira. Resta-nos enfrentar a tristeza em casa e dela sair somente quando o tempo fizer o seu papel de derreter o gelo — o que acaba sendo muito mais rápido e menos dolorido com a ajuda daqueles que amamos.

Uma hora o sol volta a brilhar. Brilha como antes? Não. Aquece como antes? Também não. Mas brilha e aquece, o que já está de bom tamanho para quem ficou tanto tempo longe dele. Dia das mães é isso: lembrar de quando tudo era completo e juntar forças para seguir bem na incompletude, recebendo com o coração aberto o que há de bom e lutando, diariamente, para que aquela solidão não se esparrame num espaço muito grande e por tempo demais.

O dia das mães pode ser lindo para quem tem mãe. Para quem não tem, ainda que lá no fundo, é isso aí mesmo: uma bela de uma bosta!, e está tudo bem em ser assim. Avante, filhos e filhas!

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Marcio BertinHá 1 mês CuritibaBoa tarde Enzo! Fui um grande amigo do seu avô Franco, convivemos desde os tempos em que ele era dono da Valmet co o Geraldo Vieira Martins e mais tarde quando foi diretor da Santa Casa. Batalhador incansável das causas sociais e íntegro como ser humano. Eu os encontrava sempre no Nina Lanches onde ele o levava então com 7 anos. Grande abraço Dr. Marcio Bertin
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Enzo Pellegrino
Sobre o blog/coluna
Enzo Pellegrino Pedro é santa-cruzense e sócio do escritório Pellegrino Advogados. Graduado pelo Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), é pós-graduado em Advocacia Trabalhista e em Direitos da Incapacidade Laborativa, Acidente do Trabalho e da Doença no Brasil.

Longe do mundo do Direito, já foi colaborador da Revista OPs!, colunista do AUÊ Cultural e também do Jornal Debate.

Filho do Naco e da Silvana, é apaixonado por cachorros, livros, cinema e pelo São Paulo Futebol Clube. Deixa o mundo jurídico mais para o trabalho, conferindo a si mesmo o direito inalienável de escrever sobre todas as coisas, ou então sobre nada.
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