A denúncia de corrupção na Santa Casa de Misericórdia de Santa Cruz do Rio Pardo, que levou à instauração de um inquérito policial, nasceu de uma conversa informal em uma reunião política na casa do ex-prefeito Diego Singolani em abril deste ano. Os detalhes, revelados no depoimento do vereador Professor Duzão (PSOL) à Polícia Civil, ao qual o página d teve acesso com exclusividade, mostram que as suspeitas tinham como alvo o ex-vereador e atual gerente do hospital, Lourival Heitor, e foram levantadas sem provas materiais, documentos ou gravações.
Duzão declarou ao delegado Valdir Alves de Oliveira que, “no dia 9 ou 10 de abril”, em uma reunião na residência de Diego Singolani, no Jardim Santana, o ex-prefeito teria mencionado, pela primeira vez, que um funcionário da Santa Casa - Lourival Heitor - se reunia com um prestador de serviços no Posto Kafé, localizado na Rodovia Engenheiro João Baptista Cabral Renno.
Segundo Duzão, Diego não forneceu datas, horários ou detalhes sobre o teor do encontro – apenas disse ter “sabido” da informação.
Estavam presentes na reunião, além de Diego, o próprio Duzão, João Marcelo Silveira Santos (vereador), Tio Carlinhos (vereador), Adilson Simão (ex-vereador) e Domingos do Carmo (ex-secretário municipal).
O vereador do PSOL também relatou ao delegado responsável pelo caso que o grupo conversou sobre possíveis irregularidades na aquisição de produtos de limpeza na Santa Casa. Além disso, afirmou que João Marcelo Santos suspeitava de algum esquema envolvendo a troca da empresa que realizava exames laboratoriais do hospital.
Entrevista na rádio e o confronto
No dia 6 de maio, durante entrevista à Rádio 104 FM, Duzão denunciou publicamente que um funcionário da Santa Casa receberia 20% de propina em contratos, mas não citou nomes. Duzão disse à Polícia que, ao final da entrevista, foi confrontado na porta da emissora por Lourival e Domingos Ramalho, presidente da Santa Casa.
De acordo com Duzão, Lourival mostrou prints de conversas no WhatsApp para justificar o tal encontro no Posto Kafé. Segundo ele, reuniu-se com um médico (“Bruno”, sobrenome não revelado) que ameaçava “executar judicialmente” a Santa Casa por falta de pagamento.
Duzão fez o seguinte questionamento em seu depoimento: “Por que não na Santa Casa, que tem assessoria jurídica?”.
No dia seguinte, 7 de maio, com o inquérito já instaurado a pedido do promotor Marcelo Saliba, devido a gravidade das declarações feitas na rádio 104 FM, Duzão foi convidado a depor como testemunha. Ele basicamente afirmou que ouviu a história toda do ex-prefeito Diego Singolani e que não tinha nenhuma outra informação, muito menos provas concretas. Sobre o polêmico encontro no Posto Kafé, não soube dizer em qual data teria acontecido, muito menos o horário.
A única “evidência” apresentada foi um print de conversa de WhatsApp entre o vereador e um munícipe, em que este repassa para Duzão supostas mensagens trocadas com um médico da Santa Casa. Nas mensagens, lê-se:
“Só espero que o Duzão tenha as provas… Mas que já sabíamos! Já sabíamos!”.
O suposto médico da Santa Casa ainda faz insinuações sobre a empresa de próteses ortopédicas do prefeito Otacílio Assis. Veja abaixo:
Depoimento sigilosos
Os depoimentos das testemunhas citadas por Duzão estão sob sigilo. Porém, a reportagem do página d conseguiu apurar que João Marcelo Santos, um dos presentes na reunião na casa de Diego, negou à Polícia Civil saber de qualquer “esquema” na troca da empresa de exames laboratoriais contratada pela Santa Casa. Sobre a denúncia principal, envolvendo Lourival e o encontro no Posto Kafé com um prestador de serviço, João Marcelo teria afirmado apenas que ouviu os fatos da boca do ex-prefeito.
Diego Singolani, por sua vez, limitou-se a confirmar que mencionou o tal encontro no Posto Kafé, mas disse desconhecer detalhes.
Atualização: 19h45
Fábio Pimentel, que teve um print de conversa com o vereador Duzão exposto à Polícia Civil pelo próprio parlamentar, entrou em contato com a reportagem e solicitou a publicação de uma nota de esclarecimento. Segue:
"Quando o vereador Duzão concedeu entrevista à rádio 104 sobre as denúncias envolvendo a Santa Casa, o assunto ganhou grande repercussão. Em conversa com um amigo, este sugeriu que seria importante que o vereador tivesse provas concretas e recomendou que se investigassem outras compras feitas pela Santa Casa. Compartilhei esse diálogo com o vereador de forma privada com o intuito de que pudesse servir como um possível ponto de partida para futuras investigações.
Ressalto que, nos diálogos, não houve qualquer denúncia formal ou apresentação de provas. Fiquei profundamente surpreso ao saber que o vereador Duzão compartilhou um print da nossa conversa com o delegado responsável pela investigação, sem me consultar previamente e sem que houvesse qualquer evidência concreta na nossa troca de mensagens.
Lamento profundamente ter mantido essa conversa com o vereador Duzão, com o intuito de incentivá-lo a investigar algo que parecia sério, e que, no final das contas, acabou se revelando uma questão de politicagem. Peço desculpas a todos os envolvidos por essa exposição desnecessária e lamentável."
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