O vereador Professor Duzão está isolado. Todos os nomes citados por ele à Polícia como possíveis testemunhas tiraram o corpo fora.
O depoimento de Duzão, divulgado recentemente pelo página d (e que não está sob sigilo, portanto, à disposição para consulta pública), revela que o parlamentar baseou suas acusações principalmente em informações surgidas numa reunião política na casa do ex-prefeito Diego Singolani. O ex-mandatário e atual secretário de Saúde de Ourinhos, inclusive, foi quem levantou a lebre sobre o encontro de Lourival Heitor e o médico Gustavo Ribeiro, prestador de serviço para o hospital, no Posto Kafé.
O problema — para Duzão — é que a tchurminha que participou do tal convescote afirma, grosso modo, que tudo não passou de uma “conversa de buteco”. Ainda mais em um encontro com tom informal entre políticos. É assim com a imprensa também: quando o pessoal se junta, o que mais sai é papagaiada. E falo com propriedade, como um praticante entusiasta da papagaiagem nas horas de folga. Entretanto, Duzão parece ter se emocionado além da conta.
A verdade é que ninguém vai entrar na frente dessa bala por Duzão. De forma reservada, alguns de seus colegas, que estavam no fatídico regabofe na casa do ex-prefeito, confidenciaram à coluna que não entenderam o porquê de Duzão ter exposto a situação daquela forma, numa entrevista, mas confiavam que ele sabia de algo a mais. Quando o depoimento de Duzão veio à tona, o clima na oposição foi de peido choco em elevador lotado.
Duzão é um parlamentar atuante. Em seu segundo mandato, é um dos que mais conquistou recursos para o município, não costuma se omitir do debate de temas importantes e tem um mandato profícuo no que diz respeito à apresentação de requerimentos, indicações e projetos de lei.
Ele até já sinalizou, recentemente, o desejo de alçar voos mais altos, talvez uma disputa para deputado, não sei.
O episódio da Santa Casa é, sem dúvida alguma, o momento mais tenso da sua carreira política. O desfecho deste caso pode ser determinante para suas aspirações.
Duzão pode ter jogado um anzol sem isca na água, por desatenção. Agora, torce para que, ao recolher a linha, algum peixe seja fisgado, nem que seja pela barriga, rabo, olho, não importa.
Tudo ainda está em aberto. A polícia segue investigando a partir daquilo que tem em mãos. Mas, se as denúncias de Duzão, ao final, se mostrarem deliberadamente infundadas, ele pode se preparar para um tsunami nas esferas jurídica e política.
Lourival Heitor, gerente da Santa Casa acusado por Duzão, decidiu afastar-se do cargo, segundo ele, para não atrapalhar as investigações. Em entrevista à Rádio Band FM na sexta-feira (23), Lourival chamou o ex-colega de Câmara de “nojento” e disse que ingressará com ações judiciais. Duzão afirmou categoricamente na 104 FM, no dia 6 de maio, que uma pessoa estava levando 20% em cima de contratos do hospital e que o tal sujeito seria preso — sem citar, na ocasião, o nome de Lourival, revelado apenas à Polícia Civil.
A decisão de Lourival me parece acertada, pois, além do inquérito policial, o Ministério Público também pediu que a própria Santa Casa e a Prefeitura, enquanto interventora, façam uma investigação interna. O afastamento voluntário do profissional evita qualquer embaraço.
Lourival alega perseguição política como pano de fundo das acusações. Diz que quer ir o quanto antes apresentar sua versão à polícia, que seus sigilos telefônico e bancário estão à disposição das autoridades, o que inclui o histórico de conversas com o médico Gustavo Ribeiro. Lourival admitiu o encontro com o profissional no Posto Kafé, a pedido do médico, para tratar de dívidas que o hospital tinha com ele e alternativas para que a Santa Casa não fosse acionada na Justiça. Nada mais do que isso, segundo Lourival.
Neste momento de instabilidade, não há como negar que o histórico político pesa. Lourival já trocou de aliados algumas vezes e, agora, percebe-se que ele não conta com apoio público nem da base do prefeito Otacílio e muito menos da oposição, liderada por Diego Singolani. Resta a ele aguardar o desfecho da investigação e, se for o caso, buscar as reparações por possíveis prejuízos à sua imagem e honra.
A política em Santa Cruz do Rio Pardo opera em duas realidades paralelas. De um lado, os fatos objetivos; de outro, narrativas construídas pelos grupos que dominam a cidade há 13 anos (originalmente unidos, hoje divididos). Ambos tratam qualquer iniciativa adversária como "ação para destruir". A realidade importa menos do que as emoções ou crenças pessoais. É a tal da pós-verdade, e vale tanto para os políticos como para os apoiadores, que tornaram-se literalmente torcidas organizadas — hooligans das redes sociais.
O resultado? Propostas são barradas por desconfiança mútua, e a população fica à margem. Em uma cidade de menos de 50 mil habitantes, onde todos se conhecem, o clima é de guerra permanente. Este é o “espírito do nosso tempo” por essas bandas caipiras, infelizmente.
Preparem-se, pois o conflito entre o prefeito Otacílio e o presidente da Câmara, Juninho Souza, vai escalar novamente. Em entrevista à 104 FM na sexta-feira (23), o chefe do Executivo revelou que não dialoga mais com o parlamentar, a quem classificou como “instável” e “pouco confiável”. A gota d’água foi uma ligação telefônica entre Otacílio e Psiu, diretor administrativo da Câmara, gravada “às escondidas” por Juninho.
Essa história já pipoca nos bastidores há semanas, mas é a primeira vez que uma das partes envolvidas fala publicamente do assunto. Otacílio declarou que ligou para Psiu para discutir detalhes do cerimonial de um evento na Câmara. Durante a conversa, o prefeito também abordou “outros assuntos”, sem dar detalhes.
Pois bem, esta coluna foi atrás da tal gravação e revela a seguir seu teor, para que você, pequeno gafanhoto, tire suas próprias conclusões. Não vamos, por hora, divulgar o vídeo, até por não sabermos dos desdobramentos legais que este caso pode ter.
Eu assisti ao vídeo, evidentemente. De fato, Juninho Souza filma parte da ligação, um trecho que dura 47 segundos. A coluna apurou que a gravação foi feita sem o consentimento de Psiu, que já estava ao telefone e foi surpreendido por Juninho. O vídeo mostra o diretor da Câmara com o telefone em viva-voz. O hábito de Psiu de atender ligações no alto-falante é conhecido.
A seguir, o diálogo transcrito (literal):
Otacílio: “- Não sei quem tá orientando ele (Juninho) a me atacar, fazer essas besteiras aí. E só com mentira ainda. Tá hoje de novo?”.
Psiu: “- É, eu não tô envolvendo com política, doutor. Eu tô olhando pra dentro aqui.”
Otacilio: “- É, eu tô… (inaudível). Se fosse nos meus velhos tempos esse cara não existia mais. (risos). Mas fazer o quê? Eu já.. já amadureci bastante”.
Psiu: “Faz parte da política, doutor”
Otacílio: “Não, isso não faz parte da política. Foi uma semvergonhice! Isso não é política. Isso é nêgo que não presta, nêgo que não tem honra, que não tem brilho! Entendeu? Tá bom? Isso não é política, não. Tá? Política é outra história. Tá? Falou, Juninho (?). Tenho nada a ver com isso. Tá? Fica bem longe desse cara aí, tá? Falou? Tchau, tchau”.
Se o teor da conversa pode gerar, no mínimo, um desconforto ao prefeito Otacílio, a gravação em si pode causar complicações para Juninho. Nas últimas semanas, o presidente da Câmara comentou a pessoas próximas que se sentiu ameaçado e que pensava até em procurar a polícia para denunciar o prefeito. O problema é que gravar a conversa de terceiros é ilegal.
Politicamente, porém, o fato é mais um galão de gasolina na fogueira da política local. Tirem as crianças da sala.
Em recente reunião, Otacílio disse que só há uma hipótese dele desistir de desapropriar o prédio do antigo Clube dos 20: se a Associação Comercial e Empresarial (ACE) pagar R$ 3 milhões às entidades que têm direito pelo imóvel. O prefeito foi além: impôs que o pagamento pode até ser parcelado, desde que as prestações não tenham valor baixo e sobre elas incidam juros. Além disso, a ACE estaria impedida de incluir no negócio uma casa de sua propriedade. Só bufunfa.
O prefeito alega que o valor é justo, mas laudos informais indicam que o valor do prédio não ultrapassa R$ 2 milhões.
A proibição de mendicância em vias movimentadas, realizada pela Polícia Militar em parceria com a Prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo, gerou efeito colateral: vendedores ambulantes e distribuidores de panfletos também foram barrados. O prefeito, que apoiava a medida contra os mendigos, teria reclamado internamente do aparente excesso.
Já o comando da PM justificou que está amparado na legislação de trânsito, que proíbe as pessoas de circularem entre os veículos em tráfego pela via. E a lei vale para todos: andarilho, panfleteiro, vendedor de bala, malabaristas, etc.
Vai dar pano pra manga.
Antigos associados do Clube Rama se reúnem neste fim de semana para discutir a retomada do imóvel pela Prefeitura, que planeja instalar um CRAS no local. A área é pública, mas parte dos associados acredita que pode haver acordo para manter as atividades no espaço.
A Prefeitura sinaliza que não recuará.
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