O Ministério Público quer explicações da Prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo sobre a nomeação de Luciana Junqueira como procuradora jurídica da autarquia Codesan, ocorrida em fevereiro deste ano. O MP recebeu denúncia e agora abriu prazo para o município justificar por que o prefeito Otacílio preferiu pagar uma gratificação à procuradora ao invés de realizar concurso público para contratar um advogado — como prevê a lei que institui a autarquia, com o cargo ainda vago.
Vale lembrar: procuradores compõem a elite do funcionalismo municipal, com salários brutos que frequentemente beiram os R$ 30 mil. Luciana é concursada como procuradora municipal, ocupa a função de procuradora-geral e já foi, inclusive, controladora do município.
Não sou a mãe Diná, mas prevejo que a resposta protocolar ao MP será aquela velha história da economicidade: pagar uma gratificação de pouco mais de R$ 2 mil é mais barato do que contratar um advogado concursado com salário de R$ 6 mil. Sí, pero no mucho…
A grande verdade é que funções gratificadas servem para afagar aliados, estreitar relações e premiar parceiros políticos. No caso da Codesan, o ex-prefeito Diego Singolani fazia exatamente a mesma coisa: ao invés de abrir concurso e dar oportunidade a novos profissionais — como permite a lei —, preferia pendurar mais um “agrado” em quem já se lambuza com altos salários, honorários de sucumbência e tudo mais que puder. Para qualquer prefeito, é importante estar alinhado com os advogados do município. São eles que podem livrá-lo de ciladas ou atravancar sua administração, a depender do “humor”.
A dita esquerda santa-cruzense ficou em polvorosa com o estardalhaço causado pelas denúncias do vereador do PSOL, Professor Duzão, envolvendo Lourival Heitor e a Santa Casa de Misericórdia. Parte dos quadros mirou suas críticas no ex-prefeito Diego Singolani, acusando-o de traidor, de “jogar Duzão aos leões” e de não ter segurado o B.O. após a fatídica roda de fogo onde a “conversaiada” surgiu.
Outra ala preferiu criticar Duzão pela forma atabalhoada e, aparentemente, vazia com que apresentou as denúncias.
Independentemente do rumo que a esquerda local tome, o que mais chama a atenção é esse pessoal achar que o ex-prefeito é de esquerda. Ou sequer progressista. Diego é tão progressista quanto Otacílio é bolsonarista.
Duzão anda evitando entrevistas, mas admite a pessoas próximas que errou na forma com que lançou, de maneira açodada, as denúncias de suposta corrupção na Santa Casa.
Mas enganasse quem pensa que ele recuou. Aos apoiadores, em grupos de WhatsApp, Duzão insiste: “fui o único vereador a ter coragem de colocar o dedo na ferida!”. E mais: ele assevera que, ao final, quem o crucificou pelas denúncias vai se arrepender.
Será que Duzão sabe de algo a mais ou está apenas metendo um “poker face”? De qualquer forma, ele já foi de “all in”. Agora, é esperar para ver quem leva.
As medidas anunciadas pelo governo Otacílio para a população em situação de rua, durante a onda de frio que atinge nossa região, flertam perigosamente com uma política higienista — e é preciso dizer isso claramente.
Política higienista é aquela que busca “limpar” ou “purificar” certas áreas urbanas, removendo quem incomoda. Falar, nesse momento de urgência, em tentativa de “retomada de vínculos” para que famílias acolham essas pessoas soa, no mínimo, deslocado. Muitos desses vínculos estão rompidos há anos, com raízes profundas em violência, uso de drogas, álcool e traumas.
Não observamos nenhuma ação da Prefeitura mobilizando campanhas de agasalho, articulação com igrejas e espaços de acolhimento, ou mesmo divulgação de plantões telefônicos para contato emergencial com os órgãos responsáveis - nada foi passado à imprensa nesse sentido.
Foi anunciado o básico: entrega de roupas e cobertores, o que é muito importante. Mas e quem não tem família na cidade? E aqueles cujas famílias não os aceitam de volta? Quem não quer ou não consegue voltar para casa? As ações emergenciais anunciadas parecem simplórias demais, carregadas de uma visão punitivista diante de um problema de saúde pública e pouco embasadas em critérios técnicos do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Um dos momentos de alívio cômico da última sessão da Câmara foi protagonizado por Cristiano Tavares, Juninho Souza e João Marcelo Santos.
Tavares ironizou, dizendo que Juninho estaria revendo seus elogios ao ex-prefeito Diego Singolani, a quem antes criticava ferozmente. João Marcelo saiu em defesa de Juninho, lembrando que Tavares também esteve anos ao lado de Diego, até abandoná-lo para apoiar Otacílio.
Quando parecia que Tavares ficaria em maus lençóis, ele rebateu: lembrou que foi um dos poucos a defender João Marcelo quando este foi exonerado da Codesan em 2023 - oficialmente, ele pediu para sair - , após chamar Juninho de analfabeto e fazer gestos insinuando que o atual presidente da Câmara era ladrão.
O momento parecia saído diretamente do roteiro de “The Office”. No fim, todos sorriram. Só faltou um abraço.
A aguardada licitação do lixo, marcada para esta sexta-feira (30), foi suspensa após recursos de empresas que contestam pontos do edital.
Enquanto isso, o governo anunciou um acordo com a Conservita — sim, ela mesma —, que seguirá emergencialmente por mais 60 dias, para evitar a interrupção da coleta.
É triste, mas Santa Cruz continua refém de uma empresa que presta péssimos serviços à nossa comunidade. Já o governo Otacílio III, entra no segundo semestre ainda “cheirando mal”.
Fim dos ecopontos (para descarte de inservíveis), fim da coleta de massa verde, fim da coleta de pequenos entulhos.
O prefeito Otacílio explicou, inclusive em entrevista à 104 FM, os motivos que levaram a decisão: custos altos, aumento exponencial da massa verde — de três caminhões por dia para 19 —, e desvirtuamento dos ecopontos, que viraram lixões descontrolados.
Falou também dos aspectos legais, da responsabilidade dos moradores por essa limpeza, como prevê o Código de Posturas.
Mas, na boa, essa história de “os bons pagam pelos ruins” soa mais como castigo do que política pública. Ao cancelar serviços essenciais por conta da má conduta de uma parcela porcalhona da população, a conta vai, inevitavelmente, recair sobre o lombo de todos os contribuintes.
Seria muito mais assertivo investir em fiscalização adequada, aperfeiçoar as leis e manter os serviços que beneficiam a cidade há décadas.
Por mais que o prefeito exponha seus argumentos alegadamente técnicos e fale em planejamento a longo prazo, às vezes parece que as decisões são movidas por birra mesmo. Pela necessidade se provar com a razão, sempre.
Mín. 13° Máx. 26°