O Sertão do Botucatu, entre os rios Tietê e Paranapanema, expandia-se rapidamente após a descida da Serra, abrangendo territórios santa-cruzenses. Os mineiros se ocultavam devido à Guerra do Paraguai desde 1864. Tais dimensões também conhecidas como Sertão Paranapanema.
A ocupação do oeste paulista pelos mineiros no século XIX, durante a Guerra do Paraguai, indica ascendências judias em algumas das primeiras famílias, em especial durante a Guerra com o Paraguai. Este tema requer mais estudos para comprovações efetivas, no entanto, alguns sobrenomes identificados no Vale Paranapanema são bastante sugestivos
Descendentes dos pioneiros da primeira geração afirmavam que sobrenomes terminados em "ES" indicam descendência judaica, como Alves, Antunes, Borges, Fernandes, Gonçalves, Gomes, Henriques, Lopes, Mendes, Menezes, Nantes, Nunes, Paes Rodrigues, Salles e Soares.
Sobrenomes relacionados a animais, plantas, objetos e lugares incluem: Abreu (besouro), Alvim (branco), Andrade, Aranha, Barata, Barros, Bezerra, Campos, Cardozo, Carneiro, Carvalho, Cobra, Coelho, Costa, Cunha, Duarte (guarda), Ferreira, Figueira, Figueiredo, Leão, Leitão, Lobo, Luz, Machado, Miranda (senhora, filho da senhora), Monteiro, Montes, Moura, Nogueira, Oliva, Oliveira, Palhão (também Payão e Paião), Pereira, Prado, Pinheiro, Pires, Pinto, Pontes, Ramos, Reis (altivez), Rios, Serra, Silva, Simões (macacos), Souza (seixa ou pombo bravo); Tavares (fruto chamado pêro), Teixeira (litoral de ribeiras ou raio de luz), Telles (ou Teles, passarinheiro), Ulhoa (galinha), Valle (Vale), Vaz (da região espanhola Vascongadas) e Veado.
Tais famílias, creditadas como de ascendência judaica, tiveram moradores em Santa Cruz do Pardo, alguns deles indo sertão adiante até onde o atual município de Paraguaçu Paulista, denominados então 'Os Judeus de Conceição de Monte Alegre', capitaneados por Salvador Ortiz de Oliveira, pioneiro no Lajeado, município do Óleo, outrora parte territorial de Santa Cruz do Rio Pardo.
João Batista de Oliveira Aranha estabeleceu-se em Palmital-SP em 1886. Alguns membros de sua família teria fugido para o sertão botucatuense entre 1864 e 1870 para escapar do recrutamento para a guerra. Alguns se fixaram em São Manuel outros em Santa Cruz do Rio Pardo.
A formação do povo paulista pelos ascendentes mineiros, nas regiões centro-sudoeste e oeste de São Paulo, durante o século XIX e o primeiro quartel do século XX, apresenta raízes e influências judaizantes. Contudo, tais informações não possuem uma base histórica ou científica profunda, devido à escassez de documentações primárias. Todavia, algumas práticas e expressões consideradas judias podem ser observadas.
-Amuletos: os signos de Salomão [estrela de cinco pontas] ou de David [seis pontas], de significado deturpado por assimilação cultural.
-Apontar [com o dedo] uma estrela: costume judeu para anunciar o início do sabath – o dia judeu começa na véspera com o surgir da primeira estrela, que então era apontada. Tal gesto podia denunciar um cristão novo e então, para a criança não cair em tentação em apontar uma estrela, lhe era dito que isto acarretaria nascer verruga na ponta do dedo.
-Benção Judaica: passar a mão na cabeça de uma pessoa, de forma carinhosa, como símbolo do perdão.
-Carapuça: vestir a carapuça: reminiscências da Inquisição quando o acusado ou o condenado era vestido com uma carapuça.
-Deus te crie: expressão ante o espirro de uma criança, da frase hebraica Hayim Tovim.
Gavetas sob a mesa de refeições: que os 'cristãos novos' usavam para esconder alimentação típica judaica quando chegavam visitantes cristãos, que os pudessem denunciar, ou das refeições abominadas pela religião judaica quando chegavam seus iguais. Jocosamente os mineiros diziam que era para esconder comidas gostosas ou poucas dos olhos dos visitantes.
-Gole do santo ou dado ao santo: o derramar uma parte do cálice de bebida, para agradar entidade espiritual, cuja raiz está em reservar, no pessach - páscoa, copo de vinho para o profeta Elias que, arrebatado aos céus ainda haverá de vir com precursor do Messias.
-Judiar: dos tempos inquisitoriais de maltratamentos aos judeus.
-Juramento pela alma ou pelo nome de pessoa falecida: resíduo de rito judaico.
-Lavar os mortos: prática em desuso com advento das casas funerárias.
-Massada: expressão a significar tragédia ou adversidade, lembrança à destruição da fortaleza de Massada, pelos romanos nos anos 70 d.C.
-Mesura [Mezura]: fazer mesuras: da palavra hebraica 'Mezuzah' com significado um objeto oco com texto bíblico - Deuteronômio 6:4-9, colocado à porta, pelo lado de dentro, e ao qual o judeu reverenciava antes de entrar ou sair da residência.
-Passar mel na boca: amansar ou angariar simpatia de alguém para determinada situação ou causa, Advém de costume judaico no ato da circuncisão, passar o mel na boca da criança para abrandar o choro.
-Punhados de terra sobre o caixão mortuário: simbolismo que aquela pessoa está sepultada.
-Siza: vem do hebraico 'Sizah', quando vai pagar o imposto, 'siza'.
-Varrimento residencial: da frente para os fundos.
-Descanse em paz – morreu como um passarinho: quando algum judeu estava para morrer, a família temia que ele pudesse, no desvario da morte, revelar a condição de judeu, e então chamavam o aliviante, o abafador ou aliviador, que chegava e retirava todos do quarto do enfermo e pronunciava rezas enquanto fazia morrer o enfermo, e depois ao sair do cômodo dizia a todos os presentes: 'que sua alma descanse em paz', 'morreu dormindo' ou 'morreu como um passarinhão' (Rita Miranda Soares. A Influência dos Judeus 'Cristãos-Novos' na Cultura Mineira, apud ABRADJIN - Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisição).
Cumpre-nos advertência que mesmo o conjunto de todas as citações acima, ainda que observável no todo ou em parte, não significa necessariamente o indivíduo ser judeu ou descendente, podendo tratar-se de hábitos assimilados e transmitidos (Os Autores).
Celso Prado e Junko Sato Prado
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