Quem anda mais atento às entrevistas e discursos do prefeito Otacílio já deve ter percebido um novo bordão no repertório: “Endurecer sem perder a ternura”.
A frase, atribuída ao revolucionário Ernesto Che Guevara, agora marca o encerramento das falas do prefeito — que tenta suavizar um pouco sua fama de enérgico e bravo.
Mas não deixa de ser curioso: Otacílio, que filiou-se recentemente ao PL, partido de extrema direita, justamente para “repaginar” sua imagem política associada ao PT, parafraseando um ícone mundial da esquerda - apesar de não haver comprovação histórica de que a tal frase foi proferida por Che.
Em todo caso, se for seguir nessa linha, talvez Otacílio esteja mais para Fidel Castro, considerando apenas o apreço de ambos por longos pronunciamentos. Não sei se o prefeito também gosta de charutos.
O prefeito Otacílio decidiu que, a partir do mês que vem, a prefeitura não vai mais recolher massa verde e pequenos entulhos — algo que sempre foi feito em Santa Cruz. A medida segue o Código de Posturas, mas é vista como polêmica e, para muitos, tem tudo para piorar ainda mais a já combalida limpeza urbana da cidade.
Otacílio está irredutível. Segundo ele, a coleta custa aos cofres públicos cerca de R$ 4 milhões por ano, valor que supera o próprio contrato do lixo. Ainda segundo o prefeito, em 45 dias foram recolhidos 15 caminhões por dia (!), em média, só de galhos. Convenhamos, é muita conta pra pouco caminhão — seria de bom tom apresentar os tais estudos à população. Por ora, ficamos no "confia".
Dentro dessa polêmica, o presidente da Câmara, Junior Souza, já anunciou que vai apresentar um projeto para obrigar a prefeitura a manter a coleta de massa verde e entulhos, alterando o código de postura.
Juninho, principal voz crítica à gestão Otacílio, promete dar trabalho ao governo nesse tema.
Na próxima sessão, o Executivo leva à votação um projeto que equipara os benefícios dos servidores da Codesan aos da prefeitura. São itens como anuênio, quinquênio, sexta-parte e licença-prêmio que passarão a ser concedidos também aos trabalhadores da autarquia.
O projeto gerou apreensão nos bastidores, com boatos de que poderia alterar regras e prejudicar os servidores da prefeitura. Depois de muita análise, ficou claro que a proposta não mexe em direitos adquiridos.
A única correção realmente necessária foi no cálculo da sexta-parte: o primeiro texto previa que o cálculo incidiria sobre o salário referência/salário base. Isso foi corrigido para que o benefício recaia sobre o salário atualizado do servidor, com todos os ganhos absorvidos durante a carreira, até o momento em que ele tiver direito ao benefício da sexta-parte - como já ocorre atualmente.
Durante a votação, o projeto deve receber emendas. O vereador Duzão, por exemplo, quer ampliar de 15 para 20 o número de faltas permitidas ao longo de cinco anos para a concessão de licença-prêmio, tanto para a prefeitura como para a Codesan.
Outra proposta, do vereador Fernando Bittencourt, é que, exclusivamente no caso da sexta-parte, possa haver a retroatividade na contagem de tempo de serviço, beneficiando assim, de forma imediata, os trabalhadores que já têm mais de 20 anos de Codesan. Para todos os demais benefícios, a contagem do tempo terá início a partir da vigência da nova lei. No caso da prefeitura, nada muda.
Em entrevista à 104 FM, Otacílio alfinetou seu antecessor, Diego Singolani, e o ex-secretário de Turismo, Gerson Garcia. O prefeito comentou que recusou convite para um evento de “cultura agro” realizado esta semana no Allianz Parque, que classificou como “caça-níquel” — políticos pagando para assistir shows de duplas sertanejas famosas e comer carne sob pretexto de estreitar relacionamentos e fazer negócios.
Otacílio fez questão de levantar que, no ano passado, Santa Cruz enviou representantes ao mesmo evento — com todas as despesas pagas — e que Diego teria levado Gerson como acompanhante, ao custa de cerca de R$ 6 mil aos cofres públicos. “E olha que nem secretário de agricultura ela era”, salientou o prefeito.
Essa não foi a primeira e com certeza não será a última cutucada da família Assis direcionada à gestão passada, com especial enfoque no ex-secretário Gerson Garcia - que também fez parte do governo Otacílio, diga-se de passagem. No começo do ano, o vereador Mauro Assis chegou a chamar Gerson de “PC Farias” da administração anterior passada, numa referência direta ao famigerado empresário e operador político acusado de receber dinheiro de diversas empresas em troca de favores e benefícios junto ao governo Collor.
O cancelamento do convênio de mais de R$ 600 mil do Estado com a Prefeitura, que seria destinado a investimentos no Parque Ecológico, era só questão de tempo — faltava oficializar, o que ocorreu nesta semana.
O episódio é emblemático e serve como aula (negativa) de gestão. Primeiro: o projeto previa uma contrapartida do município de mais de R$ 1 milhão — uma insanidade, considerando a real capacidade de investimento de Santa Cruz. Se o governo de Diego esperava alguma emenda parlamentar ou recurso extra que viabilizasse o projeto, não saberemos mais.
Segundo: pura falta de gestão e planejamento. A Secretaria de Turismo, que tocava o projeto, perdeu todos os prazos junto ao Estado para realizar a licitação. No lugar de política pública estruturada, preferiam fazer eventos. Muitos eventos. Alguns, vá lá, relevantes e que seguem no calendário. Outros, de gosto duvidoso e valores questionáveis.
A lógica foi simples: evento dá menos trabalho. Abre-se o cofre, contrata-se as empresas prestadoras de serviço e se algo der errado, a culpa é delas. Se der certo, bônus político.
E vou além, no português rasgado: era a verdadeira farra do boi, com a cúpula do Turismo aproveitando as festanças para encher o rabo em praça pública, pagando de gatões com o dinheiro do contribuinte, sem o menor pudor.
O abandono do Parque Ecológico virou o maior símbolo do que foi boa parte da gestão do grupo do ex-prefeito Diego: obras começadas e inacabadas.
Pior: é também um descaso com a história e a memória da cidade. Não custa lembrar que o Parque leva o nome de ninguém menos que Orlando Villas-Bôas — um personagem que merecia muito mais respeito.
Os vereadores votam na segunda-feira o projeto de lei do Professor Duzão que proíbe a venda de produtos e publicidade comercial nas escolas da rede municipal.
A proposta nasceu após a polêmica envolvendo a secretária de Educação Elcen Nocera, que há algumas semanas autorizou a venda de muamba dentro de creches e escolas da rede municipal, gerando forte reação.
Outra iniciativa em votação na próxima sessão é o projeto dos vereadores Cristiano Tavares e Laura Assis, que cria o programa “Remédio em Casa”.
A ideia é simples e boa: permitir que determinados medicamentos de uso contínuo sejam entregues diretamente na casa dos pacientes, evitando deslocamentos e filas.
Essa foi uma bandeira encampada por Cristiano Tavares ainda na legislatura passada, mas que não prosperou única e exclusivamente por falta de apoio político do grupo do então prefeito Diego Singolani. Tavares, naquele momento, era oposição.
Resta saber se os vereadores que no passado votaram contra - Tio Carlinhos e Duzão - agora irão mudar de ideia. Importante destacar: trata-se exatamente do mesmo projeto, sem alteração significativa.
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