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Frei Manuel: o homem-deus do Sertão - parte II

Coluna Celso Prado e Junko Sato Prado

15/06/2025 às 11h25 Atualizada em 15/06/2025 às 15h07
Por: Diego Singolani Fonte: Celso Prado e Junko Sato Prado
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Frei Manuel: o homem-deus do Sertão - parte II

O Brasil tornou-se uma república em 1889 após um golpe cívico-militar liderado predominantemente pelo exército, impulsionado pelo descontentamento de parte da elite brasileira. O movimento republicano encontrou resistência por parte dos monarquistas, que consideravam o golpe ilegítimo e contrário à vontade popular. Esses opositores argumentavam que o sistema monárquico hereditário proporcionava maior estabilidade política e continuidade do Estado. No entanto, havia insatisfação até entre os próprios monarquistas com relação à sucessão do trono, uma vez que, após D. Pedro II, ele provavelmente seria assumido pelo genro francês Conde d’Eu, esposo da princesa Isabel.

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Também considerado, a monarquia brasileira estava numa relação conflituosa com a Igreja Católica, com a aceitação imperial de outros cultos advindos do cristianismo, os reformistas, além do catolicismo popular crescente no interior do Brasil, através da mistura do culto apostólico romano com as práticas religiosas indígenas e africanas, ajustadas e à cultura do sertão. 

Oficialmente, no final do século XIX, diversos bispos proibiram maçons de se filiarem a ordens religiosas, seguindo diretrizes do Vaticano. A prisão destes bispos gerou a Questão Religiosa, rompidas as relações entre o imperador e a Igreja Católica.

À parte de tudo isto, no Sertão Paranapanema pós república, desde o Pardo e Turvo santa-cruzenses adiante, levantou-se o líder Francisco Izabel ou Joaquim Catirina, autointitulado Frei Manoel contrário ao republicanismo e pregador do catolicismo popular sertanejo, atraindo multidões. 

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Os discursos de Frei Manuel combinavam elementos religiosos, sociais e políticos com intensidade. Suas pregações eram caracterizadas por persuasões, atraindo um número crescente de seguidores profundamente impressionados por suas palavras, profecias e demonstrações físicas de pessoa consagrada, que alegavam ser imune a qualquer malefício.

Apesar de população esparsa no sertão Paranapanema, o número de seguidores impressionava e ultrapassava a mil e quinhentos fiéis, sem dúvidas inquietando as autoridades locais que o denunciaram ao poder central. 

O falso frei iniciou sua pregação na Fazenda do Ribeirão Grande, sem qualquer notícia documentada, até o momento, que suas prédicas o tenham acompanhado desde o Araquá, em Botucatu, quem sabe antes, no Paraná ou mesmo no Pará.

Frei Manuel:

"Este o rude missionário que ia levantar em massa a caipirada do Ribeirão Grande, da Água da Espraiada, da Água Suja e do Capim: fascinador sem dúvida que. conhecendo alguma vez a força dos seus olhos, se determinou em tomar partido, e grande partido daquela oculta força; fanático vulgar, talvez, que, com a mente solicitada em certo momento pela crendice e pela superstição dos matutos, rompeu diante deles como uma primeira figura obrigatória." (Silveira, op.cit). 

O progresso do místico foi rápido demais, já vinham gentes de outros rincões atraídos pelo sucesso do 'santo', em suas palestras abertas geralmente depois de entrar às virgens, num compartimento fechado, somente permitido aos iniciados, a ele só às jovens consagradas. 'Frei Manuel' rapidamente atraiu seguidores, separou famílias, recebeu doações dos fiéis e acumulou riquezas. No entanto, ele se envolveu com uma jovem comprometida, filha de um coronel influente, subestimando a percepção e inteligência dos sertanejos e as evidências da gravidez. 

Bruno Giovannetti disse que 'Frei Manuel' conquistava corações dos humildes, impressionava aqueles que o ouviam e quando alguém o encontrava nalguma caminhada dizia "Eu temo o Deus que passa!" (Esboço Histórico da Alta Sorocabana, 1943: 78). O mesmo Giovannetti mencionou tais ocorrências como preocupantes:

—"Os agricultores abandonavam os campos para seguir o Monge nas longas procissões. Ninguém cuidava mais em fazer plantações e, a vida, ficou profundamente perturbada. Roças sem queimar, terras sem plantar: o horizonte da zona Campos-novense apresentava sinais de tristeza e de fome. Foi um ano de crise espantosa. A lenda do fantástico homem ultrapassava os limites da antiga Vila de Campos Novos, e espalhava-se em Salto Grande, Platina, Conceição de Monte Alegre, até aos últimos moradores de Anhumas e Jaguaretê. Os fanáticos cresciam (...). A Fazenda Manoel José transformou-se numa verdadeira Meca" (1943: 79).

O frei em nada diferenciava dos homens que o seguiam, que procuravam imitá-lo em todos os detalhes, inclusive nas vestimentas e aparências físicas. Iniciava marcha, com verdadeiro séquito pós si, e: 

"Onde quer que resolvesse ficar, parava: os seus apóstolos [auxiliares], que nunca o largavam, transmitiam a resolução ao povo; o dono do rancho [sítio ou fazenda] recebia-o, quase sempre, com ar de felicidade de quem vê chegar o que mais almejava, e os seguidores se arranjavam pelas cercanias do rancho, mal-e-mal, até que Frei Manuel quisesse de novo abrir a marcha." (Silveira, op.cit).

Leia a parte I aqui 

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Sobre o blog/coluna
O casal de memorialistas Celso Prado e Junko Sato Prado dedica-se à história antiga santacruzense e regional. Com uma densa produção literária, Celso e Junko são responsáveis pelo resgate de episódios e personagens marcantes, além de trazerem à tona informações inéditas a partir de meticulosas pesquisas documentais.
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